Já ouviu falar em São Leopoldo? A cidade gaúcha que herdou o nome do santo padroeiro da Áustria em homenagem à Imperatriz Leopoldina por ela ter incentivado a vinda dos primeiros imigrantes alemães ao Brasil. Sim, um destino com muita história e também gastronomia, natureza e espiritualidade visitado por mim há anos e neste texto mostro porque merece a sua atenção.
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Por que visitar São Leopoldo?
Para começar é fácil por estar na região metropolitana de Porto Alegre e no caminho para a Serra Gaúcha, são apenas 34 km da capital com transporte público (trem e ônibus) desde o aeroporto e rodoviária para visitar em um ou alguns dias. Mas as motivações podem variar e deixo uma lista para clicar nos links e ir direto ao assunto caso se identifique com algum. Ou leia tudo e deixe seu comentário ao final.
- Saber parte da história do Rio Grande do Sul e a sua própria origem se os seus antepassados foram imigrantes alemães.
- Apreciar os Caminhos da contemplação e espiritualidade.
- Começar a Rota Romântica no marco zero.
- Explorar um novo destino chamado Vale Germânico.
- Curtir o astral de uma cidade universitária.
Um pouco da história de São Leopoldo e o Vale do Rio dos Sinos
Voltei semanas atrás na cidade onde fiz a faculdade de comunicação para descobrir atrativos atuais e acabei aprendendo um monte da história que faz parte da minha origem e passara batido. Meu tataravô foi um dos imigrantes vindos da Alemanha no século XIX e poucos povos tem o costume de preservar tão bem a rotina dos seus antepassados através de objetos do cotidiano. São vários museus por todo o Vale Germânico assim como presenciei em outros destinos com forte influência alemã como Puerto Varas, no Chile.
Os primeiros 39 alemães chegaram à região em julho de 1824 no vilarejo conhecido como Feitoria do Linho-cânhamo. Foram enviados por Dom Pedro I para povoá-la a pedido de sua esposa Imperatriz Leopoldina. Centenas vieram depois formando a colônia alemã em São Leopoldo que hoje abrange cidades emancipadas como Taquara, Esteio, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, São Sebastião do Caí e outras do Vale do Rio dos Sinos.
Para se aprofundar nessa história, recomendo um tempo no Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, Museu do Trem e Biblioteca da Unisinos além de passar em frente a alguns prédios históricos como a Igreja do Relógio, Sociedade Orpheu e CECREI.
Museu do Trem
Em 1874, foi inaugurada a primeira estrada de ferro do Rio Grande do Sul, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, para facilitar o escoamento da produção do Vale do Rio dos Sinos. Adivinha qual foi a primeira estação a ficar pronta? Portanto, vale visitar o museu da estação de trem mais antiga do estado.
A antiga estação ferroviária de São Leopoldo virou museu em 1985 e além de resgatar o encantamento dos tempos da Maria Fumaça, conta sua própria história e convida artistas contemporâneas a mostrarem sua arte no jardim ou nos vagões restaurados. Recentemente inaugurou a lojinha de souvenir e tem planos de transformar algum vagão em restaurante, afirmou a responsável pelo museu Alice Bemvenuti.
Entre as minhas descobertas está a história das miniaturas dos trens expostos. Não foram encomendadas pela companhia como eu imaginava. Em determinadas datas comemorativas haviam concursos entre os funcionários ou comunidade e os mais perfeitos viraram obras de museu.
A entrada é franca, mas pede colaboração para manutenção, principalmente para quem usa o espaço como cenário para fotos e vídeos profissionais.
Endereço: rua Lindolfo Collor, 40, Centro. Aberto de terça a sábado das 9h às 17h.
Museu Histórico Visconde de São Leopoldo
Com mais de 140 mil peças doadas pela comunidade é considerado entre os acervos mais ricos do Brasil sobre a imigração alemã além de contar a história da cidade. São documentos, móveis, fotografias e objetos curiosos. Foi fundado em 1959 e até hoje é mantido por uma associação de amigos.
Se sua origem é alemã, talvez possa descobrir a história dos seus antepassados por aqui, há um Centro de Pesquisa Genealógica oferecido pelo museu.
A entrada é franca e pode ter visita guiada como eu fiz, foi só pedir informações ao chegar, para grupos ou garantir o atendimento, entre em contato pelo telefone: 51. 3592 4557.
Endereço: rua Dom João Becker, 491, Centro. Aberto de terça à sábado das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h30.
