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Pinto Bandeira, um dos municípios mais jovens do Brasil vale a visita


De vinícola tradicional, onde é possível se hospedar, ao restaurante no conceito slow food surpresa. Conheça a história da imigração italiana no Rio Grande do Sul e saiba onde comer bem em Pinto Bandeira.

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Pinto Bandeira

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O município de Pinto Bandeira, na Serra gaúcha, fica localizado a 138 km de distância de Porto Alegre e de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018) a pacata cidade possui 2.968 habitantes. Antigo distrito de Bento Gonçalves, Pinto Bandeira foi emancipado em 2013 e é considerado um dos municípios mais “jovens” do Brasil. Apesar de pequenina, a cidade é conhecida pela exuberância das paisagens naturais, com belas cascatas, oferecendo aos turistas experiências únicas pela Rota Romântica da Serra Gaúcha. Também vale destacar que o município detém o título de Capital Brasileira do Pêssego, fruta cultivada em toda a região assim como a uva.

No total, são 1.160 hectares de pêssegos plantados nas 450 propriedades de famílias, maioria descendente de italianos, que abrangem o local. Para se ter uma ideia da dimensão, são 18 milhões de kg colhidos da fruta em uma safra. 

Fabiano de Bortoli é produtor de pêssegos em Pinto Bandeira
Fabiano de Bortoli é produtor de pêssegos em Pinto Bandeira na Serra Gaúcha

De Silva Pinto a Pinto Bandeira

Foi em Pinto Bandeira, em 1876, que chegaram as primeiras famílias de italianos. Na região, os imigrantes então construíram suas casas e começaram a trabalhar na agricultura. Até 5 de maio de 1902, a localidade chamava-se Silva Pinto e posteriormente foi alterado para Nova Pompeia até 1938 em homenagem à cidade italiana Pompéia. No mesmo ano, o nome teve de mudar novamente às vésperas da II Guerra Mundial, pois havia sido proibido a utilização do idioma italiano no Brasil, passando então a ser nomeado como Pinto Bandeira em homenagem a Rafael Pinto Bandeira, importante militar do Rio Grande do Sul naquela época.

O “cartão postal” do município dos pêssegos e espumantes é o Santuário de Nossa Senhora do Rosário localizado bem em frente a praça da Matriz, no centro da cidade. A igreja foi construída em maio de 1902 pelos imigrantes italianos que ali se instalaram. A obra foi idealizada pelo Padre Luiz Segale. Bem conservada, a catedral possui no seu interior o quadro de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, trazido da Itália em 1897. Já ao lado da igreja, em outubro de 2013 foi construída uma Sala de Promessas. No local, muitos devotos expressam, de maneira singela, suas gratidões pelos pedidos alcançados.

Festa do Pêssego

Nos dias 10, 11 e 12 de janeiro deste ano, Pinto Bandeira recebeu cerca de 30 mil visitantes que vieram prestigiar a 5ª edição da Festa do Pêssego. A expectativa, segundo a Prefeitura era atender cerca de 6 mil turistas, no entanto, a popularidade do evento fez com que a circulação de pessoas fosse 5 vezes maior do que o esperado. O evento teve exposição de produtores locais, shows e várias atrações gastronômicas e culturais.

Pousada e Vinícola Don Giovanni na época da colheita da uva 

Para quem busca uma experiência autêntica da Vindima (a colheita da uva), se hospedar em uma vinícola com pousada fora dos roteiros turísticos mais populares é uma imersão diferenciada. Sugiro a Pousada Don Giovanni.

Situada a uma altitude de 720 metros, o casarão construído em 1930 conta ainda com um rústico restaurante localizado no porão, vinhedos e uma vinícola. A pousada oferece 7 quartos para hospedagem, todos com banheiro, além de uma cabana a uns 100 metros da residência, em meio aos vinhedos. Vale destacar que todos os dormitórios têm afrescos nas paredes, pintados por artistas gaúchos e um uruguaio. As pinturas envolvem a temática ligada a viticultura. Dentro do casarão, o que mais chama atenção é a decoração, que remete momentaneamente o hóspede ao passado. Ao visitar a pousada me lembrei um pouco da casa dos meus avós, com aqueles móveis antigos e o aroma de pão caseiro espalhado pelo ar.

