Porto de Galinhas une natureza, infraestrutura e identidade cultural

Conheci uma das praias mais desejadas do Nordeste e só me arrependi por não ter ficado mais tempo percorrendo cada cantinho daquele litoral belíssimo. Porto de Galinhas (PE) é um destino bem completo por agradar diferentes estilos de viajantes, é pequeno e, ao mesmo tempo, tem serviços comuns nas grandes cidades, além de ficar apenas 50 minutos do aeroporto de Recife.

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O que fazer em Porto de Galinhas

Praias em Porto de Galinhas

Em dois dias aproveitei somente a praia central de Porto de Galinhas porque cheguei abaixo de chuva e tive que fazer escolhas no único dia ensolarado. Em diferentes circunstâncias teria caminhado até o Pontal de Maracaípe e contratado um passeio de buggy “ponta a ponta” para conhecer as praias de Muro Alto, Maracaípe, Cupe e Serrambi. Se ficasse ainda mais dias teria voltado a pé nas preferidas, afinal, são 18 quilômetros planos de areia branca e fina com o visual dos coqueiros de um lado e o mar verde do outro. E a Vila de Porto de Galinhas fica no meio, podendo ir um dia para cada lado.

A Praia da Vila de Porto de Galinhas é movimentada diariamente, mas quem chega nas primeiras horas de sol pega praticamente vazia tanto a areia quanto o mar. Ali fica o atrativo mais famoso de Ipojuca, as Piscinas Naturais e os passeios de jangada.

Piscinas Naturais e os passeios de jangada

Os corais, cheios de mini caranguejos, estão praticamente na areia em frente ao centro de Porto de Galinhas e formam piscinas na maré baixa, mas os mais preservados e repletos de peixes ficam mais adiante acessível por jangada ou nadando. 

Minha mãe recomenda a jangada pelo mínimo esforço e prazer garantido por quase 2 horas. A navegação leva uns 15 minutos desde a areia e permanece cerca de meia hora no coral, então faz outra parada para banho em um banco de areia (visível na maré baixa). 

Preferi ir nadando e curtindo todo o caminho com snorkel, embora a água turva devido ao vento e chuva do dia anterior, o banho foi uma delícia e deu sim para ver peixinhos por todos os lados. Apenas não foi possível fazer as fotos maravilhosas em baixo d’água pela falta de visibilidade. A local Cristiana Noblat garantiu ser atípico mar mexido desse jeito e provou mostrando cenas incríveis no seu Instagram. Ela oferece o tour com máscara transparente e achei ótimo por não precisar ajustar toda hora como geralmente acontece com o equipamento mais comum. 

Mergulho Full Face com Set Sport

O mergulho guiado pela Cris depende das habilidades de cada um e pode variar, como sou boa nadadora e a maré estava quase alta, nadamos por cima dos corais até o banco de areia, isso exigiu força e não dava para apoiar os pés durante a travessia. Inclusive, fomos mais rápidas que a jangada partindo no mesmo instante. Se a maré estivesse baixa, seria preciso contornar toda a barreira exigindo bem mais esforço, nesse caso, provavelmente iria contratar a jangada e nadar bastante ao redor dos corais. Observando os turistas na jangada, percebi eles curtindo o passeio, mas parados sem ver a parte mais bonita: explorar os corais se afastando da embarcação.

Tábua de maré Porto de Galinhas

Visita ao artesão responsável pelas galinhas

Gilberto Carcará é o artista idealizador das famosas galinhas gigantes espalhadas pelo balneário e a identidade visual de Porto de Galinhas. Na visita ao ateliê é possível ver ele trabalhando, os materiais utilizados, a diversidade e todas as etapas de criação de suas obras, além de fazer perguntas. Eu quis saber da história do nome do balneário, a inspiração para criar e o papo só aumentou meu gosto pelas galinhas. Compartilho a história com você.

As galinhas existem há 24 anos e tudo começou quando Gilberto foi convidado a morar em Ipojuca com duas tarefas: criar uma identidade visual para o lugar e fazer um trabalho social. O convite veio porque ele já trabalhava em Olinda aproveitando os troncos de coqueiros como matéria-prima para suas obras de arte.

“No nordeste, o que mais tem caído na praia é coqueiro, além de fazer arte, é sustentável. Cheguei com uma proposta de sustentabilidade ao utilizar a matéria-prima encontrada na praia.” 