Apreciar os Caminhos da contemplação e espiritualidade
Minha primeira vez em São Leopoldo foi na infância, meus avós iam com alguma frequência ao Santuário Padre Reus e me levaram algumas vezes. O maior fluxo de turistas tem o santuário católico como destino, mas a região tem outros atrativos espirituais sem definir religião e histórias marcantes relacionadas aos jesuítas e luteranos.
Santuário Sagrado Coração de Jesus – Padre Reus
O padre João Batista Reus está prestes a ser beatificado e o santuário é o local do seu túmulo. Construído na década de 1960, tem ótima estrutura e recebe romeiros de todo o Brasil. Devotos com graça alcançada mandam fazer bancos e doam ao local como agradecimento, por isso, lugar para sentar e buscar paz interior não faltam.
Aberto diariamente das 7h às 17h na rua Padre Werner.
História dos primeiros luteranos no Rio Grande do Sul
Embora imigrantes luteranos fossem a maioria, a igreja católica era oficial na época do Império e a construção de templos não era permitida. A crença até era tolerada quando praticada em casa, então os luteranos construíram escolas com espaços para os seus cultos e moldaram a qualidade da educação na região. Somente após a Proclamação da República e afirmação da liberdade religiosa, as igrejas luteranas começaram a ser construídas e hoje são várias por toda a região.
CECREI
O Centro de Espiritualidade Cristo Rei surgiu para ser um seminário há 80 anos e hoje é um complexo com diversas atividades como local de eventos (religiosos ou não), estudos, retiro e lazer para quem busca paz em contato com a natureza. A propriedade é dos jesuítas construída por eles mesmos em cada detalhe mostrado com orgulho pelo Luis Felipe Leifheit. Enquanto caminhávamos ele contou um resumo da história da Companhia de Jesus no Rio Grande do Sul e todo o trabalho de sustentabilidade e diversidade feito por eles desde quando esses conceitos nem existiam como conhecemos.
Em datas especiais, geralmente uma vez por mês, há áreas para piqueniques e cestas à venda com a maioria dos produtos produzidos ali mesmo. Pude provar algumas delícias da padaria e da horta orgânica para ficar com muita vontade de voltar para esse evento. O jardim é lindo, tem lago, caminhos entre as árvores frutíferas e 11 hectares de espaço para esquecer que está no meio de uma zona urbana (a foto de capa foi feita lá).
No passeio cruzei com o irmão Hélio Birck trabalhando sozinho na nada pequena horta que é o legado da vida dele. Além de produzir para hóspedes e visitantes, seu trabalho fornece toneladas de alimentos para as comunidades carentes da região todos os anos.
Quando vi corujas e cardeais falei alto como ali deveria ser legal para observação de aves e Luis Felipe confirmou que alguns visitantes vêm com esse objetivo e ele já viu vários pássaros diferentes por ali.
Curiosidades, hospitalidade e piquenique
O Papa Francisco já fez retiro por lá e qualquer pessoa pode se hospedar entrando em contato com a recepção. As suítes são super espaçosas decoradas com mobília preservada dos anos 40 e incluem café da manhã também preparado com ingredientes produzidos na propriedade.
Grupos a partir de 20 pessoas podem agendar um piquenique privativo. Já os dias de evento são abertos ao público a tarde, mas tem limite no número de pessoas e cestas, por isso deve ser agendado com antecedência na recepção e as datas podem se conferidas no site. Pode levar o cachorro, bicicleta e a família toda.
Endereço: rua Regina Mundi, 333, Cristo Rei.
Marco Zero da Rota Romântica
A Rota Romântica, estradas com paisagens espetaculares entre o Vale dos Sinos e a Serra Gaúcha começa em São Leopoldo, exatamente na rua Dom João Becker, e termina em São Francisco de Paula. Há placas de sinalização em todos os trajetos.
São Leopoldo faz parte do Vale Germânico
A rota turística fez dois anos em 2021 unindo o que todas as cidades têm em comum: cultura, cerveja, cicloturismo, natureza e muito mais. São nove municípios participantes e todos a curtas distâncias rodoviárias de São Leopoldo, sendo Novo Hamburgo vizinho e acessível por trem. Entre eles visitei Morro Reuter e Sapiranga.
Destaque para Lomba Grande, a zona rural de Novo Hamburgo fica ao lado do bairro Feitoria, de São Leopoldo, e está crescendo na oferta de atrativos interessantes. Para os ciclistas é velha conhecida, para mim, foi novidade.
