No sul do continente africano existe um reino cercado por belas montanhas e savanas onde a maioria dos súditos vive e trabalha no campo. O pequeno país foi colônia britânica e, há quase 50 anos, se tornou uma monarquia com leis e regras determinadas pelo Rei conforme suas conversas com Deus e seus ancestrais. O Reino da Suazilândia proíbe partidos políticos, liberdade de imprensa e bruxas de voarem muito alto.
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Reino da Suazilândia
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No Reino da Suazilândia os homens podem ter quantas mulheres quiserem, algumas são negociadas por vacas ou tem a sorte de serem escolhidas pelo Rei em festival. O monarca tem apenas 14, mas seu pai teve 120 esposas, ambos com quantidade de filhos desconhecida! O sucessor ao trono (e consequentemente a influente rainha mãe) nem sempre precisa ser o primogênito, ele deve ser o filho único do rei com sua mãe e só pode ter meios-irmãos por parte de pai.
Todos os anos os astrólogos do Rei determinam a data do festival Reed Dance. Quando o ritual mais aguardado é o momento da dança de milhares de virgens seminuas em frente ao monarca, dessa forma ele pode decidir se quer mais uma esposa, ou não. Contudo, o protocolo só permite oficializar o casamento após confirmar que a jovem espera um filho do rei. E assim todos vivem felizes para sempre…
Realidade da Suazilândia
Parece ficção, mas é a realidade de um dos dez menores países do hemisfério sul e única monarquia absoluta do continente. Situado entre Moçambique e África do Sul foi uma das paradas na minha última viagem.
A Suazilândia tem pouco mais de um milhão de habitantes e a maior taxa de contaminados com o vírus da HIV do mundo – um terço da população. A expectativa de vida é 37 anos, metade das crianças são órfãos (40% infectados) e a Organização das Nações Unidas estima que 70% da população vive abaixo da linha de pobreza. Enquanto isso, o Rei leva uma vida luxuosa, acumula fortuna e tem plenos poderes sobre o seu povo.
Como foram meus dias na Suazilândia
Durante a minha estada não vi o rei, nem a pobreza esperada ao saber desses dados alarmantes. Encontrei um povo alegre, simples, educado e orgulhoso de suas tradições. Conversei com locais adoráveis, descobri a história no museu nacional, caminhei na maior favela do país, provei comida de rua muito saborosa, convivi com voluntários, visitei projetos assistenciais e fiquei com vontade de ficar mais tempo para explorar as belezas naturais e fazer um trabalho voluntário efetivo.
Os turistas estrangeiros, na sua maioria, visitam o país pelos safaris, acampamentos de luxo e atividades na natureza. Mas é difícil alguém decidir viajar para a Suazilândia, os viajantes param ali por estarem no caminho entre as atrações dos países vizinhos como Kruguer Park e o litoral de Moçambique. No meu caso, fez parte do roteiro da Pangea Trails e as expectativas criei horas antes, lendo um guia de viagens na estrada.
Entrar no país foi bem tranquilo, uma fila rápida, muita simpatia dos funcionários e mais um carimbo no passaporte. A primeira parada foi no supermercado a procura de refeições para os próximos dias e, de novo, nada de pobreza. Achei o estabelecimento normal como no Brasil, com bastante variedade e mais barato que na África do Sul. Aceitam Rand (dinheiro sul-africano) ou cartão de crédito e devolvem o troco na moeda local – Lilangeni.
O que fazer na Suzilândia
O dia seguinte rendeu a melhor experiência e lembrança no país: visitar as crianças de até sete anos nas escolas rurais. Mas a manhã foi longa e a história não combina com este post. Prometo escrever outro detalhado e emocionante sobre o trabalho da All Out Africa.
Se, me permite, vou pular para o almoço preparado na rua em frente ao mercado Lobamba Lomdzala, em Manzini. Um chicken dust (churrasco de frango com poeira) com tempero delicioso acompanhado por polenta e salada por menos de 5 reais. Pode comer sem medo e com as mãos.
De tarde, abaixo de um calor úmido perto dos 40 graus, um guia local nos levou para conhecer a realidade das ruas em Walking Tour. Pegamos uma van pública rumo ao centro de Lobamba (capital legislativa do país) para começar com o lado histórico cultural no Museu Nacional.