 Todos os quartos têm afrescos nas paredes, pintados por artistas do RS e Uruguai
Todos os quartos têm afrescos nas paredes, pintados por artistas do RS e Uruguai

Todos os móveis da pousada são antigos e de madeira. Há muitos objetos de época espalhados pela casa, inclusive nas paredes de pedra do restaurante, que vão desde quadros da família, ferros de passar à brasa, rádios antigos, coleções de garrafas de vinhos e espumantes, entre outros utensílios domésticos do século XX. Ao subir as escadas em direção ao segundo piso, pode-se observar a coleção de frascos de perfumes importados de marcas famosas todos agrupados em prateleiras.  O acervo pertence à proprietária da pousada Beatriz Dreher Giovanni, carinhosamente chamada por Dona Bita, amante das artes, perfumes e vinhos.

Casarão foi construído em 1930 e oferece sete quartos para hospedagem
Casarão foi construído em 1930 e oferece sete quartos para hospedagem

Dos janelões do casarão é possível apreciar uma bela vista das pequenas propriedades rurais, dos vinhedos e da mata nativa que compõem o território. Durante o alvorecer é provável que você veja um bando de pavões circulando em volta pousada. Papagaios, tucanos, canarinhos da terra e preás (roedor, parecido com um rato grande) podem ser avistados com frequência em meio a natureza. O silêncio na região é absoluto e ideal para pessoas que pretendem se desligar do ruído do mundo por alguns dias ou quem sabe até semanas.

A pousada Don Giovanni oferece ainda um saboroso café da manhã, wi-fi na área social além de uma piscina para se refrescar durante os dias quentes de primavera e verão. Já no inverno, a dica é aproveitar a sala de estar em frente a lareira com uma boa taça de vinho ou espumante local.

O viticultor Tarcísio na colheita das uvas Chardonnay em Pinto Bandeira
O viticultor Tarcísio na colheita das uvas Chardonnay em Pinto Bandeira

Sobre os vinhedos

De acordo com o diretor do complexo enogastronômico da Don Giovanni, Daniel Panizzi, entre os diferenciais da propriedade está o manejo biodinâmico, buscando o equilíbrio do ecossistema.

“Este projeto, focado na sustentabilidade, teve início há 5 anos. Nos primeiros anos eliminamos o uso de herbicida e fertilizantes químicos no cultivo de nossas uvas. Semeamos trevo-branco, aveia, ervilhaca para impedir o crescimento de ervas daninhas. Através da própria natureza suprimos a deficiência do solo”, explicou o diretor.

Ao todo são 17 hectares de vinhedos onde são cultivadas diferentes variedades de uvas como Chardonnay, Pinot Noir, Merlot e Cabernet Franc. Outra curiosidade é que em torno das videiras há plantações de girassóis. Essas flores, segundo Daniel Panizzi evitam que os pássaros venham comer as uvas. “Oferecemos para as aves uma proteína mais atrativa e ao invés de atacar a uva, elas comem as sementes dos girassóis”, complementou.

 Parreirais de uvas Chardonnay, ideal para a produção de espumantes em Pinto Bandeira
Parreirais de uvas Chardonnay, ideal para a produção de espumantes

Passeio de Jipe

Quem opta pela hospedagem na pousada tem a oportunidade, mediante a agendamento, de fazer um passeio de jipe entre os 17 hectares de videiras. Em meio às plantações, com os girassóis, há um mirante onde pode-se prestigiar o pôr do sol e saborear um bom espumante.