Responde Carcará.

Carcará teve a ideia para a comunicação visual e essa foi abraçada pelos comerciantes locais. Eles encomendam as galinhas, colocam suas marcas para deixar na frente do estabelecimento e isso atrai o turista passante. O viajante quer tirar foto com a obra, então presta atenção no estabelecimento e pode virar cliente. Por isso, a galinha vai além do projeto cultural e ainda foi amplificado pelas redes sociais, reconhecida até fora do Brasil.  

O projeto social

O trabalho social durou 1 ano e 3 meses e tinha como objetivo diminuir a quantidade de garotos pedindo dinheiro para o turista. Carcará começou a ensinar o seu ofício aos jovens, deu propósito a eles, despertou o interesse para as artes e mostrou como aquilo poderia ser uma fonte de renda. Muitos se encontraram nas artes e são os artesãos talentosos responsáveis pelo souvenir que você compra hoje. Quem passou por Porto de Galinhas e não trouxe uma galinha de artesanato?

“Eles entenderam que ficar na rua pedindo dinheiro não iria transformar eles em nada, hoje são adultos, tem famílias e suas oficinas em casa. Até têm outros trabalhos, mas complementam a renda fazendo o que gostam e compartilham o conhecimento com seus filhos e comunidade. O projeto, iniciado há 24 anos, continua rendendo frutos e se multiplicando.

Nem todos nasceram artistas, mas aprenderam a técnica.

As mães viram o sucesso dos filhos e começaram a fazer o que sabiam como panos de prato com desenhos de galinhas e a ideia se multiplicou.”

Carcará conta com orgulho.

Segundo Gilberto, esse mesmo trabalho social está renascendo com a atual administração do município de Ipojuca, estão valorizando a educação e a comunidade.

A origem do nome Porto de Galinhas 

O balneário era chamado de Porto Rico e a mudança veio após o fim da escravidão no Brasil. Foi ali onde aconteceu o maior trafego ilegal de negros no país. Os navios chegavam da África lotados de galinhas da Angola, mas era só fachada porque escondido nos porões estavam os escravos. Somente na madrugada, eles eram retirados e colocados à venda para os donos de engenho. Então havia uma senha utilizada para divulgar o produto: “tem galinha nova no porto”. Desse jeito sabiam que tinha chegado mercadoria ilegal. De tanto utilizar essa senha, começaram a chamar o balneário de Porto de Galinhas e assim ficou até hoje como muitos rótulos existentes na América do Sul.

Aí entra o artista! A história triste é maquiada através do trabalho que vem do próprio material local, caído por completar o seu tempo de existência.  Carcará insere toda essa história cultural na sua obra pelo viés lúdico para não ofender o lazer do turista, porém, sem deixar o passado ser esquecido.

“Atrás de uma galinha dessas, colorida, alegre, está toda a história triste, mas a arte possibilita que toda essa história triste se torne em um contexto alegre, onde o turista fica contente e se abraça no coqueiro para tirar fotos. Enfim, a arte transforma.”

Explica Gilberto.

O Ateliê Gilberto Carcará é aberto ao público diariamente e ele nos recebe com a maior simpatia no endereço rua Carcará-Merepe II das 10h às 16h.

Centrinho

O centrinho não é pequeno, entre o calçadão e as ruas adjacentes encontra lojas de marca, galerias, restaurantes, feira de artesanato e movimento de turistas o ano todo. Com destaque para a rua das sombrinhas coloridas e a exposição permanente de personagens famosos como Elvis, Amy Whinehouse, Frida Khalo e outras obras de Carcará seguindo o conceito das galinhas.

Localizado na rua das Piscinas Naturais, o Farol Porto de Galinhas tem acesso por elevador e cobra ingresso, permitindo a permanência por até 20 minutos. Aberto diariamente das 11h às 18h.

Era uma segunda pós feriadão na baixa temporada e o centro estava bastante movimentado por turistas pós 21h. Isso chamou a atenção ser tão perto da insegura Recife e eu me sentir completamente segura de sair do hotel a noite sozinha e caminhar por cerca de uma hora. Por precaução, antes de sair perguntei no hotel e todos diziam para passear tranquilamente. Há bares com música ao vivo e casas noturnas.

Praias perto de Porto de Galinhas

Porto de Galinhas é vizinha de outros paraísos como o Cabo de Santo Agostinho e Praia dos Carneiros e cabem no roteiro contratando passeios de um dia ou se estiver de carro alugado. Não tive tempo, mas mãe recomenda.

