Preciso confessar o que mais sinto falta quando longe da minha terra: a comida. Família e amigos gaúchos me desculpem! Podemos viver experiências incríveis juntos pelo mundo, porém, mesmo levando os ingredientes regionais comigo, nunca terá o mesmo sabor de comer no meu pago por conta de todas as sensações do ambiente ao redor. Para quem ficou curioso ou já aprecia a culinária gaúcha, deixo algumas comidas típicas do Rio Grande do Sul em texto, fotos e podcast.
O conceito serve para qualquer comida típica de qualquer lugar do mundo. Como mencionei em outros artigos, viajando percebi como provar a culinária típica de um local pode ser tão interessante quanto aquele passeio imperdível.
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Introdução histórica às comidas típicas do Rio Grande do Sul
Assim como no resto do Brasil, a origem da gastronomia é uma mistura de vários povos que influenciaram diretamente as comidas típicas do Rio Grande do Sul. Os indígenas viviam da terra e das águas quando os jesuítas trouxerem o gado que se multiplicou por não ter predadores. Os portugueses expulsaram os espanhóis, escravizaram os locais e transformaram o abundante gado selvagem em oportunidades de negócios. Entre as mais lucrativas no século XIX estava alimentar os escravos do mundo com charque. O que atraiu a primeira leva de imigrantes italianos, alemães e franceses, além dos africanos arrancados das suas famílias a força. Depois de algumas guerras, vieram os pomeranos, os libaneses e outra leva de europeus atrás das promessas de uma nova vida. No século passado chegaram os japoneses e mais recentemente haitianos, sírios e africanos.
1. Carne vermelha
A história acima explica a nossa adoração e o hábito comum aos mais antigos de considerar refeição somente se tiver carne vermelha. A partir da minha geração há mais aceitação da diversidade e consciência sustentável na rotina alimentar. Embora tudo se aproveite do animal desde sempre e não exista a necessidade desmatar ou queimar para criar um rebanho como acontece pelo resto do país. No RS, há campos de sobra que intercalam produção agrícola com pecuária de uma forma extensiva que acaba protegendo o bioma Pampa e fornecendo uma alimentação mais natural aos animais. Isso faz toda a diferença no sabor dos pratos e produtos derivados.
Os melhores cortes, no meu paladar, são costela e miúdos (rim, coração, linguiça artesanal e língua) de ovino ou bovino assados, mas a preferência geral são picanha e costela. Para opinião de um especialista em carnes, leia a entrevista com o cozinheiro Márcio Ávila no texto “A comida daqui”.
Além disso, escute o episódio do podcast Tesão de Ouvir sobre as comidas típicas do Rio Grande do Sul para entender como a pecuária pode ser sustentável. Também têm curiosidades culturais como servir cabeça de ovelha para as crianças e como deve ser um churrasco gaúcho.
2. Arroz carreteiro com charque ou sobra de churrasco
Hoje o arroz com carne e temperos é um prato nacional, mas teve origem no desenvolvimento do extremo sul do Brasil. Surgiu quando mercadores (carreteiros) atravessavam a região em carretas puxadas por bois e precisam de uma refeição prática que não estragasse rápido. Charque é a carne desidratada conservada por muito mais tempo por causa do sal grosso ao redor, tem gosto forte semelhante à carne de sol ou seca, mas o preparo é diferente. A carne bovina é desossada, cortada em mantas, coberta de sal e exposta em local ventilado por dias, com trocas frequentes de posição.
3. Vinho, espumante e licor
Atualmente o Rio Grande do Sul tem duas regiões opostas e famosas pela produção de bebidas: Serra Gaúcha e Campanha Gaúcha. O Vale dos Vinhedos é o mais conhecido, próximo a Rota dos Vinhos de Montanha ganha destaque pela qualidade dos espumantes enquanto as regiões Ferradura dos Vinhedos e Campanha emergem como os melhores vinhos impulsionados pelo paralelo 31 S. A mesma linha que passa nos principais terroirs dos vinhos do hemisfério sul como Chile, Argentina, África do Sul e Austrália. Os meus preferidos são os produzidos com as uvas Tannat (originais da França) e Gewurztraminer (originais da Alemanha) nas cidades de Candiota e Santana do Livramento. Já os licores são variados e espalhados. Geralmente, são feitos com laranja, uva, butiá e outras frutas locais.
4. Camarão
Entre o verão e o início do inverno (com variações), o mar invade as Laguna dos Patos e a Lagoa do Peixe deixando os camarões presos e os pescadores aproveitam quando a safra é farta e sustentável. Esta mistura da água doce com a salgada faz o crustáceo ser único, natural e não criado em cativeiro. As receitas são diversificadas e os mais frescos encontrados por toda Costa Doce, região que abriga as maiores lagoas do Brasil desde Porto Alegre até Mostardas margeando o litoral.
5. XIS
O sanduíche, com recheio farto e variado, é típico em todo Rio Grande do Sul. Porém, a fama dos mais saborosos vem de Pelotas, minha terra. O pão com hambúrguer, importado dos americanos, vira cheesburguer com queijo e daí abreviamos para XIS, mas antes mudamos completamente a receita trocando por carne de melhor qualidade, prensamos na chapa e incluímos os complementos: ovo, tomate, ervilha, milho, bacon, alface… e a criatividade é o limite nas combinações.
