Volto a esse artigo em plena Semana Farroupilha* para trazer novas respostas em áudio além das novidades de turismo relacionados à Revolução Farroupilha. Gravei um episódio do podcast Tesão de Ouvir com a participação de Criz Azevedo, Gardênia Rogatto e Paula Brum para complementar o vídeo com várias respostas.
Acesso rápido: Explicação | Respostas (vídeo)| A escola não ensina |
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Texto original de setembro de 2016
O que foi a Revolução Farroupilha
Primeiro é preciso compreender o quanto o tema Revolução Farroupilha é natural para quem nasce e estuda no Rio Grande do Sul. Principalmente nas cidades de fronteira e pampa onde as tradições resistem há quase duzentos anos após a guerra ter moldado valores e a personalidade do gaúcho do sul do Brasil (é bom lembrar que argentinos, uruguaios e alguns chilenos também são gaúchos).
O fato histórico está nos livros didáticos, em nomes de ruas e cidades, nos brinquedos, no vestuário, na bandeira do Estado, na comida e em tantos elementos do cotidiano que poucos rio-grandenses se fazem esta pergunta. E digo por mim, sou vizinha da fronteira e cultivo algumas tradições de forma tão rotineira que nunca havia parado para pensar nisto até morar em São Paulo.
Foi anos ouvindo deboches, questionamentos e até me sentindo estrangeira por ser tão diferente do resto do Brasil. Por outro lado, foi ótimo sair do contexto e ver tudo do lado de fora. Alguns pontos fiz questão de valorizar ainda mais, outros comecei a achar um exagero e concordava com a opinião dos novos amigos. Mas quando voltava para casa da família, eu queria justamente aquilo encontrado só por lá. Mesmo reclamando, me sentia em casa. É o tal do orgulho que vem desde aquela época em que o povo se uniu para buscar algo melhor e mais justo.
Então surgiu a oportunidade de percorrer os caminhos farroupilhas como roteiro turístico prometendo boa gastronomia, hospitalidade e cenários históricos. Embora houvesse incerteza se encontraria isto em todos os locais, decidi partir para a viagem de carro entre amigos e buscar minhas origens, atrativos e uma pergunta:
Por que se comemora a Revolução Farroupilha até hoje?
Respostas em vídeo
Conversei com pessoas nas 17 cidades por onde passei e nem todos sabiam me responder. Apenas diziam gostar ou tinham um discurso na ponta da língua. Gravei boa parte desses depoimentos para tentar traduzir para o resto do Brasil o sentimento regional sobre o tema, e não é que ele varia bastante! No início nem sabia como seria a edição, mas com todas essas paisagens foi fácil e virou o vídeo resumo da viagem.
A minha resposta:
Acredito que devemos comemorar por vários motivos. Primeiro, é importante saber de onde viemos, porque somos assim e como é possível sim, lutar pra mudar o que não está certo. Mas vocês perderam a guerra! Diz a maioria sem saber que existiram conquistas, assim como houve perdas para ambos os lados.
Vivem do passado! Dizem outros sem perceber como é triste um povo que deixa sua essência se perder pela falta de comunicação e interesse como acontece com o artesanato no mundo ou com os aborígenes na Austrália, por exemplo. Sem conseguir se adaptar ao mundo atual e sem conhecer o próprio passado (porque os mais velhos só repassam a informação oral quando acham que os mais novos merecem saber e o conhecimento escrito não existe – leia mais aqui), aborígenes se entregam ao alcoolismo e não tem perspectiva, mesmo ganhando bastante dinheiro com o turismo.
E como uma viajante insaciável por vivenciar o inusitado e compreender o modo diferente das pessoas verem o mundo, eu saio por aí em busca de conceitos, de culturas e de personalidades. Logo, como não celebrar e valorizar toda esta riqueza presente na história dos meus antepassados e que influenciam a minha vida hoje? Eu quero que os outros conheçam e também tentem compreender ou, pelo menos, se sintam bem como eu me sinto.
O que não se aprende nas escolas?
Definitivamente, todo gaúcho, ou filho e neto que moram em outros Estados, deveria fazer esta viagem. E vale para qualquer um interessado em roteiros históricos. É nostálgica, é linda, é gostosa de fazer e traz muitos ensinamentos que passam batido em outras situações.
Ouvir o que aconteceu na sombra daquela árvore de 300 anos tocando no tronco… Imaginar a cena do relatado pelos personagens estando na casa deles… Ou caminhar por ruas onde o tempo parece não ter passado tem uma percepção muito mais valiosa e duradoura do que ensinam os livros e professores em sala de aula.
E aí cai a ficha! Não foi bem isto que eu aprendi no colégio ou vi na minissérie, era mais poético, heroico, justo… Costumam valorizar o lado bonito e passam por cima do que talvez não seja interessante mostrar como os lanceiros negros traídos; o medo das mulheres perante a figura masculina; a motivação mais pelo lucro do que os ideais de liberdade, igualdade e humanidade e vários outros detalhes sombrios da revolução. A cada conversa eu aprendia algo novo, as coisas faziam sentido e a história ia ficando mais interessante. Mas há controvérsias entre cidades e guias. O melhor é ir repetindo as mesmas perguntas, consultar outras fontes e tirar suas próprias conclusões.
E você, ficou com vontade de fazer o Caminho Rota Farroupilha? Ou tem resposta para a minha pergunta? Sou toda ouvidos nos comentários.