Onde comer

Entre as várias opções interessantes no centro de Porto de Galinhas, experimentei dois restaurantes deliciosos, um com vista para o mar e o outro somente para os hóspedes da Pousada Quatro Estações, conforme relatei no artigo indicado no próximo tópico.

O almoço com vista para as piscinas naturais e boa música com DJ foi no Munganga Bistrô. O restaurante oferece ambientes climatizados, vista para o jardim ou na varanda sentindo a brisa. Frutos do mar e sucos naturais são a pedida, mas há várias opções e foi difícil escolher. Os camarões grandes ou no molho do peixe estavam muito saborosos e ouvindo o barulho das ondas ficou ainda mais especial.

Munganga Bistrô fica na rua das Piscinas Naturais, 32, em uma galeria entre o calçadão das sombrinhas e o mar.

Qual é o melhor lugar para se hospedar em Porto de Galinhas

Contei minha experiência na Pousada Quatro Estações, onde a  avaliação dos usuários no Booking.com é fantástico com nota 9,6 só para a localização e recebeu o selo “Viagens Sustentáveis”. Fica 150 metros das piscinas naturais e 300 metros do calçadão, podendo fazer tudo a pé.

RESERVE AQUI

Como ir de Recife para Porto de Galinhas

O balneário Porto de Galinhas está localizado no município de Ipojuca, em Pernambuco, distante apenas 50 minutos da capital Recife e do aeroporto internacional em Boa Viagem. 

Para chegar pode escolher um transfer, contratar um tour, pegar o ônibus que sai do aeroporto ou da rodoviária, ou ir de carro alugado pela BR-101 passando pelas estradas PE-060, PE-038 e BR-009.

Optei pelo ônibus Expresso Vera Cruz partindo do aeroporto e viajei confortável no ar-condicionado pagando um preço acessível. São vários horários em duas linhas: 191 e 195 (com ar-condicionado) e desce na rodovia em frente ao centrinho de Porto de Galinhas. No balcão de informações do aeroporto indicam a localização exata da parada. Na volta pega o mesmo transporte, no entanto, pode demorar e é comum motorista de táxi ou aplicativo oferecer carona por um valor um pouco maior que o ônibus se tiver 4 passageiros na parada. Voltei assim porque seria mais rápido, disseram ser seguro e os motoristas conhecidos, diferente da vinda quando me ofereceram e tive receio de entrar no carro deles.

Perto de onde os ônibus chegam de Recife, há o Centro de Atenção ao Turista – CAC com todas as informações sobre Ipojuca. Na Estrada de Porto de Galinhas, 09.

+ opções partindo de Maragogi e João Pessoa

Se estiver em Maragogi, Alagoas, deixo a dica da minha mãe. Ela achou super caro o valor do transfer para Porto de Galinhas e preferiu contratar um passeio guiado, avisando a empresa que ao final do dia não iria voltar com eles. Ela levava uma bagagem pequena e não houve problema algum no transporte, além do serviço mais completo, ainda economizou 150 reais. A mesma empresa oferece esse tour partindo de João Pessoa.

Qual a melhor época para ir a Porto de Galinhas 

O clima é quente o ano todo com maior garantia de sol nos meses de setembro, outubro e novembro. Perfeito para quem consegue aproveitar os feriados do segundo semestre ou pode viajar fora da altíssima temporada de verão. O tempo segue bom até abril, mas os preços de dezembro a março assustam e exigem maior planejamento. Visitei final de abril e peguei chuva, vento e mar mexido, mas foi falta de sorte minha as chuvas chegarem mais cedo em 2022. Mesmo assim, tive um dia inteiro de sol para aproveitar o melhor de Porto de Galinhas.

Vale planejar a data da viagem em época de lua cheia, ou nova, dessa forma, garante a maré baixa e pega melhores condições nas piscinas naturais.

Outra dica para quem não gosta de praias lotadas, é passar o final de semana em Recife e somente os dias da semana em Porto de Galinhas como eu fiz. Nesse contra-fluxo, porque os moradores preferem as praias nos arredores e também viram turistas, o trânsito na capital fica bem mais tranquilo para circular e há muito o que fazer.

© Todos os direitos reservados. Fotos e relato 100% originais. Imagens sem marca d’água de Cris Noblat.

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