6. Tainha frita ou assada
O peixe pescado no mar ou nas lagoas durante o inverno é mais comum assado na taquara, mas as espinhas são perigosas. Portanto, prefiro semi cortado em tiras e frito com farinha e purê de batata para evitar acidentes.
7. Galeto
O franguinho assado servido em uma mesa farta com massas, polenta, saladas e linguiça ganhou fama na Serra Gaúcha, mas é comum em todo o estado. A origem é dos imigrantes italianos que preparavam passarinhos em dia de festa (passarinhada), então o frango substituiu quando a caça foi proibida.
8. Cuca
O pão doce artesanal é uma adaptação dos bolos feitos na Alemanha, conhecidos como kuchen. É maravilhosa para comer com nata caseira ou requeijão. Pode ser comum ou ter recheios variados como figo, banana, doce de leite, entre outros, mas sempre coberto com farofa doce.
As melhores provadas no estado, comprei em paradouros na estrada ou direto do produtor na região do Vale do Taquari ou caminho para a Serra Gaúcha.
9. Doces artesanais
Essas guloseimas são frequentes por aqui por causa dos famosos doces de Pelotas (o meu favorito é o Pastel de Santa Clara), mas a diversidade abusa dos frutos da estação. Os italianos trouxeram o sagu de vinho, ou suco de uva, com creme de baunilha (em casa preferimos mingau de aveia e merengue por cima), os alemães da serra nos apresentaram as chimias (geleia), mas na Campanha e Costa Doce preferimos as frutas cristalizadas, talhadas com leite ou preparadas no tacho (bacia de cobre). Entre elas mogango, marmelada, goiabada, figada e pessegada para comer de colher com leite.
À base de leite e ovo são vários como o arroz-doce (para mim arroz de leite) e a ambrosia, ambos trazidos pelos portugueses, mas de origens asiática e grega, respectivamente. Mesmo conhecidos em outras regiões, os melhores provei no Rio Grande do Sul quando cozidos com ovo caipira e leite ordenhado direto da vaca (bem gordo). O sabor é mais forte e a cor amarelo intenso. Escute histórias relacionados no podcast acima.
10. Feijão Preto
Embora a dobradinha arroz e feijão seja um prato nacional, no Rio Grande do Sul o preto prevalece no cardápio diário. As variações são raras e lembro de um amigo francês, que morou por um ano em Porto Alegre, reclamando muito dessa falta de criatividade. Eu ignorava e continuo dizendo é o alimento que mais faz falta quando viajo para fora do Brasil.
11. “Chimas”
A bebida típica dos gaúchos argentinos, uruguaios e chilenos também é consumida diariamente no Rio Grande do Sul. A origem do chimarrão (mate para os hermanos) vem dos indígenas que apresentaram o chá aos espanhóis na época da colonização. Esses perceberam o benefício da cafeína para curar a ressaca e começar o trabalho no campo de manhã cedo. Assim o vício se espalhou.
12. “Berga”
Por fim, nos meses de inverno é comum lagartear no sol comendo uma “berga”. Ou seja, relaxar ao ar livre, tomando sol e comendo bergamota (tangerina ou mexerica).
E você, o que mais gosta da culinária gaúcha? Responda nos comentários e complemente o artigo das comidas típicas do Rio Grande do Sul.
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4 Comments
Vamos lá.
Justiça seja feita!!!
Nada de Costa Doce!!
Camarão é na cidade do Rio Grande, o qual é reconhecido como um dos melhores do mundo, recebendo, inclusive, a denominação de “Padrão RG” (Por que seria?!!?!).
Quanto aos doces “de Pelotas”, também surgiram nessa cidade, e foram apropriados pelos pelotenses. Fato: nos ano 1950 a Confeitaria Sol de Ouro era nacionalmente conhecida.
Faltaram ainda como “comidas típicas” a anchova e o butiá.
“Berga” é coisa de porto-alegrense da Redenção, por favor!!!
Abraço
Por favor, comente mais sobre a anchova e o butiá…
O camarão chega até Pelotas e é pescado aqui sim, assim como acontece o mesmo na Lagoa do Peixe, portanto, é Costa Doce e não apenas Rio Grande.
Sou de Pelotas e sempre falei “Berga”, talvez não seja do seu vocabulário, mas é do meu.
Abraço
Muito boa matéria. Eu apenas faço uma ressalva sobre as cucas do Rio Grande do Sul. As cucas produzidas lá, com raras exceções, são muito distantes da tradicional cuca alemã. Em Santa Catarina, em cidades como Blumenau, Pomerode, Indaial, Joinville, Jaraguá do Sul e dezenas de outras é onde se produz a verdadeira cuca alemã, exatamente nos mesmos moldes que ainda ocorre na Alemanha.
Obrigada Anderson, ainda não provei melhores que as do RS, mas vou procurar na próxima ida a essas cidades e então escrever sobre as comidas de Santa que eu também adoro.