CULTURAL

Petra: uma cidade inteira de pedra


Petra (construída por volta de 300 A.C.) não é só aquela imagem encontrada quando buscamos as 7 Maravilhas do Mundo. O lugar situado entre vales e penhascos no sul da Jordânia é um sítio arqueológico do que já foi uma cidade inteira de pedra. O povo Nabateu (ancestrais dos árabes) morava nas cavernas de arenito rosa e moldava fachadas e interiores de suas casas, tumbas e templos ao redor da capital do seu reino.  

Bons engenheiros já naquela época, os Nabateus criaram uma represa para evitar inundações no período das chuvas; um tribunal, um teatro, um mosteiro e várias outras construções além do famoso Tesouro de Petra. Tudo isso em uma área de mais de 10 mil km2 ao lado da cidade Wadi Musa, porta de entrada e dormitório para quem visita Petra. Ou seja, vale se programar para passar três dias explorando a região. Eu fiquei um dia e meio e não consegui fazer tudo, embora tenha feito muito acompanhada por guias excelentes em caminhada puxada. Conto a seguir o que visitei por lá.

Rua das Fachadas na cidade de pedras: Petra
Rua das Fachadas na cidade de pedras

Petra by Night

Cheguei no dia certo e a tempo de assistir ao espetáculo de som e luz em frente ao Tesouro, ou Al Khazna. A fachada cartão postal de Petra. É tudo muito turístico com filas para comprar ingresso no Centro de Visitantes e ampla área com restaurantes, lojas e banheiros em instalações modernas. A partir deste ponto, seguimos o movimento de pessoas falando idiomas do mundo todo em direção ao Siq.

A noite, sob a luz das estrelas e sacos com velas indicando o trajeto, não dava para saber onde estava e o que era Siq, mas foi uma primeira impressão inesquecível e emocionante. O céu estava limpo e logo o caminho ficou estreito entre as paredões de pedra. Minha mente foi longe observando a silhueta das rochas naquela trilha noturna de pouco mais de 1 km. Então o espaço abre e há uma multidão sentada no chão entre centenas de velas. Al Khazna está em frente, contudo, suas formas se perdem na escuridão. Teve início uma música regional agradável e uma pessoa calmamente contando histórias enquanto o público assistia em silêncio. Depois veio o aviso para preparem as câmeras porque a iluminação seria ligada por pouco tempo.

Petra by Night
Petra by Night

Mesmo sem conseguir tirar uma foto boa, seja pela falta de um bom tripé ou pela quantidade de pessoas na frente, a sensação de estar ali é muito boa. Só fez aumentar a ansiedade de voltar no dia seguinte para ver o cenário com iluminação natural. E conversando com outros turistas, era unânime ser aquele lugar o mais especial das 7 Maravilhas do Mundo.

Trilhas em Petra

Chegamos cedo ao Centro de Visitantes e Samer nos posicionou em frente ao mapa do sítio arqueológico para dar início as explicações. Existe a parte mais turística e também uma série de trilhas, curtas ou longas, para passar até três dias percorrendo. E a sugestão dele foi começar por um caminho alternativo até a parte mais alta. Então descer pela rota tradicional passando pelos principais pontos turísticos de Petra.

Trilha sem caminho delimitado
Trilha sem caminho delimitado

O guia local, Mohammad, se juntou ao grupo e foi contando a origem de Petra, sua geografia e seus habitantes conforme os cenários à nossa frente. Nosso grupo foi o único por algumas horas, provavelmente, porque não seguíamos uma trilha demarcada e sim o guia de rocha em rocha. Cabritos começaram a surgir e encontramos uma família de beduínos, eles ainda moram por ali em barracas e cavernas como seus ancestrais. Hoje são pastores. Vendem chá e objetos aos turistas. As chuvas fazem moedas, cerâmicas e pedras coloridas serem trazidas pelas águas e os beduínos aproveitam para vender. Mas a recomendação do parque é não comprar porque não há como saber se são falsificadas.

