DICAS AOS VIAJANTES

As dores de uma trilha longa


Monte Roraima (2012), junto com Salkantay (2006), foram as trilhas mais difíceis que já percorri. Não sei dizer se o caminho Inca foi a minha primeira grande travessia e eu estava despreparada ou se foi a altitude o fator complicador. Sei que no Roraima usei roupas e equipamentos adequados, tinha experiência nesse tipo de trekking, a altitude não era problema e, mesmo assim, ainda não sei classificar qual exigiu mais.

Confesso que faltou meses de preparo físico específico como fiz em outras aventuras, mas essa viagem foi decidida três dias antes, uma oportunidade que não quis deixar para depois.

Avistando o objetivo no primeiro dia
Avistando o objetivo no primeiro dia

Como eu me preparo para uma trilha longa

Mata fechada e subida pesada no terceiro dia
Mata fechada e subida pesada no terceiro dia

Como rotina, procuro caminhar bastante na cidade e fazer trilha longa uma vez por mês. Dias antes tinha passado por atividades intensas nos Aparados da Serra, também feito aulas de dança a alongamento. Entretanto, no terceiro dia do Monte Roraima comecei a sentir falta de ter fortalecido a musculatura dos braços e treinado resistência física, principalmente nas pernas.

Foi difícil levantar no quarto dia com dores no quadril e coxas. Mais ainda nos dias seguintes sentindo os glúteos e panturrilhas, pelo menos passa logo que o corpo esquenta. Carreguei apenas 5 kg, os outros 10 kg paguei um índio para levar, justamente por ter certeza que não tinha estrutura para isso. Se eu tivesse preparado os músculos das costas e abdômen antes, teria carregado tudo. Por outro lado, foi bom aproveitar a caminhada observando os detalhes ao redor, carregando todo esse  peso seria uma travessia de superação pessoal ao invés de contemplação.

Atravessando o rio Kukenán
Tem que atravessar dois rios

Chegar ao topo do Monte Roraima é uma conquista, precisa passar por algumas provas onde as regras e dificuldades são definidas na hora e mudam para cada pessoa. Um ano antes Leandro fez essa mesma viagem e escreveu relatos bem diferentes dos meus. Por isso, ajuste a mente, esqueça o conforto e prepare o corpo para caminhar 90 km em 6 dias subindo e descendo quase 2 mil metros de altura.

Índios carregadores nos acompanham no início, eles são muito rápidos - segundo dia
Índios carregadores nos acompanham no início, eles são muito rápidos – segundo dia

A resposta do meu corpo

Usamos bastante os braços como apoio
Usamos bastante os braços como apoio

Cheguei a Boa Vista às 2h da madrugada e às 5h parti com a expedição. Comecei dormindo pouco e já pegando 214 km até Pacaraima (fronteira com a Venezuela) mais 2 horas de estrada de terra até Paratepuy. Partimos dos 1000 metros de altitude com muito calor, o sol do início da tarde só deu uma trégua depois de uma pesada subida precedida de uma ventania. Neste instante enxergamos a face da montanha completa e visualizamos a meta do dia. Esta só foi alcançada de noite.

Os dois primeiros dias foram sem dores, porém cansativos devido à alta temperatura e a sensação de caminhar horas sem sair do lugar. Assim é a savana, terreno plano, vegetação rasteira e a montanha se aproximando lentamente. O segundo dia teve mais aclive, mas é no terceiro que sentimos o impacto de encarar o paredão. Foram cerca de 600 metros de escalaminhada (caminhar de quatro em terreno muito inclinado e irregular) mais 300 metros de subida íngreme em apenas 4 horas. E no final desse trajeto veio a chuva encharcando o chão e complicando o caminho. Justo no trecho mais difícil de todos – o Passo das Lágrimas.

Terreno acidentado e cheio de limo no topo
Terreno acidentado e cheio de limo no topo

O quarto e parte do quinto dia acontecem no terreno acidentado do topo. Haja perna no sobe e desce das pedras e haja braço para aguentar o peso do corpo ultrapassando as rochas maiores ou sendo arremessada pelo guia. Foram mais de 24 km explorando a parte superior do platô. E as pernas precisam estar fortes para a decida do quinto dia! A distância percorrida para subir em 2 dias é a mesma para descer em 1 dia. A partir desse momento escorregar é uma questão de tempo. Perdi a conta das vezes que despenquei nos cascalhos por estar cansada. Ainda bem que amolecia o corpo e não machucava.

Márcia carregou 15 kg e aguentou bem todo o trajeto da trilha longa - no sexto dia
Márcia carregou 15 kg e aguentou bem todo o trajeto – no sexto dia

O último dia é igual ao primeiro, diferente pela vontade de caminhar de costas vendo a montanha ficando para trás. Banhe-se nos rios o máximo que aguentar o frio. Alivia os músculos e renova as energias. Eu não tive coragem de entrar nas águas do topo, mas todos que fizeram recomendam.

