O Quênia abriga mais de quarenta comunidades étnicas definidas pela língua, origem e geografia. Mesmo com toda essa variedade, tive a oportunidade de me aprofundar em apenas uma quando visitei uma tribo Masai e contei com a proteção dos Masais no safari camp.
Os Masais são de origem Nilótica e tem seu próprio idioma, um dos cerca de oitenta existentes no país. O inglês é a língua oficial (herança da colonização britânica), swahili o idioma nacional (comum em todas as tribos) e uma terceira língua é ensinada nas escolas conforme a cultura regional.
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Masais eram guerreiros e hoje são pastores, quer dizer, muitos são fazendeiros cheios da grana. A ostentação é pelo número de cabeças de gado, pulseiras e colares. Mais ou menos ricos, todos moram de forma muito simples em casas de barro, mantêm tradições milenares e são pacíficos. Preferem mostrar quantidade de gado à bens materiais e só vendem os animais para necessidades específicas como saúde ou mandar um filho estudar na cidade.
O grupo étnico vive de forma semi-nômade no sudoeste do Quênia e norte da Tanzânia, exatamente nas planícies dos parques Maasai Mara e Serengueti. Mudam suas casas conforme a movimentação do rebanho, sua fonte de sustento primária.
Masais trabalham com no hotel
O primeiro contato com eles foi nas boas vindas do hotel Olare Mara Kempinski. Trajando vestidos com estampa xadrez e sandálias de couro davam pulos altíssimos para dizer olá com o corpo, um de cada vez. Sempre um me acompanhava entre a casa central até a barraca para evitar encontros com animais selvagens, principalmente no amanhecer e anoitecer. Andavam desarmados e um dia eu perguntei o que iria fazer se surgisse um hipopótamo (havia um lago cheio deles ao lado). Ele respondeu que a roupa o protegia e alertava apenas para eu não correr, confirmando que nada iria acontecer porque estavam acostumados com a presença dele. Definitivamente não me convenceu, o trajeto era sempre tenso com os barulhos noturnos e apenas a luz da lanterna. Ainda bem que não vi nada, apenas ouvi.
Masais em Maasai Mara
Visitar uma tribo foi um dos passeios em Maasai Mara. Fomos recebidos com cantoria e mais pulos em frente à cerca que protege a comunidade. Mas antes, o chefe veio até o carro, se apresentou, apertou a mão de cada um de nós dizendo que jovens viriam nos dar as boas vindas. Fez uma introdução sobre a visita, a venda de artesanato que viria no final e insistiu que fizéssemos perguntas aos jovens porque eles deveriam nos contar tudo sobre o modo como vivem. Frisou que antes de passar para a fase adulta, o jovem tinha que matar um leão, isto antigamente, e agora precisa mostrar conhecimento.
Começou com uma demonstração sobre o fogo, falou da criação de gado e como se alimentam basicamente de leite quando criança e complementam com vegetais, carnes e sangue de boi (cortam na veia, deixam sangrar, pegam o que precisam e estacam) conforme vão crescendo. São magros e comem somente o necessário, não por falta de comida e sim pelo hábito.
A casa dos Masais
Um jovem maasai nos convidou a entrar em uma das casas e logo a percepção mostrou que o espaço era maior do que aparentava por fora, mas na altura até eu tomei o cuidado para não bater a cabeça. Um corredor escuro leva para o quarto com apenas um pequeno buraco onde entra um feche de luz. É a única janela da construção por proteção contra os animais selvagens. Pareceu insalubre e piorou quando vi o local da fogueira, eles dormem, preparam a comida e descansam no mesmo lugar sem ventilação apropriada. Havia uma cama de casal e outra de solteiro para abrigar os pais e as crianças pequenas. Para os filhos mais velhos uma nova morada é construída conforme a necessidade. O lar ainda tem uma terceira peça para os terneiros por ser o único jeito de proteger os filhotes dos predadores noturnos.
Na frente da casa um grupo de crianças nos olhava com curiosidade, cheguei perto e sorridentes tocavam na minha pele com o dedinho. A comunicação foi só na base do olhar porque falavam um idioma próprio.
Costumes e tradições
Os Masais são vaidosos, fazem pose para câmeras e usam tecidos lindos, tanto na textura quanto nas cores. Vermelho é cor predominante para afastar os leões e o xadrez contrastante para confundir a visão de quem olha. Os colares são feitos de contas coloridas demonstrando tradição, espírito resistente e quem é o mais disputado entre as mulheres. São presentes das namoradas, no plural porque podem ter várias esposas, mas cada uma tem a sua casa com seus filhos. Elas mesmas constroem seu lar de barro, capim e esterco com a ajuda das outras mulheres. Também fazem artesanato, buscam água, preparam a comida e tomam conta dos filhos enquanto os homens cuidam da caça, do gado e dos negócios.
Nosso guia masai tinha um belo sorriso e explicava muito bem em inglês. Contou que ao fazer 18 anos vai para Nairóbi estudar medicina e depois voltará para ser o médico da comunidade. Difícil acreditar que ele realmente vai voltar depois de conhecer a vida na universidade e cidade grande, mas as quenianas que nos acompanhavam garantiram que era impressionante como a tradição deles é mais forte que o deslumbramento. Elas tem origem nas tribos da costa e conviveram com maasais na faculdade, afirmaram que mesmo quando conhecem alguém, a mulher tem que se adaptar à cultura deles e viver na tribo, caso contrário, eles preferem a sua tribo à namorada.
A mulher Masai
A mulher masai não vai para a universidade nem conversa conosco, apenas mostra o seu artesanato e abençoa, na língua local, as mulheres turistas para terem um bom marido e muitos filhos saudáveis. Toda a negociação para comprar artesanato é com o guia, ele define o preço conforme a emoção do momento sugerindo que vale pechinchar. Na hora não tive interesse em comprar nada, achei ruim o acabamento comparado ao visto em Nairóbi, mas achei válido ajudar a comunidade. Isso antes de entender que eles não precisam de ajuda e devem ter mais dinheiro que a minha família.
Resolução do passeio, tudo é um questão de ponto de vista e valores pessoais. Por isso sempre é válido conversar com locais e ver o lado deles antes de tirar conclusões. E sim, desde esse dia ando louca pra ler o livro “A Masai Branca”, de Corinne Hofmann. Alguém já leu ou viu o filme?
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Tome Nota
O passeio dura aproximadamente duas horas e é feito entre um safari e outro. A taxa é U$ 30 e pode ser agendado no hotel. É uma das 17 coisas pra fazer antes de morrer no Quênia.
Olare Mara Kempinski é o hotel mais luxuoso que já me hospedei. Outra demonstração que as aparências enganam. É um safari camp sem cercas no meio da savana. Cada barraca de lona tem energia elétrica, banheiro com banheira, assoalho e obras de arte. O atendimento também impressiona pela simplicidade e simpatia dos quenianos.
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