Pode soar estranho, logo eu que já subi algumas montanhas com mais de 3 mil metros de altura, confessar que sofro o tal soroche. Mas é verdade e motivo de tomar algumas precauções antes e durante a viagem. Afinal a vontade de subir no topo e ver o mundo de cima é mais forte que o incômodo.
Já segue @territorios no Instagram?
O que é soroche?
Soroche é a palavra usada no Peru para o mal de altura ou mal de altitude ou mal da montanha, como preferem os atletas. Todas representam a sensação de mal-estar de quem vive, ou passa um tempo, próximo ao nível do mar e viaja para um lugar alto. Especificamente, a partir dos 2.800 metros de altura no meu caso, para outros pode ser 2.200. As reações mudam de pessoa pra pessoa e o único jeito de descobrir se sofre deste mal é viajar para lugares altos.
Informe-se sobre mal de altura desde o planejamento
A primeira vez que busquei informações sobre o mal de altura foi planejando a viagem ao Peru. Com a maioria dos relatos desanimadores, decidi consultar um médico para saber o que fazer e se eu tinha condições físicas pra isso. O objetivo era fazer a trilha Inca, isto exigia esforço, fôlego e resistência que eu não sabia se teria a mais de 4 mil metros de altura. Pensei em um clinico geral, mas uma amiga sugeriu um homeopata porque ouviu falar de uma fórmula manipulada pra isso. Assim fiz e o primeiro desafio foi vencido perfeitamente com uso de homeopatia, no máximo senti uma leve pressão na cabeça nos dois primeiros dias em Cusco, mas nem considero dor. Contudo, respirar deixa de ser natural e passa a ser um esforço físico e isto acontece com todos, até atletas.
+ Leia o relato de como foi a trilha Inca Salkantay
Minha história com o soroche
No Peru
Na semana seguinte cheguei ao Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo (3.823 metros) e descobri como outros fatores podem complicar um estado de saúde aparentemente estável. Eu tenho pressão baixa, o que não é uma doença, mas misturado com álcool e ar rarefeito pode deixar inconsciente e trazer todos os efeitos do mal de altitude. Por sorte não estava sozinha e me recuperei com água, chocolate e respiração profunda em poucas horas. Isto só aconteceu depois do jantar, pelo menos não atrapalhou o passeio. Aprendi a cuidar ainda mais da alimentação e evitar álcool acima dos 3 mil metros de altura.
Na Argentina
Anos depois fui pra Mendoza, na Argentina, completamente despreocupada com a altitude. Havia esquecido da proximidade do Aconcágua e nem me dei conta do choque de subir dois mil metros em poucas horas quando minha amiga convidou pra ir de carro até lá. Então encontrei o tal mal de altura na base da segunda maior montanha do mundo (3.000 metros) e senti por não ter tomado a homeopatia.
Sai do carro com leve dor de cabeça e fui caminhando em direção ao mirante. A cada passo sentia a falta de ar, as forças irem embora e a escuridão chegar… desmaiei! Acordei rápido com náusea e voltei vomitando quase todo o caminho até Mendoza. A sensação ruim só passou ao chegar perto dos 1.000 metros de altura, mas a ressaca ficou até o dia seguinte. Aprendi a importância das paradas quando viaja de carro para um lugar mais alto. O ideal é dormir no caminho pra ir se acostumando a altitude e nem pensar em fazer trilhas em seguida de chegar ao lugar alto. E esta foi a primeira e última vez que senti falta do seguro viagem, fiquei sem atendimento médico na Argentina e nunca mais deixei de fazer em viagens internacionais.
O aprendizado com estas experiências ajudou a evitar o mal de altitude em várias viagens e trilhas pelo mundo. Sempre seguindo as recomendações básicas: se adaptar aos poucos, beber muita água e respirar profundamente. No entanto, cometi o erro de tomar a homeopatia uma semana antes de ir para o Atacama e não deu tempo de fazer efeito. Não senti de imediato e, de novo, outros fatores influenciaram.
