Minha melhor lembrança do tacacá foi em Manaus, já do caju foi colher a fruta no pé nas estradas do Tocantins. Mas encontrar a maior diversidade de frutas, peixes, crustáceos e farinha foi nos estados do Pará e do Amapá. Ambos compartilham praticamente a mesma gastronomia amazônica, refletindo a biodiversidade e a mistura de culturas presentes na região.
Além da herança indígena marajoara e dos povos da floresta, há forte influência africana e europeia na gastronomia amazônica. No Pará, pratos como vatapá e caruru chegaram da Bahia, mas foram adaptados aos ingredientes nativos. No Amapá, a presença de comunidades quilombolas e de tradições afro-brasileiras como o marabaixo trouxeram contribuições como a gengibirra.
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O que comer da gastronomia amazônica
O Açaí como protagonista

Ao contrário do resto do Brasil, onde o açaí é consumido como sobremesa adoçada e acompanhada de granola, no Norte ele é o acompanhante principal, servido com peixe e farinha de mandioca, sempre intercalando uma colher de um com uma garfada do outro. O gosto encorpado e levemente terroso é uma verdadeira descoberta para quem se aventura pela primeira vez.
A fruta fresca chega de barco diariamente nos principais mercados, o que também virou uma atração turística durante a madrugada, mas não tem hora, depende da maré. Provei com filhote, dourado e o meu preferido foi com camarão. Nos primeiros dias, incluía um pouco de açúcar e bastante tapioca, então fui me acostumando e consegui eliminar o doce. Saiba onde comer em cada capital:
Gastronomia amazônica em Belém:
- Experiência tradicional no Mercado Ver-o-Peso ou com mais conforto na Estação das Docas, ambos no bairro Campina.
- Almocei um prato econômico com camarão no Açaí Espetos e Cia, na Av. Rômulo Maiorana, 2553, bairro Marco.
- Provei o café e o vinho de açaí em um fim de tarde no Ver-o-Pesinho Casa & Café, na Tv. Benjamin Constant, 1793, no bairro Nazaré.
- A receita mais típica foi no restaurante Terraço da Ilha, um dos estabelecimentos da Ilha do Combú.
No Macapá:
- Nos restaurantes do Mercado Central de Macapá, na rua Cândido Mendes, em frente a Fortaleza. Mas deve ir cedo ou na hora do almoço.
- Nos quiosques da Rampa do Açaí, na AV. Beira Rio.
- Melhor atendimento na Açaiteria Vovôko, no Bioparque da Amazônia.

Obs. Evito fritura, mas com açaí fica esquisito de outro jeito, pior ainda cozido.
Frutas regionais e chopp
Cupuaçu, taperebá, bacuri, muruci, carimbó, uxi e araçá são apenas alguns dos nomes diferentes ouvidos por lá, muitas delas transformadas em sorvetes artesanais, sucos naturais e chopp. Só não confunda a bebida alcoólica com o “sacolé” vendido em caixas de isopor pelas ruas. Prove o máximo que puder e repita as melhores ao seu paladar, afinal, são difíceis de encontrar em outras regiões, com sorte pode achar a polpa na sua cidade. Para o meu gosto pessoal, a mais saborosa é taperebá (mesmo cajá do Nordeste), a mais refrescante é o cupuaçu e o mais nutritivo é o açaí.
Jambu: da cachaça ao tacacá
Iguaria presente em várias receitas, como o Arroz de Jambu e o Caldo de Tucupi com Camarões Secos, além de cachaças, mas preferi bem mais na culinária do que na bebida. Jambu é uma folha com propriedades para deixar os lábios dormentes, dando uma sensação de formigamento na boca.
Tucupi
Vendido em garrafas pet nos mercados, o tucupi é um molho extraído da raiz da mandioca-brava ao ser descascada, ralada e espremida. Precisa cozinhar e fermentar por dias para eliminar o veneno. Então é utilizado como base em vários pratos típicos, como o Pato no Tucupi e o Tacacá.
Tacacá
O tradicional caldo amazônico, de origem indígena, com camarão seco, tucupi, goma de mandioca e jambu, servido bem quente em cuia. Para não passar vergonha, não peça colher e use o palito fornecido para fisgar os ingredientes sólidos, intercalando beber o líquido direto da cumbuca.
Onde comer em Belém: após experimentar vários, o melhor foi o do Soprano Restô, na Estação das Docas.

