Momento de explorar o topo do Monte Roraima cruzando as fronteiras entre Venezuela, Guiana e Brasil.
Dia 4 Desbravando o topo
Despertei naturalmente cedo e tratei de me organizar para o trajeto mais longo da expedição, 22 km caminhando pelos 3 países. Pelo menos voltaríamos para o mesmo hotel e não foi preciso levantar acampamento.
Mesmo com o sol brilhando forte, a temperatura estava baixa e o vento ardia. Ainda mais apreciando a paisagem da Janela, o penhasco mais próximo da nossa caverna. Dava para enxergar toda trilha desde Paratepuy e o acampamento base bem pequeno lá embaixo.
A barraca camuflada ficou no último acampamento, aqui cada grupo monta o seu banheiro em lugares estratégicos. O nosso tinha uma visão espetacular – Janela de um lado e Kukenán do outro, com direito a lua cheia pela manhã. Também era uma vitrine para os visitantes da Janela, apesar de nem repararem esse detalhe com aquela baita vista, para quem sentava no banquinho, era complicado ficar à vontade se sentindo observado. Bom que estava muito frio e as pessoas não aguentavam ficar ali por muito tempo.
O percurso é um labirinto de pedras fácil de se perder, principalmente quando as nuvens passavam rapidamente tirando a visibilidade. Nesses momentos eu apertava o passo com receio de ficar longe do guia, só ele sabia o caminho. O terreno, que parecia plano, é bastante acidentado e escorregadio. As pedras pretas são tomadas por um tipo de limo e a indicação é sempre caminhar pelas partes mais claras, estas formavam as trilhas e não escorregavam. Entre as pedras trajetos pisando em areia, lodo, poças e jardins. Dava pena passar por cima daquelas flores, mas era isso ou tombo certo.
Continuamos por caminhos sinuosos, margeando outros vales e escalando pedras. Teve um trecho que lembrou o filme 127 horas, todo cuidado era pouco passando embaixo de pedras imensas onde se eu fosse mais gorda não passaria com a mochila nas costas. A tensão não permitiu que nenhum de nós tirasse fotos, queríamos passar esse parte o mais rápido possível.
O Vale Sucre despertou a nossa imaginação com as suas formações rochosas e vegetação, em seguida fiquei impressionada com a beleza do Vale do Arabobo. A pequena parte pertencente ao Brasil rendeu as fotos mais bonitas, incluindo o Vale dos Cristais, ali o mineral brilha no chão e nas paredes de pedra.
Chegamos no Ponto Triplo, divisa dos 3 países demarcada por um obelisco no meio do nada, ponto máximo da nossa expedição e onde pisamos na Guiana. Dali seguimos em direção ao acampamento por outros caminhos.
Nossa energia ia se acabando quando um índio nos alcançou trazendo a cozinha (fogareiro, pratos, talheres…) e nos servindo um belo macarrão com frango. Alimentada olhei ao redor e suspirei, que lugar! Um riacho corria para um buraco, apenas chegando perto era possível ver o que havia dentro. Um grande fosso com queda d’água formando uma piscina iluminada e rodeada por diferentes formações rochosas. Para chegar ali embaixo, o único caminho é entrar em outro buraco mais adiante e seguir por galerias subterrâneas, molhando os pés na água congelante. Fiquei apenas apreciando a paisagem e a coragem dos viajantes que tomaram o banho do dia no El Fosso. Veja mais fotos e detalhes na Foto da Semana #63.
Ainda era dia quando voltamos para o hotel e ficamos curtindo o visual da Janela ao entardecer. Kukenán estava diferente, exibia uma cachoeira, de 640 metros, caindo do topo que não estava ali pela manhã. Disseram que é comum quedas d’água se formarem conforme as chuvas.
Chegaram novos aventureiros que lotaram o acampamento e foi interessante ouvir eles conversando sobre a subida. Ficou claro que cada um tem uma impressão, diferentes sensações e uma relação única com a montanha.
O topo tem insetos esquisitos, uns brilham no escuro outros são completamente negros ou tem pernas estranhas. Não tem cobras, mas tem sapos, centopeias e aranhas, entre os mais reconhecíveis.
Quando quase todos já tinham ido dormir, procurei um canto para as necessidades no meio da mata, tentando não me afastar muito. Desliguei a lanterna para não ser vista e senti algo subindo na minha perna. Impossível não gritar e querer sair correndo com a calça arriada, mas foi exagero meu, quando foquei a lanterna era só um grilo grande e estranho que tirei com as mãos. Acontece que nesse meio tempo o guia se assustou e veio na minha direção com a lanterna na cabeça, daí eu continuei gritando para ele não vir e não me ver naquela cena. Gargalhadas pelo acampamento e eu morrendo de vergonha preocupada por ter gritado. Os índios haviam alertado que a montanha não gosta de gritos, mas o guia disse que eu estava liberada nessa situação.
Fui dormir em silêncio. Boa noite e amanhã tem mais atrações no topo.
Acompanhe o dia-a-dia desta expedição nos próximo posts:
Dia 1 – Dia 2 – Dia 3 – Dia 4 – Dia 5 – Dia 6. Leia sobre o preparo físico e o que precisa levar na mochila.
Leia o texto Um Monte de surpresas sobre a geografia do topo.
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Leia todos os textos sobre Monte Roraima
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