AS CIDADE DA ROTA FARROUPILHA
PORTO ALEGRE, GUAÍBA, CAMAQUÃ, SÃO LOURENÇO DO SUL, RIO GRANDE, SÃO JOSÉ DO NORTE, PELOTAS, PIRATINI, Pinheiro Machado, CANDIOTA, BAGÉ, DOM PEDRITO, SANTANA DO LIVRAMENTO (bonus RIVERA), ALEGRETE, ROSÁRIO DO SUL, SÃO GABRIEL e CAÇAPAVA DO SUL.
A viagem #RotaFarroupilha é um projeto do Territórios em parceria com As Peripécias de uma Flor, Café Viagem, Mochilinha Gaúcha e participações especiais de Andarilhos do Mundo e da jornalista Criz Azevedo. O roteiro teve o apoio de empresas regionais como BC&M Advogados e Agropecuária Sallaberry, além do suporte do Sebrae Costa Doce e de algumas secretarias de turismo. A ideia surgiu ao saber da Rota Caminho Farroupilha elaborada pelo Sebrae RS. É oferecida como pacote turístico pela Tchê Fronteira Turismo.
Leia todos os artigos postados aqui sobre a Rota Farroupilha
Fotos de Roberta Martins, Alexandra Aranovich e Paula Brum.
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10 Comments
Oie, vou adicionar o seu site em meus favoritos, assim
consigo me manter atualizada, irei voltar mais vezes para
ver o que terá de novo. Obrigada. Até a próxima
Precisamos de mais artigos como este. Muito inspirador!
Obrigada mm, volte sempre!
Devemos comemorar e continuar comemorando. É nossa identidade e nosso pretexto de seguirmos tendo orgulho, talvez nem saibamos o motivo, o real motivo, mas é isso que nos conecta, é isso que nos liga e é o que está no nosso ideário. Vivemos de sonhos, idealizamos uma guerra que aboliu negros e criou uma república, uma quase democracia, e nos achamos diferentes e não nos achamos mais desprezados ou esquecidos ou explorados. Talvez seja por isso que tenhamos uma data pra comemorar, um pretexto para comermos um churrasco, para andarmos a cavalo e tomarmos um chimarrão. A realidade foi dura e totalmente diferente do que nos ensinaram, como num conto de fadas precisamos idealizar, pois necessitamos de identidade porque a nossa, durante alguns séculos de nossa existência esteve atrelada a um Tratado de Tordesilhas pífio, com fronteiras flutuantes.
Como tu, sinto nesse dia um orgulho desmedido, um calor na alma que chega a aconchegar. É o meu elo com a Terra que deixei e tanto amo, é não deixar matar o sentimento que meus filhos irão perpetuar pelo mesmo motivo que meus antepassados cultivaram por essa querência. Para que meu filho que não nasceu nesse solo se sinta tão gaúcho e sinta em si arraigado essa paixão pelos costumes que charruas, negros, espanhóis e portugueses forjaram nesse povo.
Obrigada pela sua opinião Gisele. Um dos motivos de eu incentivar a viagem pela Rota Farroupilha é justamente para a pessoa escutar, ver, compreender e tirar suas próprias conclusões. Afinal, o divulgado por aí vai dos interesses de quem divulga e, geralmente, omite muitas verdades.
E continuam sendo explorados, pois o RS é o estado que paga a maior alíquota de ICMS, sabia??? Aliás, comemorar o que? a guerra perdida, a escravização? a covardia de mandar escravos lutarem uma guerra que não é deles e mentir que seriam libertados? de financiar uma guerra com a venda de escravos pro Uruguai? Orgulho de ser bunda mole e covarde? Bom, isso é a bem a cara do gaúcho que é enrabado pelo governo todo santo dia e não faz absolutamente nada! Bem a cara do gaúcho mesmo, o povo mais bundalhão do país. Sou gaúcha e não me orgulho desses fatos históricos, tenho vergonha na cara!
Concordo com muita coisa falada aqui, acho que a gente está sendo explorado há longa data…se é pra reclamar nesse sentido não vou torcer pro Brasil num jogo, não vou ver desfile no 7 de setembro, pq o brasileiro é tão pacato e perderdor quanto o gaúcho, o brasileiro paga a maior taxa de impostos no mundo e ainda tem que pagar tudo particular pq não há serviço que preste. Mas não deixo de amar a minha terra e amar minhas tradições e tudo que passamos pra chegar aqui.. minha avô sempre dizia quem ama o feio bonito lhe parece…prefiro ser idiota e ser feliz do que ser a ser totalmente critica da minha realidade e viver na amargura, pois ultimamente está difícil de se orgulhar não somente de ser gaúcho ou brasileiro, e sim de ser habitante do planeta Terra.
Discordo. Não acho que deveríamos comemorar essa guerra (que ao meu ver, nem revolução foi), não fora uma guerra do ou pelo povo. E sobre o que não ensinam nas escolas, pq não descreve sobre o massacre dos porongos? A traição aos escravos?
Olá, Marcelo, obrigada pela sua opinião, a ideia é falarmos sobre isso seja contra ou a favor.
Desculpe responder tanto tempo depois, hoje atualizei com a gravação de um novo áudio e percebi essa falha. Os nossos artigos são para incentivar as viagens, para as pessoas tirarem suas próprias conclusões conforme vão conhecendo os lugares e não existe um atrativo específico sobre o massacre dos porongos, os guias contam quando há interesse e questionamentos. Como é contado em diversos sites por pessoas que entendem mais de história do eu, deixo com quem sabe justamente para não falar sem ter certeza.
Adorei você pequenina com o chimas. Lindo texto, Rô 😉 Bjoca