Tome Nota: trilha longa

Quem leva: Roraima Adventures é uma agência de Boa Vista com guias brasileiros. Cuidam do transporte, alimentação, montam e desmontam as barracas, preparam as refeições, indicam índios carregadores e alugam alguns equipamentos. Nós só precisamos caminhar.

O que levar: Botas e roupas impermeáveis, óculos, chapéu, roupas de frio, protetor solar, lanterna, capa de chuva, repelente, saco de dormir, isolante térmico, saco estanque, bastão, papel higiênico, lencinhos umedecidos, sapato seco e confortável para os acampamentos, RG ou passaporte e comprovante da vacina de febre amarela. Ainda vou escrever um post detalhado sobre equipamentos. Leia o post sobre os equipamentos que levei nesta viagem. 

Passamos por baixa da cachoeira Passo das Lágrimas. O pontinho laranja no meio da foto é uma pessoa
Passamos por baixa da cachoeira Passo das Lágrimas. O pontinho laranja no meio da foto é uma pessoa

Mais textos sobre a expedição Monte Roraima:

Trilhas no mundo perdido

Dicas para subir o Monte Roraima

Um monte de surpresas

O dia a dia da expedição

Gostou da informação e quer ver mais? Então, acesse o Google Notícias, selecione a opção “✩ Seguir” e não perca mais nenhuma novidade do Territórios no seu celular!

© Todos os direitos reservados. Fotos e relato 100% originais.

Para quem chegou até aqui, agradecemos por valorizar o nosso conteúdo. Diferente das grandes corporações de mídia, Territórios é independente e se financia por meio da sua própria comunidade de leitores e ouvintes. Você pode apoiar o nosso trabalho de diversas formas como:

1. Aproveitar os benefícios do financiamento coletivo

2. Levar nossos guias de viagem no celular

3. Contratar produtos e serviços recomendados através dos links nos artigos. Exemplos e como fazer: alugar veículos, reservar hospedagem e excursões, comprar seguro, dados de internet e moeda estrangeira, entre outros. A venda nos gera uma comissão sem aumentar o valor final, inclusive, repassamos os descontos para você.

A informação foi útil? Talvez queira apoiar e fazer parte da comunidade Territórios!

Compartilhe ideias e converse com outros leitores no grupo no Facebook ou acompanhe no Spotify e grupo de avisos do Whats App.

Você está em INICIAL » VENEZUELA » MONTE RORAIMA » As dores de uma trilha longa
Roberta Martins

Comunicadora, idealizadora deste site, fotógrafa e guia de turismo. Há 16 anos relata suas experiências de viagem focando em cultura e aventura. Saiba mais na página da autora. Encontre no Instagram

9 Comments

  1. Maria Inês Ribeiro De Souza Vargas Reply

    Mesmo com as dores deve ter sido muito interessante !! O que vc teria feito de diferente, a não ser mais exercícios físicos ?? O que faltou levar de equipamentos ou de comidas ?? Qt vc pagou ao índio p carregar sua mochila ??

    • Roberta Martins Reply

      Foi incrível Maria Inês e toda a aventura está detalhada em 90 páginas no guia T Monte Roraima que pode ser baixado grátis https://territorios.com.br/app/

      Acho que só exercícios físicos teria eliminado as dores, já fiz outras trilhas longas com preparo físico correto e por isso não considero as mais difíceis. Não faltou levar nada, o que precisei o pessoal da expedição tinha. Em 2012 paguei pouco mais de cem reais, agora e com a fama deve estar mais caro.

  2. Josué Pereira Reply

    Boa noite, Roberta.

    Sou geógrafo. Me diga, prezada: qual a melhor época para visitar o MR?

  3. Olá Sandra
    Paguei cento e poucos reais por dia com a Roraima Adventures. Estava incluso a alimentação do carregador. É caro, mas justo, pois o dinheiro vai todo para os índigenas.

  4. Olá, Roberta!
    Estou indo para o Monte Roraima em dezembro! Quanto você pagou para o carregador?Não consegui ter uma ideia boa sobre isso :/
    Obrigada!

  5. Iraildes Mascarenhas Reply

    Uma trilha de muita coragem pelo tempo de caminhada. E os lugares não são tão deslumbrantes para tal sacrifício. Gosto muito de aventuras, já fiz algumas pela Chapada Diamantina e as maiores foi o Morro do Pai Inácio e a Cachoeira da Fumaça. É gratificante quando a gente chega ao todo, mas acho o pior é o retorno!

Write A Comment