Passeio de Jipe entre os girassóis e vinhedos é uma das principais atracões da pousada Don Giovanni
Passeio de Jipe entre os girassóis e vinhedos é uma das principais atracões da pousada Don Giovanni

Restaurante aberto ao público

No porão da pousada, o restaurante atende grupos mediante a reservas, servindo cardápios harmonizados. Na noite em que estive lá acabei experimentando um spaghetti caseiro com molho pesto e filé mignon ao molho madeira. De sobremesa, uma cassata com figo rami e calda de espumante. Se não tiver o jantar harmonizado, pode pedir esse prato. Garanto que é delicioso.

Pousada e Vinícola Don Giovanni
Telefone: (54) 3455-6294
e-mail: pousada@dongiovanni.com.br

Onde comer em Pinto Bandeira

Além do restaurante Don Giovanni, outra dica gastronômica que vale a pena experimentar é o Colheita Butique Sazonal, que fica no centro da cidade. O local é pequeno, porém muito acolhedor e apresenta um conceito bem diferente do tradicional. Os proprietários são membros do Convivium Slow Food Primeira Colônia, ou seja, aplicam em todos os processos do restaurante a filosofia do alimento bom, justo e limpo.

O restaurante não tem cardápio, tão pouco as comidas são expostas. É tudo surpresa, um “suspense” total. São servidos ao cliente 8 pratos compostos por 4 entradas, 2 pratos principais, uma pré-sobremesa e por fim, a sobremesa.

O estabelecimento, segundo a proprietária Ana Taise Gonçalves, trabalha com menus sazonais, ou seja, o cardápio vai mudando conforme as estações do ano e respeita o tempo de plantio e de colheita de cada alimento. A maioria dos ingredientes usados na cozinha e manuseados pelo seu companheiro, o Chef Giordano Tarso, são de produção própria ou de outros pequenos produtores da região. Confesso que comer nesse restaurante foi uma experiência incrível e sinceramente não tinha visto nada igual.

Um ''não menu'' é apresentado aos clientes
Um ”não menu” é apresentado aos clientes
Ana e Giordano são proprietários do Colheita Butique Sazonal

Experiência no Colheita Butique Sazonal

Após o cliente entrar no estabelecimento, o mesmo é recebido pela proprietária Ana Taise que explica como funciona o serviço. Sobre a mesa, uma jarra de água mineral natural vinda de uma fonte nas proximidades da casa é servida ao consumidor. Não há venda de refrigerantes, somente de vinhos e espumantes produzidos na região. Minutos depois é apresentado ao cliente a primeira entrada: fatias de pão integral de fermentação lenta (36h), curado de pato em tiras, mostarda de bergamota (tangerina) e picles de quiabo. Aconselha-se a provar um produto de cada vez antes de espalhar no pão para sentir o real sabor dos alimentos. Muito gostoso. Aprovado.

Fatias de pão integral, curado de pato em tiras, mostarda de bergamota e picles de quiabo
Fatias de pão integral, curado de pato em tiras, mostarda de bergamota e picles de quiabo

A segunda entrada foi um ceviche de gravlax de tilápia com amendoim e cebola crocante. Uma delícia. A terceira pré-refeição foi um “ban”, uma espécie de pãozinho chinês do “Kung Fu Panda” recheado com truta defumada e cenoura fermentada. Muito macio e saboroso. Já o quarto prato, ainda chamado de “entrada”: um pão de caçador com linguiça de coelho e vinagrete de hortelã. Nesta etapa, assumi que já estava satisfeito, no entanto, viria mais comida pela frente. Na hora em que a Ana colocou o prato sobre a mesa e descreveu a comida, honestamente pensei que não iria gostar por se tratar de linguiça de coelho, mas ao experimentar, ainda com um pouco de receio, acabei apreciando a especiaria.

 Ceviche de gravlax de tilápia com amendoim e cebola crocante
Ceviche de gravlax de tilápia com amendoim e cebola crocante

Prato principal

Depois de provar a aprovar as quatro entradas, todas deliciosas, é a vez de esperar o prato principal da casa. Na verdade, são dois menus e como disse no começo do texto, são todos “surpresa”. A quinta refeição vem servida numa cumbuca de barro, onde conserva o alimento bem quente. No seu interior, um tortelloni recheado com ricota e pedacinhos de nozes além de uma espuma de queijo. Para completar o almoço “slow food”, a sexta alimentação é composta por um delicioso cordeiro assado com purê de couve-flor e pesto com talos de cenoura e legumes refogados.