No Chile e na Bolívia
As paisagens, os serviços e os bons vinhos do Chile são uma tentação e devem ser aproveitados. Mas não a 4.200 metros de altura e sabendo que iria passar por 4.800 no caminho de volta! Cai no erro de beber álcool no Salar de Tara. Me sentia bem e cheguei a acreditar que soroche não seria mais problema. Então peguei no sono dentro do carro e, isto somado ao vinho e ar rarefeito, fez a pressão cair. Acordei com falta de ar e vi as cores da paisagem se apagando até perder completamente a visão. Avisei o guia, bebi água e respirei profundamente até me sentir bem novamente. Aprendi a não ser tão confiante.
Nesta mesma semana tomei o rumo da Bolívia na expedição Salar Uyuni. E lamento dizer, o mal é inevitável pra todos, pelo menos não conheço quem não sinta falta de ar e dor de cabeça passando a primeira noite a mais de 4.000 metros de altura. Pela primeira vez fui obrigada a usar oxigênio e por muito pouco não perdi a consciência. Quanto maior a altitude, maior o comprometimento da capacidade de julgamento e percepção. Por isso o perigo dependendo do tipo de atividade que estiver fazendo ou viajar sozinha. Infelizmente, constatei que não devo viajar sozinha para lugares acima dos 3.000 metros.
O tratamento para soroche
Enfim, vou responder o que imagino ter criado grande curiosidade: qual foi a receita?
Começo pela médica de Porto Alegre que lembro por guardar o prontuário e continuar usando em todas as viagens envolvendo altura. A Dra. Ângela Hexel receitou três tipos de homeopatia, dois pra usar se me machucasse ou sentisse mal durante a viagem e um para ser tomado um mês antes de partir. Este para dilatar os vasos sanguíneos e assim ter mais oxigênio no sangue.
Além do remédio, bebo muita água, chá de coca e só. Não gostei de mastigar a folha e nem quis usar as famosas pílulas pra soroche (vendidas em qualquer farmácia no Peru) porque tem acetilsalicílico na composição e sou alérgica. Mas pegar as folhas de menta encontradas no caminho e ir cheirando davam um alívio imediato. No Atacama, o chá de rica-rica tem efeito semelhante à coca e cheirar a folha traz o mesmo bem estar da menta.
Claro, sigo as recomendações de evitar sal, álcool e esforço físico. O último apenas nos dois primeiros dias, só começo uma trilha pesada quando sinto o corpo adaptado à altitude.
Quais destinos pra temer o mal da montanha?
Deve se precaver se for viajar para países da América do Sul e Ásia ou se for subir alguma montanha na África ou Europa. Sugiro verificar as altitudes para confirmar se precisa mesmo se preocupar. Muitas cidades ficam no nível do mar nestes continentes.
Clique para ler os relatos completos do mencionado acima porque nem tudo foi tão ruim a ponto de me arrepender da viagem:
Bolívia
Salar de Tara
Aconcágua
Lago Titicaca
Quais são os sintomas do mal de altitude
O mal de altura é ocasionado pela falta de oxigênio no sangue. A intensidade dos sintomas depende de quão alto e rápido a pessoa sobe. Geralmente as reações são:
- náusea
- vômito
- dor de cabeça
- falta de ar
- aumenta da frequência cardíaca
- desmaio
E como relatei nas minhas experiências, costuma passar assim que o corpo se adapta ao ambiente. Mas é preciso cuidar o que ingere porque, em casos raros, pode ocasionar edema pulmonar ou cerebral e aí a coisa complica. Um amigo foi parar no hospital porque tomou remédio que não devia e teve um edema na viagem ao Peru. Sobre o que fazer em casos mais graves, encontrei este texto escrito por um médico.
