Quando sai cedo para fazer a trilha de oito horas no Royal Natal National Park, não imaginava que seria tão difícil nem que encontraria a montanha mais alta da África do Sul: Drakensberg Amphitheatre.
Na verdade, já fiz trilhas mais complicadas, mas naquela ocasião estava sem preparo físico ou mental para tamanho esforço. E o guia local não ajudou em nada me deixando para trás ou me oferecendo cordas de segurança na hora de enfrentar o maior medo de toda a viagem (foi pior que o Free Fall, Swing e até Bungee Jump de 216 metros) e na lista dos mais assustadores da vida… Antes vou contar desde o início e mostrar o quanto valeu a pena.
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O objetivo era chegar ao topo da montanha (3200 metros) pela Mont-aux-Sources Trail, onde a caminhada tradicional leva dois dias, e tem como alternativa ir de carro até o estacionamento Sentinel e a partir dali subir a pé 1200 metros. Desta forma, partimos para 14 km, ida e volta com um guia local e o nosso guia Alex (Pangea Trails), também experiente nesta trilha.
Trilha na montanha mais alta da África do Sul
Fazia muito frio e por mais de uma hora, uma névoa densa com chuvisco impedia de ver onde estávamos, a visibilidade era apenas para os próximos metros da trilha. Tanto que nem me animei a tirar fotos e o grupo seguia num silêncio fora do normal. Bastou levantar a cabeça momentos depois para ver um céu azul e a grandiosidade da rocha ao lado. A chuva foi embora, o calor veio forte e logo percebi como não estava no meio da neblina e sim atravessando nuvens úmidas. Havia ultrapassado e estava em uma altura acima das nuvens. Pronto! Os sorrisos voltaram e todos começaram a falar como de costume.
E veio a hora do primeiro esforço físico, uma escalaminhada por pedras soltas em caminho íngreme. Era preciso usar mãos e pernas para se mover e ainda cuidar para não levar uma pedrada na cabeça ou deixar elas rolarem em cima do outro. Neste ponto comecei a ficar para trás e entrar em sintonia com Drakensberg (minhas conversas com montanhas vem de longa data).
No topo do Sentinel Peak
O cenário ficou espetacular quando alcancei a parte plana do platô, uma fenda em formato de cone exibia toda a perspectiva rodeada por um mar de nuvens brancas. Enxerguei os colegas descansando de um lado e o ponto mais alto ainda a ser vencido do outro. Com a energia renovada pela vista, corri até o Mont-aux-Sources e desabei no choro. Uma forte emoção tomou conta só por estar ali e as lágrimas corriam enquanto eu sorria. É esta sensação que minimiza todo o esforço e não me deixa parar de querer subir montanhas.
Mas este era apenas o ponto mais alto, alguns metros adiante teria a grande atração Tugela Falls, teria porque a cachoeira estava seca. Por outro lado, deu para chegar bem na ponta e sentir a altura dos seus 947 metros de queda. Continuando no plano avistamos cavalos, vegetação seca e o território pertencente ao minúsculo vizinho Lesoto. O país localizado dentro da África do Sul tem um pedaço da montanha.
Mont-Aux-Sources, ou Sentinel Peak, é o pico mais alto da Drakensberg Amphitheatre. O paredão de pedra de 5 km de largura é o ponto mais famoso do parque por ser a nascente do Orange River e abrigar a Tugela Falls, cachoeira mais alta da África e segunda no mundo com 947 metros de altura.
O grupo era formado em sua maioria por alemães, povo prático em excesso e, a meu ver, não sabe apreciar uma trilha. Querem chegar ao objetivo o mais rápido possível, ver, tirar foto e ir embora. Meus amigos brasileiros e o guia local entraram na onda e me deixaram sozinha. Horas depois alcancei eles só porque era um ponto crítico onde era preciso descer dois por vez.
O ponto crítico da montanha mais alta da África do Sul
Foram as escadas mais assustadoras por onde já passei. Eram dois lances de paredões (de 37 e 45 metros), em praticamente 90 graus de inclinação, com vista para vales e cânions a quase 3000 metros de altura. Consegui apreciar a paisagem por alguns segundos e o medo de altura quase me deixou paralisada.