Beduíno em Petra
Beduíno

Descemos até um vale colorido, pelas flores que nascem depois das chuvas, onde outras pessoas também se aventuravam com guias locais. Era uma bifurcação de caminhos bem fáceis de se perder ou cair nos buracos, por isso, não deve ser feito sem a presença de quem conheça bem o lugar. Então paramos para um chá de sálvia deliciosamente doce em uma tenda de outro beduíno. Ele nos convidou a ver a vista da sua sacada. Lá embaixo estava Al Khazna sendo admirado por dezenas de pessoinhas. O morador cobra um valor ou abre um sorriso e libera a entrada para quem compra chá ou café.

O Tesouro de Petra visto de camarote
O Tesouro de Petra visto de camarote

Tesouro: o mais visitado em Petra

A fachada mais famosa em Petra é conhecida como Tesouro, ou Al Khazna. São quase 40 metros de altura decorados com colunas, frisos e imagens no exemplo mais perfeito da engenharia dos Nabateus.

Embora sua origem e função ainda sejam um mistério, acredita-se que foi esculpida no ano 1 D.C.. Arqueólogos se contradizem, alguns defendem a ideia de ter sido um local para guardar documentos, enquanto outros dizem ser um templo. Além disso, escavações recentes encontraram um cemitério na parte mais profunda. Como o sítio ainda é objeto de estudo, turistas só podem visualizar a fachada.

Montanhas ao redor de Petra
Montanhas ao redor de Petra

A vista na parte mais alta

Continuamos subindo até alcançarmos 1000 metros de altura e uma vista 360 de Petra. Ali percebi alguns detalhes como: a cidade Wadi Musa tem localização ainda mais alta; a beleza das montanhas ao redor; e porque os gregos chamaram a região de Petra (pedra em grego). Então o guia começou a apontar para alguns pontos e contar a história de cada um deles: Teatro, Tribunal, Mosteiro (El Decir), Sacrifícios entre outros.

O Teatro de Petra
Teatro, construído entre 4 A.C. e 27 D.C., acomodava 4 mil pessoas sentadas, séculos depois teve partes reconstruídas pelos romanos
Mosteiro fica na parte mais alta afastada e o acesso é por escadaria de 800 degraus
Mosteiro fica na parte mais alta afastada e o acesso é por escadaria de 800 degraus
Parte de Wadi Musa no alto
Parte de Wadi Musa no alto

Esta zona é visitada pelos mais aventureiros por conta do acesso irregular e esforço físico. Não é tão difícil, mas o calor e clima seco cansam quem não está aclimatado. A parada nas tendas dos beduínos é essencial para descansar e encher o sangue de açúcar com o chá quente servido por eles.

A descida foi cheia de paradas para descanso ou entrar em cavernas. Algumas esculpidas pelo homem e outras pela natureza, porém, todas geladas, ou melhor, agradáveis para refrescar. Os interiores são lindos pelas cores fortes. Já as fachadas e rochas vistas de perto tem tons mais apagados pela poeira, mas a textura é maravilhosa.

Fachada esculpida na entrada de uma caverna
Fachada esculpida na entrada de uma caverna é o Túmulo Renascentista do século 2 D.C.

A cidade de pedra

Ao me deparar com um conjunto de frentes esculpidas lado a lado no pé da montanha, fez todo o sentido chamarem de A Rua das Fachadas. Então o guia explicou serem túmulos nabateus de pessoas importantes em determinado período do reinado. De perto são gigantes e é preciso habilidades em escalar rochas para explorá-las. Continuei caminhando no meio da muvuca de turistas pela Avenida das Colunas, passei pelo Teatro e alcancei o Tesouro pelo caminho inverso ao feito na noite anterior.

Rua das Fachadas e as pessoas explorando
Rua das Fachadas e as pessoas explorando

O destino mais visitado da Jordânia é realmente lindo e valeu muito ter chegado cedo e feito toda essa volta pra sentir a energia do lugar sem a interferência inicial da grande quantidade de turistas. Mas senti falta de ver o exibido no filme “Indiana Jones e a Última Cruzada” no momento em que estão no cânion e enxergam o templo onde está escondido o cálice sagrado.