Dali seguimos para a favela a pé e, para minha surpresa, escuto vozes gritando: – Teacher! Teacher! (professora). Eram os pequenos que conheci na escola e vieram me cumprimentar na maior simpatia. Assim como todas as crianças que cruzaram o nosso caminho naquela tarde. Queriam atenção, corriam para nos seguir, pegavam na minha mão e me acompanhavam sem pedir nada. Quer dizer, alguns pediam para eu tirar fotos deles, faziam pose e queriam ver o resultado na hora. Quando eu mostrava a imagem na câmera sempre vinha um sorriso enorme e aquele olhar de agradecimento. Tudo na maior simplicidade.
Também entramos na casa de um artista que ensina pintura para as crianças da favela e provamos a tradicional cerveja caseira em um bar improvisado. Era no mesmo estilo que já havia provada no Soweto e continuava nada agradável, mas como dizer não para pessoas tão atenciosas? O jeito foi me posicionar para ser a primeira a provar. O pior da experiência, além do gosto, é o copo compartilhado entre todos, turistas e moradores. A cultura deles é baseada no compartilhar e não participar é uma ofensa.
No final do dia um churrasco típico preparado pelo guia local lembrou o churrasco uruguaio feito na grelha com cordeiro, gado, frango e legumes para comer sem talher. Carne saborosa, dedos engraxados e fartura na mesa, refeição totalmente aprovada. Para incrementar a janta, surge no céu uma enorme lua laranja que parecia pegar fogo. Depois descobrimos ser um eclipse.
Leia as experiências em + Coffee Bay + Swakopmund + Masai Mara |
Curiosidades culturais da Suazilândia
Informações fornecidas pelo guia que me acompanhou:
A sociedade no país é patriarcal formada por clãs. Os Swazis, como são chamados os locais, viviam em tribos (no campo ainda vivem). Como cada homem pode ter várias mulheres e, consequentemente, vários filhos até hoje, cada mulher tem sua oca com seus pequenos e vai construindo novas quando crescem. Antigamente, as filhas mulheres moravam na oca da frente como estratégia de defesa. Quando o inimigo chegasse, poderia se entreter com elas enquanto o resto da família fugia ou atacava.
20% da população ainda casa no jeito tradicional como era feito até os anos 40. A mulher virgem é trocada por 17 vacas, se ela não for mais virgem, a quantidade é negociável e, se for princesa, esses números inflacionam.
Os Swazis dançam muito nas cerimônias com o objetivo de entrarem em transe para se comunicarem com seus ancestrais.
Historicamente é um povo muito vaidoso adorador de espelhos. No museu tem vitrine contando esta história mostrando os mais diversos modelos para uso individual porque é hábito se olhar com frequência.
70% da população trabalha na agricultura em plantações de milho, abacaxi e cana-de-açúcar.
São dois idiomas oficiais: inglês e sussuáti (não tive problemas de comunicação falando inglês).
Muitos estão descontentes com a ostentação do Rei atual enquanto idolatram o Rei anterior, mas se sentem oprimidos e não falam abertamente. Apesar do anterior, Sobhuza II, ter tido 120 esposas, possuía apenas um carro para ele e um ônibus para elas. Ao contrário do atual, Mswati III, cada uma de suas 14 mulheres tem seu carro particular com motorista.
E as bruxas no início do texto?
Foi uma notícia que circulou e virou piada na Internet, mas nem havia gravado o nome do lugar que acredita em bruxas. Quem diria que eu iria parar justo lá! Agora, fui confirmar alguns dados sobre a Suazilândia no Google e ela aparece: bruxas foram proibidas de voar com suas vassouras acima de 150 metros. Quem for pego voando acima do limite pode ser presa e tem que pagar multa, informaram autoridade da aviação da Suazilândia. Leia o post original no Metro.
Tome Nota
A hospedagem foi no Lindawa Backpackers com piscina para aliviar o calor, linda paisagem e astral maravilhoso no Vale Ezulwini. Mas é bom reservar com antecedência porque está sempre lotado, pegamos as últimas barracas. Tem suítes, barracas fixas e iglus com banheiro compartilhado.
Passeios e guias podem ser contratados direto no hostel ou com Pangea Trails.
Peguei o início do verão que vai de outubro a março com muito calor e umidade.
Veja o post com as Melhores fotos do país.
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Úteis:
Para saber tudo o que eu fiz durante esta viagem, veja o vídeo e os links para os artigos no post O que fazer na África do Sul – 33 dias em 5 minutos.
O projeto Blogueiros na África do Sul (#DescubraAfricadoSul) foi uma realização do Travel Concept Solution e apoio da Pangea Trails, South African Airways, Detecta Hotel e incentivo da agência nacional de turismo (South African Tourism), da cidade de Joanesburgo (Joburg Tourism) e também de Cape Town (Cape Town Tourism). A viagem foi patrocinada, mas as opiniões aqui expressas são de livre expressão do autor. Veja também os blogs que participaram da viagem: Dentro de Mochilão, Territórios, Viajando com Eles e Viagem Criativa.