Olhei ao redor e nada de corda, todos já haviam descido e o guia ficou para me acompanhar (finalmente!). A escada de ferro estava presa na pedra, mas era como atravessar uma ponte pênsil, conforme o movimento ela se mexia para se adaptar aos desníveis da rocha. Meus braços e pernas eram minha única segurança e qualquer câimbra seria fatal. Para piorar veio na minha mente a cena de um filme onde adolescentes subiam de forma irresponsável uma escada como esta e a câmera intercalava a altura com o close nos parafusos se soltando. Não lembro o nome do filme e odiei ter tido esta lembrança justo neste instante. Contudo, o alerta não foi a toa, achei extremamente irresponsável o guia não ter corda em um lugar cuja manutenção não deve ser frequente, inclusive os alemães disseram que isso jamais seria permitido na Alemanha.
O último susto
Desafio superado, a paisagem fez a tranquilidade voltar aos meus pensamentos e, de novo, fiquei pra trás. Alex até veio comigo por um tempo, mas quando voltou a chover, apressou o passo. Resultado, todos entraram na van e foram embora! Até alguém sentir a minha falta e eles voltarem, pelo menos foi rápido. Agora, qual deles lembrou de mim, ninguém quis contar.
E contrariando a sorte, sim, eu faria de novo. Provavelmente até a trilha mais longa do parque, no entanto, com maior segurança (cordas) e preparo físico.
Tome Nota
O Royal Natal National Park dispõem de uma série de atividades de ecoturismo e trilhas a partir de 500 metros até os 45 km da Mont-aux-Sources Trail. A mesma feita em um dia cortando caminho com a van.
A época boa para ver Tugela Falls é de março a maio, quando os rios estão cheios e a visibilidade é melhor. Mas a trilha até o topo fica muito mais difícil e precisa atravessar rios nadando. Em outubro era só um riachinho sem alcançar a queda. E por curiosidade, Tugela significa surpreendente na língua local zulu.
O que vestir: O clima muda muito rápido e é preciso estar preparado para chuva, frio, calor e neve no inverno. Usei camiseta, blusa térmica, corta-vento, casacão com capuz emprestado, lenço e uma capa de chuva. No lodge alugam jaquetas e vendem capas de chuva. Foi o que nos salvou porque não estávamos preparados para tanto frio. Também não teríamos usado este tipo de jaqueta em nenhum outro lugar destino da viagem.
O que levar: bastão de trilha, óculos, lanche e água. O lanche estava incluso no passeio organizado pelo Amphitheatre Backpacker, lodge onde ficamos.
Onde dormir: Amphitheatre Backpackers Lodge é um camping – hostel – pousada no meio da estrada e com vista incrível para as montanhas. É enorme e tem boa infraestrutura pra se divertir, se alimentar e descansar, além de funcionar como agência de viagens oferecendo diversos passeios. A cidade mais próxima do parque é Bergville (50 km) onde tem outras opções.
Drakensberg é uma das paradas do tour Pangea Trails.
Veja mais fotos e vídeo da trilha pela montanha mais alta da África do Sul:
+ Para saber tudo o que aprendi nesta viagem leia o “Dicas aos Viajantes”
Fotos de Roberta Martins, Cris Marques e Guilherme Tetamanti.
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O projeto Blogueiros na África do Sul (#DescubraAfricadoSul) foi uma realização do Travel Concept Solution e apoio da Pangea Trails, South African Airways, Detecta Hotel e incentivo da agência nacional de turismo (South African Tourism), da cidade de Joanesburgo (Joburg Tourism) e também de Cape Town (Cape Town Tourism). A viagem foi patrocinada, mas as opiniões aqui expressas são de livre expressão do autor. Veja também os blogs que participaram da viagem: Dentro de Mochilão, Territórios, Viajando com Eles e Viagem Criativa.
2 Comments
Caramba! Já fiquei com calafrios aqui, só de ler o texto, imagine estando lá e passando pela mesma coisa?? ótimo artigo! Abraços…
nussinhora que escada tenebrosa! também não sei se eu iria conseguir descer depois de caminhar tanto..acho que ia grudar tanto na escada q ficaria paralisada por um bom tempo! ótimo texto Roberta!!