Por fim, aproveito para responder algumas perguntas que já me fizeram sobre o tema:
- Condicionamento físico ajuda, mas não é garantia de se sentir bem como percebi fazendo trilha com maratonistas. Eles pareciam sentir mais falta de ar do que eu.
- Quem tem rinite e sinusite vai se sentir bem porque esses lugares costumam ser secos. Eu tenho e só incomoda em lugares úmidos.
- Se acontecer, mantenha a calma, beba muita água, respire profundamente e avise quem estiver por perto.
Já passou por isso? Como sobreviveu? Deixe a sua dica nos comentários.
Fotos de Roberta Martins e Gardênia Rogatto.
Gostou da informação e quer ver mais? Então, acesse o Google Notícias, selecione a opção “✩ Seguir” e não perca mais nenhuma novidade do Territórios no seu celular!
© Todos os direitos reservados. Fotos e relato 100% originais.
Para quem chegou até aqui, agradecemos por valorizar o nosso conteúdo. Diferente das grandes corporações de mídia, Territórios é independente e se financia por meio da sua própria comunidade de leitores e ouvintes. Você pode apoiar o nosso trabalho de diversas formas como:
1. Aproveitar os benefícios do financiamento coletivo
2. Levar nossos guias de viagem no celular
3. Contratar produtos e serviços recomendados através dos links nos artigos. Exemplos e como fazer: alugar veículos, reservar hospedagem e excursões, comprar seguro, dados de internet e moeda estrangeira, entre outros. A venda nos gera uma comissão sem aumentar o valor final, inclusive, repassamos os descontos para você.
A informação foi útil? Talvez queira apoiar e fazer parte da comunidade Territórios!
Compartilhe ideias e converse com outros leitores no grupo no Facebook ou acompanhe no Spotify e grupo de avisos do Whats App.
DICAS PARA A SUA VIAGEM
Por região:
Serviços de reserva:
- Comprar e reservar online: evite fraudes
- Tours e Traslados: como contratar
- Ingressos: como comprar antes e durante a viagem
- É seguro fazer reserva de hotel pelo Booking?
- Dicas para alugar um carro
Úteis:
- Tax Free
- Formas de ficar conectado quando viaja
- Vacina Amarela para viajantes
- Cartão de crédito bloqueado durante a viagem? Saiba o que fazer
- Checklist viagem internacional
- Mal de altura: como evitar ou amenizar
- Faça a Permissão Internacional para dirigir
- O que levar a mala ou mochila
- Viaje com crianças
- Como ser um turista do bem em 9 dicas
4 Comments
Eu fui ao Equador e tive sintomas que atrapalham meus planos e roteiro de viagem. Diarréia, náusea, taquicardia, pressão na cabeça… foi horrível. Fiquei triste porque perdi o vigor físico. E nem sou atleta. Enfim, sete dias de uma viagem que não vou esquecer! Não desejo voltar, eu sinto que sacrifiquei muito o meu corpo.
Sinto saber disso Janaina, por experiência própria dá para amenizar seguindo as dicas que deixei no texto. A minha última experiência foi no Equador e senti a pressão, mas não me impediu de fazer nada. E nem sempre acontece, depende do nosso organismo nos dias da viagem.
Oi, meu marido e eu, sexagenários, viajamos de carro pela América do Sul. Não tivemos problema com a altitude, acredito que por, à medida que subíamos a cordilheira, mascávamos a folha da coca. Também não gostei muito do sabor mas, o efeito valeu a pena. Na ilha Taquile, no lago Titicaca, o guia nos ofereceu uma plantinha para cheirar, a muña. Excelente. Sempre que nos sentíamos cansados na subida, era só friccionar um pouco a planta e cheirar.
Gostei muito dos seus relatos. Objetivos e sem frescura. Parabéns.
Obrigada Ofélia pelo elogio e sua experiência. Assim incentivamos mais pessoas a visitarem lugares nas alturas