Chegou a parte mais exigente da expedição, momento de enfrentar o paredão de verdade e alcançar o topo.
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Dia 3 Encarando o paredão
Sol nascendo e já estávamos levantando acampamento, organizei tudo o mais rápido possível para sobrar tempo para as fotos. Finalmente amanheceu sem nuvens e a lua cheia ainda estava lá querendo se esconder atrás do Kukenán.
Francisco preparou um café reforçado para nossa subida de quase 1000 metros em apenas 6 km, sendo uns 600 metros de escalaminhada (caminhar de quatro em terreno muito inclinado e irregular).
Cruzamos uma nascente e entramos na floresta fechada, o único caminho para o topo, ali é como atravessar um portal e entrar no mundo perdido. Vegetação densa e repleta de exemplares únicos, flores coloridas, musgos que parecem algas marinhas, samambaias pré-históricas e bromélias gigantes. Mas não dava para ficar só curtindo o visual, o percurso é pesado e, logo no início, uma parede de areia e raízes já assusta e exige força nos braços.
O grupo se separa e me vejo, de novo, sozinha e adorando estar ali sentindo uma energia boa. Desisti de querer chegar rápido, aproveitei muito esse trecho prestando atenção em cada folha, tronco, inseto ou passarinho. Vi uma lagartixa completamente preta, como o sapo típico de lá, mas não fui rápida o bastante para tirar a foto. Em alguns trechos tinha companhia e ia conhecendo outros aventureiros, eles vem de todas as partes do mundo com o mesmo objetivo e simpatia.
A mata foi se abrindo e o paredão surgiu imponente muito próximo. Plantas forram as laterais e o caminho agora, era ir contornando a rocha até chegar numa grande cachoeira. Dava para ver o acampamento se distanciando e quase tudo o que caminhamos nos últimos dias. Encontrei água brotando das pedras oferecendo bebida potável e refrescante, continuei encantada com a vegetação e segui leve com sorriso no rosto até que o tempo fechou e dei de cara com a tal cachoeira – o Passo das Lágrimas.
Era obrigatório passar embaixo dela por uma subida muito íngreme (75 graus de inclinação), molhada e cheia de pedras soltas e limo. Fiquei observando as pessoinhas quase se misturando com as pedras, se não fosse pelas vibrantes capas de chuva. Coloquei a capa e o guia pediu para eu dar um bom espaço da pessoa na frente por causa das pedras soltas, tomei coragem e fui.
No meio do caminho veio um temporal e o vento jogava a queda d’água pra lá e pra cá, cada vez que passava por mim dava um tapa, me deixando completamente encharcada. Houve um momento em que travei, perdi o apoio dos pés, as pedras rolaram e fiquei pendurada pelos braços. Olhei pra cima e todos já tinham conseguido passar, olhei pra baixo e ninguém mais entrou na trilha por causa da chuva, olhei para o lado e a água corria pelo penhasco… eu estava sozinha no meio e aquela travessia parecia uma eternidade. Lá de cima Luiz tentava me indicar o melhor caminho, achei que não ia conseguir e veio uma força interna (vulgo medo) impulsionando e acelerei, mesmo escorregando consegui passar pela prova e celebrei com os amigos.
Eu ainda tremia e pensei na volta, esse é o único caminho! Implorei para o guia não me deixar descer sozinha. Então um dos indígenas falou da sua técnica de passar correndo no exato momento que o vento traz a cachoeira na sua direção, assim dá tempo de não ser atingido na pior parte. Queria ter ouvido isso antes! Ali eu senti o impacto da montanha.
Faltava pouco e o verde ia ficando escasso, as pedras, mais escuras, dominavam e a trilha já não existia mais. Francisco ia nos guiando e minha energia ia acabando. A chuva voltou a apertar quando chegamos no topo, mas o grupo ainda não estava completo, esperei embaixo de uma pedra tremendo de frio por causa da roupa molhada. Ali percebi pedras com caras de indígenas e camelos formando um portal, mas essa história faz parte das lendas que vou contar em outro post.
Grupo completo, caminhamos no meio da névoa sem saber para onde ir, a chuva encharcava o chão e complicava o percurso. Seguíamos Francisco numa a fila indiana à passos largos até chegarmos no hotel, 2 km depois.
Os hotéis são cavernas de quem chega primeiro, conseguimos pegar um 4 estrelas, conforme categoria criada pelos guias, chamado Guacharo. Acampamento montado, esperamos a noite chegar relembrando os melhores e piores momentos.
Acompanhe o dia-a-dia desta expedição nos próximo posts:
Dia 1 – Dia 2 – Dia 3 – Dia 4 – Dia 5 – Dia 6. Leia sobre o preparo físico e o que precisa levar na mochila.
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5 Comments
Quero esse doce de leite com a torrada… foi vc quem levou????
Foi o guia, também teve batatada, chocolate, abacaxi docinho… coisas boas em momentos estratégicos para aliviar a tensão.
Roberta que medo! E esse hotel guacucharo? Duos mio. UMA aventura!
Esse dia foi bem complicado, mas valeu o esforço. É uma experiência especial que ainda vai render bastante conteúdo.
Que bom que gostou Carolmay!
Que medo!! Adorei o relato!