16 Comments
Oi Roberta! Tenho uma duvida, você foi para o pais de carro? passou pela fronteira da Africa do Sul? Gostaria de saber se precisa pagar alguma taxa para atravessar a fronteira!?
Você saberia me dizer!
obrigada!
Oi Olívia, sim fui de carro e não paguei nada em 2014. Foi bem simples e com pouca fila
Obrigada pelo retorno!!
Você alugou carro? mesmo pra companhia de aluguel não é necessário pagar taxa?^
att
Em resposta a Olívia
Fui na excursão Pangea Trail, agora não sei te dizer se o motorista pagou pelo carro.
Dá uma olhada neste artigo com dicas gerais da África do Sul, pode te ajudar e tem o contato da agência, talvez eles te respondam se perguntar diretamente https://territorios.com.br/dicas-aos-viajantes-africa-do-sul/
OLA ROBERTA
NASCI EM AFRICA E VIVI NA EUROPA 32 ANOS, HOJE TRABALHO COM SITUACOES QUE ME FAZEM CONHECER QUASE AFRICA TODA E ONTEM AO CHEGAR NA SUAZILANDIA SENTI O CORAÇÂO DE TODOS OS QUE AQUI CONSTRUIRAM SUA VIDAS E PENSEI CERTAMENTE NAO PENSARAM NUNCA EM UM DIA SAIR DAQUI
AFRICA TEM ATE CHEIRO DE AREIA E QUEIMADA AUTENTICAS MARAVILHAS QUE SINTO EM TODA AFRICA DOI SABER QUE O EGOISMO DOS HOMENS DESTRUAM DIA APOS DIA A IDENTIDADE DOS POVOS A DIGNIDADE E AFATAM ASSIM TODOS OS QUE PODERIAM VIVENCIAR TAIS EXPERIENCIAS
EM CERTOS PAISES OK PODE ESTAR MAL
MAS TAMBÉM ACHO UM EXAGERO O QUE SE DIZ DE AFRICA…
Obrigada pelo seu comentário Ana. Entendo perfeitamente. Sou uma brasileira apaixonada pela África
Eu vivi na suazi durante quatro anos e muito bonito e parece muito engracado toda a historia do rei pois tambem a mim me pareceu…mas so quem viveu la sabe a desgraca que aquilo e nao falo a nivel de infraestruturas mas sim de recursos humanos tudo gira em torno da corrupcao e ninguem e la bem vindo e o unico direito que se tem e pagar o vat para o rei, tambem encontrei pessoas simpaticas mas sao a mininoria porque 99% e racista ao maximo, de qualquer maneira este post esta bem estruturado e sim Africa esta bem longe do que se pensa pois e mt melhor..
Obrigada pela sua opinião. Seria um país mais incrível sem a corrupção, certamente
estou na swazy agora mesmo, sou de angola. tao lindo este pais
Olá Roberta
Sou Mocambicana e passei parte da minha infância na Suazi, infelizmente nunca mais tive a oportunidade de visitar o País pois vivo em Portugal a mais de 1 década.
Suas palavras e descrição trouxeram uma memória emotivional muito boa, acho um povo com uma simplicidade e genuidade única.
Custava-me acreditar naquilo que lia e na extrema pobreza muitas vezes relatada.
Obrigada por esta partilha fez-me recordar das minhas vizinhas que com 2/3 anos cuidavam de mim enquanto meus avós trabalhavam. Das minhas professoras e das danças. Em fim acho que é das melhores memórias que trago comigo.
Muito obrigada do fundo do coração
Beijinho e tudo de bom
Feliz que tenha gostado Manuela, ainda quero contar a experiência com as crianças e sobre o hostel. beijos
EU sou visinho da swazi, estou em mocambique, e realmente tem se inventado muita mentira sobre os paises africanos, associa-se a africa a desgraca total, mas quando vai se ao terreno percebe-se que o africano dependendo da regioao pode ser um povo muito feliz e mal entendido
Sim Axmimbire, por isso tenho cada vez mais vontade de conhecer todos os países africanos de perto
Adorei!!
Que demais! Eu tenho muita curiosidade de visitar um país africano pobre pra sentir na pele a realidade deles, quem sabe um dia…
Parabéns pelo post!
Oi Gustavo, tenho me surpreendido muito com a África. Mas este não é exemplo de pobreza que eu imaginava no continnente. Ainda há muito a ser visto por lá. Espero voltar em breve.
Obrigada pelo elogio e seu comentário