Tortelloni recheado
Tortelloni recheado
Cordeiro assado com purê de couve-flor e legumes refogados
Cordeiro assado com purê de couve-flor e legumes refogados
Pão de caçador com linguiça de coelho e vinagrete de hortelã
Pão de caçador com linguiça de coelho e vinagrete de hortelã

O digestivo e a sobremesa

Um pequeno “shot’” de Gaspattio de frutas vermelhas (tomate, amora, morango, mirtilo, conhaque e pimenta). Esta bebida serve para “limpar o paladar” e fazer a tal transição do salgado para o doce, explicou a sommelier e atendente Ana. A bebida é ácida e faz com que o cliente salive bastante, ativando as papilas gustativas para a próxima etapa, que é a sobremesa. Nunca havia experimentado essa bebida antes e realmente “quebrou” aquele gosto do salgado anterior.

Ana Taise  apresenta o Gaspattio de frutas vermelhas
Ana Taise apresenta o Gaspattio de frutas vermelhas

Um bolo de chocolate (100%) cacau e sem farinha de trigo, coberto com culi de morango (uma espécie de geleia), especiarias de laranjas e amêndoas. Realmente uma delícia e a apresentação do prato é lindíssima, assim como os servidos anteriormente.

Bolo de chocolate (100%) cacau coberto com culi de morango
Bolo de chocolate (100%) cacau coberto com culi de morango
Mesa posta e servida com elegância
Mesa posta e servida com elegância

Restaurante Colheita Butique Sazonal
Onde: Rua Sete de Setembro, 1471
Telefone: (54) 98126-8293

O restaurante atende somente por reservas antecipadas e a capacidade de atendimento é de 25 pessoas por dia, pois o estabelecimento é pequeno, no entanto, muito acolhedor. Pessoas vegetarianas e veganas também são bem-vindas ao local, basta avisar e marcar a reserva. Intolerantes a glúten ou alérgicos a algum alimento devem comunicar o chef.

As experiências gastronômicas e hospedagem foram cortesia.

Tome Nota: Pinto Bandeira

Como chegar a Pinto Bandeira: partindo de Porto Alegre são 138 km até o município pela ERS-122. O tempo estimado de viagem de carro é de 2h20min e quem não tem carro, pode alugar no nosso parceiro RentCars. Já de ônibus é necessário comprar uma passagem até a cidade de Bento Gonçalves e na rodoviária local adquirir outro bilhete para Pinto Bandeira. O tempo de viagem entre as duas cidades é de 40 minutos.

Compras: a cidade oferece uma variedade de estabelecimentos que vendem vinhos e espumantes todos da região. Se estiver na dúvida em qual bebida comprar, pode passar na casa Espumantes do Sul. No local há uma variedade de bebidas com preços acessíveis. Endereço: rua Sete de Setembro, 250.

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Luciano Nagel

Jornalista, gaúcho, trabalhou nas Rádios Guaíba, Bandeirantes e CBN/Globo no Rio de Janeiro. Atuou como correspondente freelancer para O Estado de São Paulo (Estadão) em Porto Alegre. Atualmente colabora com reportagens para o Jornal Folha de São Paulo, portal de notícias UOL, Deutsche Welle, emissora internacional de jornalismo da Alemanha, e seu site Nagel na Estrada. Foi bolsista da Heinz-Kühn-Stiftung, na Alemanha, em 2009. Viveu na Inglaterra, Portugal e Alemanha. Colaborador do Territórios, Nagel é apaixonado por viagens, gastronomia e diferentes culturas. | Siga no Instagram | Twitter

2 Comments

  1. Carlos Glycério Reply

    Parabéns pela rica e interessante matéria! Eu gostaria de tê-la em meus arquivos mas não sei como salvar. Se puder, favor enviar para o meu e-mail. Muito obrigado!

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