Maniçoba
Conhecida como feijoada paraense, a maniçoba é feita com as folhas trituradas da mandioca (maniva) e cozidas por dias para eliminar as toxinas. Somente após esse processo, acrescenta carnes salgadas e defumadas. Sempre acompanhado de arroz e farinha de mandioca.
Onde comer em Belém: o melhor foi na Casa de Elna na Amazônia Restaurante, na Av. Nª Sra. de Nazaré, 649, bairro Nazaré. Tem a opção de rodízio para experimentar todos os pratos típicos ou pedir só o que mais gosta. Fui jantar e saí rolando.
As farinhas de mandioca e de tapioca na gastronomia amazônica
Fina ou grossa, branca, bege ou amarela, elas encantam mais pela variedade e cores do que pelo sabor. Ao menos ao meu paladar, coloco só um pouco para engrossar e basta. Mas farinha é indispensável e amada pelos nortistas. Tapioca é outra farinha típica diferente por ser como flocos de isopor, vale pela textura, principalmente no açaí. Eles colocam até no café com leite.
Os frutos do rio: peixes e camarões
Os peixes amazônicos surpreendem pela carne suculenta, como do filhote, tambaqui, surubi, pirarucu e as pescadas amarela ou dourada. Facilmente encontrados desde as feiras aos restaurantes mais renomados.

O que tem de bom em Belém do Pará e Marajó
Não foi só porque passei mais tempo em Belém que a maioria dos estabelecimentos recomendados nesse texto é de lá. Em 2021, a capital foi reconhecida pela UNESCO como Cidade Criativa da Gastronomia, reforçando a visibilidade internacional da cozinha paraense. Agora vou destacar ingredientes e experiências exclusivas por lá.
Mercado Ver-o-Peso e alternativas
Sentei na praça de alimentação provisória do famoso mercado (em obras para a COP30) e pedi o tradicional peixe com açaí como a primeira experiência gastronômica dessa viagem. Então descobri haver variações e consegui pedir do pior jeito possível. Fiz uma cara tão esquisita ao provar que alguns paraenses sentaram na minha mesa afirmando: você é turista! E dizendo como eu deveria pedir e comer o açaí. Ao ponto de a garçonete ver a movimentação e tomar uma atitude: jogou tapioca e açúcar na minha tigela de açaí, mexeu e mandou eu provar. Melhorou e todos demos muitas risadas.
Aproveite a estada para degustar comidas típicas, tomar um suco e conversar com os locais. Afinal, o melhor de Belém são os moradores, gente simples e hospitaleira que adora puxar conversa.

Se achar muito quente e não se agradar dos cheiros ou dos urubus, tem uma alternativa muito mais organizada: Ver-o-Pesinho Casa & Café, no bairro Nazaré. Gourmetizaram o mercado tradicional e inflacionaram os preços. Porém, vale pelo ar-condicionado, atendimento e cardápio criativo. Provei vinho e café de açaí, mas só recomendo a bebida alcoólica.
Se faz questão de vista para o rio sem o lado desagradável, caminhe uns 10 minutos até o complexo gastronômico Estação das Docas, na Av. Mal. Hermes, 10 minutos de caminhada dali. Também tem ar-condicionado e banheiros limpos mesmo para quem não consome.
Sorvete de frutas da Amazônia entre os melhores do mundo
Nos últimos dois anos, a Sorveteria Cairu apareceu na lista dos melhores sorvetes do mundo do ranking TasteAtlas. O sabor “carimbó”, produzido a partir de uma mistura entre o doce de cupuaçu e a castanha-do-Pará entrou na lista em 2024 na 36ª posição e o de açaí ficou em 39º lugar em 2023.