Curtir o astral de uma cidade universitária
Vivemos outros tempos desde os quase vinte anos da minha formatura na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mas a aura boêmio continua com bares divertidos e restaurantes descolados. A novidade é um hotel com astral de hostel onde me hospedei e conto ao final.
Onde comer em São Leopoldo:
Caminho Restaurante
É democrático atendendo super bem de vegetarianos a carnívoros com receitas orgânicas e ingredientes vindo de produtores regionais. Em tempos de pandemia é uma ótima opção pelo distanciamento na mesa e entre as mesas. Pratos com receitas alemãs são os mais pedidos, mas o cardápio é bem variado. Escolhi Arroz Frito Tailandês e recomendo muito, geralmente não aguento comer tudo isso, porém, foi tão bom que não sobrou nada no prato.
Aberto de terça a domingo para almoços em um casarão histórico.
Endereço: rua Lindolfo Collor, 301, Centro.
Funny Fellings
É um café bar decorado por uma família de colecionadores amantes de filmes, séries, games e quadrinhos. São três ambientes diferentes conforme o seu humor: ar livre com a porta do Hoobit e outros elementos da cultura pop, museu geek e deck sóbrio com pôsteres de filmes (quando comparado ao todo).
Prepare-se para alguns sustos quando trouxerem o seu pedido ou o da mesa vizinha. Desde a cozinha o pedido é aos gritos assim como a entrega falando nomes excêntricos do cardápio.
O cliente pode participar da decoração deixando bilhetinhos no guardanapo que serão expostos nas mesas.
Destaque para os cupcakes com sabores variados. Experimentei um super doce, mas tão bom que comi tudo mesmo sabendo que ainda iria jantar. Também há pratos criativos nos nomes e nas misturas como os sanduíches Fera e Puta Merda além de bebidas diversas e cervejas artesanais da região.
Endereço: rua Lindolfo Collor, 279, Centro, para o happy hour e jantar.
Céu da Boca Café
Recomendada por amigos locais entre as melhores confeitarias de São Leopoldo e docemente aprovada para comer com os olhos e vontade porque os tamanhos são exagerados.
Endereço: avenida Mauá, 1798, Centro.
Maniba Central
É a Tap House (bar) da Cervejaria Maniba com 30 torneiras incluindo 4 opções do meu estilo favorito: stout. Além disso, o cardápio traz drinks, destilados, gastronomia contemporânea, como o aprovado hambúrguer Aussie Burguer e música ao vivo nas terças. A marca é uma das participantes do Caminho das Cervejas Artesanais do Vale Germânico.
Para grupos pode ser agendado um tour com explicações sobre a cervejaria, as escolas cervejeiras e os prêmios.
Endereço: rua Frederico Wolffenbuttel, 256, Centro.
Unisinos
Há diversidade de estabelecimentos dentro da Unisinos e dois que eu costumava frequentar há 20 anos continuam lá. Embora não tenha provado nada desta vez, recomendo com memória afetiva o capuccino do Fratello e as panquecas do Atelier das Panquecas.
Endereço: avenida Unisinos, 950. Cristo Rei.
Hospedagem em São Leopoldo
Work + Hotel
Se existisse no meu tempo de universitária seria hóspede frequente, foi meu primeiro pensamento ao entrar na suíte. Fica em frente a entrada principal da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e traz todo o astral viajante e colaborativo tão em moda atualmente, sem perder o conforto de um hotel padrão 3 estrelas.
Em dois dias de hospedagem, visitei facilmente todos os locais recomendados no texto e ainda sobrou um tempo para trabalhar um pouco e aproveitar a variedade do café da manhã.
Endereço: avenida Unisinos, 1277, Cristo Rei. Telefone 51 3566 1904.
CECREI
Um antigo seminário oferece acomodações clássicas e com preço acessível em ambientes silenciosos cercados pela natureza. Contei detalhes do local acima e reservas são somente por consulta na recepção ou telefone 51. 3081 4200.
Agradecimentos à Lilia Motta e Prefeitura de São Leopoldo por apresentar o lado turístico da cidade, ao Work + Hotel pela cortesia na hospedagem, à Cervejaria Maniba, Funny Fellings, CECREI e Caminho Restaurante pelas refeições.
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2 Comments
Adorei o conteúdo sobre a cidade de São Leopoldo!
Sou morador da cidade e fiquei surpreso com as atividades de lazer e gastronomia que a Roberta garimpou por aqui.
Muito bom ler tanta coisa bacana da terra da gente.
Obrigada Ricardo, as vezes é preciso alguém vir de fora para gente prestar atenção naquilo que está bem perto. Acontece comigo em Pelotas.