Onde provar: são vários pontos espalhados por Belém e devo ter comprado um por dia.
Cacau da Amazônia
O Brasil é um dos maiores exportadores de cacau do mundo e os de melhor qualidade vêm justamente do bioma Amazônia, sendo o Pará o maior produtor do país. A ilha localizada em frente a Belém é conhecida pela produção do fruto e de experiências gastronômicas relacionadas. Há opções para café da manhã, visita à plantação de cacau, ao processo de fabricação do chocolate artesanal e trilha interpretativa na floresta. Na cafeteria da Dona Nena é possível encontrar barras de chocolate 100% cacau, cacau em pó, brigadeiros, entre outros produtos feitos com o cacau orgânico plantado no local. É um dos poucos lugares em Belém onde realmente há opções veganas no cardápio.
Onde: Filha do Combu, no Igarapé do Combu ou na loja do centro.
Castanhas
A famosa Castanha do Pará deve ser provada ao natural, de preferência descascada na hora. Além da castanha de caju em versões variadas, como caramelizada e com açaí, compradas em abundância para comer diariamente e trazer para casa.
Onde comprar e degustar: Mercado Ver-o-Peso, no Blvd. Castilhos França, bairro Campina.
Vatapá Paraense e o Caruru
São as versões nortistas da culinária de inspiração africana famosa no nordeste. Diferem pelos ingredientes regionais como tucupi e jambu. O Vatapá Paraense é feito com um creme à base de camarão, farinha de trigo, leite de coco, azeite de dendê, chicória, tempero verde e sal. Camarões podem enfeitar.
Enquanto o Caruru é servido com pirão, misturando farinha, quiabo, camarões secos, temperos verdes e azeite de dendê. Acompanhado de arroz, farinha e pode ter tucupi.
Onde comer em Belém: adorei a opção degustação (foto destaque) do restaurante Açaí Gourmet, localizado na Estação das Docas. Ótimo para definir qual o seu prato preferido.
Tomaz Culinária do Pará é uma rede com vários estabelecimentos pela capital. Para economizar, peça o prato promocional, que varia conforme o dia da semana, mas é sempre o mesmo e pode se programar pelo cardápio.
Comida de rua em Belém
Vi muitas pessoas comendo em bancos de plástico na calçada, mas não era lanche, era uma refeição completa, com a maioria dos pratos mencionados nesse artigo expostos em potes de vidro. Eu até provaria pelo cardápio e preços convidativos, porém, ficar naquele calorão comendo na rua foi demais para mim. Vale a pena pagar a mais para desfrutar da comida típica em um local climatizado.
Por outro lado, os sucos, água de coco, frutas e castanhas, esses, comprava toda hora em qualquer carrocinha ou quiosque.
Carne de búfalo e queijo de búfala
Evito comer carne vermelha fora do sul do Brasil, mas vale a pena experimentar os produtos derivados do búfalo que viraram ícones do Marajó. Contei os detalhes no texto sobre a ilha.
Caranguejo
Facilmente encontrado em mercados, especialmente vindos dos mangues de Soure, no Marajó, tem sabor diferenciado pela mistura de águas doces e salgadas. Caldeiradas, sopas, risotos e entradas estão entre os pratos preparados com esse crustáceo.
Onde comer: jantei sopa no Empório Amazônico, na Tv. Alferes Costa, 2695, no bairro Marco. Pedi a Pata de Caranguejo na lanchonete da hidroviária de Belém e estava ótima. Mas o melhor mesmo foi inteiro de quebrar com martelo no Hotel Marajó, em Soure.
Comida típica do Amapá
Além de valorizar os ingredientes da gastronomia amazônica mencionados, algumas comidas típicas se destacam, como o Camarão no Bafo. O prato, exaltado com orgulho como criação de Macapá, não é muito diferente dos camarões das águas doces do sul do Brasil, como os servidos em Florianópolis ou na Costa Doce. Desculpe, macapaenses, mas é verdade.

Pirarucu de Casaca
Lascas de pirarucu (um dos maiores peixes de água doce do mundo) combinadas com farinha de mandioca, banana frita, leite de coco, azeite de dendê e pode ter camarão.
Onde comer: Restaurante Panelinha Restô, na rua Eliezer Levy, 2371.

Pato no Tucupi
É um preparado de carne de pato com tucupi e jambu, servido com arroz e farinha d’água. Encontrado nos dois estados, mas provei em Macapá.

Onde comer: Restaurante Capytu, rua André de Oliveira Costa, 771.
Peixes frescos
Pescados no rio Amazonas ou na sua foz encontrados no Mercado Central de Macapá. E porque não um sushi com peixes regionais? Gostei do Sakay Sushi, na rua Jovino Dinoá, 1750.

Abacaxi temperado
O abacaxi do norte tem um sabor diferenciado e no Amapá tem até Indicação Geográfica para a cidade de Porto Grande. É a primeira IG do Amapá. Mas não precisa ir até lá para provar, são facilmente encontrados em Macapá.

Onde comer: em um dos quiosques da Praça do Coco, sentado em frente ao rio Amazonas.
Gengibirra
Bebida fermentada à base de gengibre, açúcar e cachaça, típica das rodas de marabaixo (uma manifestação cultural local). É servida especialmente em eventos culturais, ilustrando como os ingredientes trazidos por africanos se incorporaram aos costumes regionais.
Por fim, a culinária do norte do Brasil é, em essência, uma fusão de saberes indígena, africano e europeu, resultando em pratos únicos que refletem a história, cultura e tradições de seu povo. Agora me conta, qual o seu prato preferido?
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