Siq e a muvuca em frente ao Tesouro
Siq e a muvuca em frente ao Tesouro
O Tesouro visto pela primeira vez pela maioria dos turistas
O Tesouro

Entrei alguns metros no Siq e voltei. Siq é a antiga estrada de acesso à cidade a partir da represa, mesmo caminho feito para assistir Petra by Night. Na verdade, é um cânion com paredes de até 80 metros de altura. Alguns pontos são esculpidos pelos Nabateus e outros pela ação da natureza. O Tesouro vai se revelando pouco a pouco entre as paredes irregulares do Siq. Durante o dia, pode atravessá-lo em charrete, camelo ou mula, mas recomendo ir a pé porque os animais não parecem muito bem cuidados por ali.

Informações para visitar Petra

Petra by Night acontece todas as segundas, quartas e quintas às 20h30 com duração de 2 horas ao total. É pago e custou 17 JD em 2018.

O sitio arqueológico de Petra abre diariamente das 6 às 16h, ou 18h no verão.

Quanto custa conhecer Petra: o valor do ingresso para um dia é caro, mas esta incluso no Jordan Pass. O passe dá direito a visitar os demais principais pontos turísticos da Jordânia quantas vezes quiser no período de duas semanas. Ainda agrega a taxa do visto de entrada no país se for adquirido online antes de chegar. Só os custos com o visto e o ingresso em Petra já valem fazer o Jordan Pass. Apenas, é preciso 4 dias de permanência mínima no país ou a taxa será cobrada pela imigração na hora da saída. Custa 70 JD em 2018. A moeda da Jordânia vale um pouco mais que o euro.

Não vale a pena fazer um passeio bate e volta desde Amã ou quem vem de Israel por Eilat. Sugiro ficar, pelo menos, uma noite em Wadi Musa. Sendo três dias o indicado para fazer tudo. Ao total, caminhei 13 km nos dois dias, na maior parte o acesso é exclusivamente por trilhas a pé.

Quem leva: meu passeio foi todo organizado pela Rahhalah Explorer. Uma empresa de Dubai também atuante no Kwait e Jordânia. Os três fundadores foram os primeiros árabes a escalarem as maiores montanhas do planeta e trouxeram a técnica e paixão pela aventura como diferencial ao receptivo.

O que levar: roupas frescas e confortáveis (casaco leve para sombras e noite se for inverno, em maio não foi necessário); boné, água e tênis para andar em pedras soltas e muita poeira.

SAIBA COMO FOI O ROTEIRO DE 10 DIAS NA JORDÂNIA

Foto clássica em Petra
Foto clássica em Petra

Tome Nota Wadi Musa

Hotel em Wadi Musa: Petra Panorama Hotel é confortável e lindo pela vista, mas ofereceu o pior café da manhã da viagem. Como o destino é muito turístico e lota o ano todo, os serviços nem sempre são os melhores. Dizem que Petra Marriot Hotel oferece o melhor serviço e vista na região.

Quando ir: a visita vale o ano todo. No entanto, é muito quente no verão e chuvoso no inverno do hemisfério norte.

Onde comer: dentro do parque há várias opções turísticas e recomendo os chás oferecidos pelos beduínos. A dica do nosso guia foi almoçar fora do parque, em restaurante com comida típica, e tudo estava ótimo. My Mom’s Recipe oferece um ambiente agradável e com vista no terraço.

Restaurante My Mom's Recipe em frente a Petra
Restaurante My Mom’s Recipe
Tradicional Mansaf de carneiro
Tradicional Mansaf de carneiro
Arroz com legumes e temperos
Arroz com legumes e temperos

Veja mais fotos de Petra:

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Dentro de uma caverna toda esculpida em Petra
Dentro de uma caverna toda esculpida

Esta viagem foi um convite da ATTA para participar do Adventure Next Near East na Jordânia.

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O T de madeira é a mascote que viaja com a Roberta em busca de experiências. Já passou por todos os continentes e mostra por aqui cenários e dicas para inspirar a sua viagem. Saiba por onde andou o T. Se gosta das fotos com Tesão, siga @tesaoporviajar no Instagram.

Roberta Martins

Comunicadora, idealizadora deste site, fotógrafa e guia de turismo. Há 16 anos relata suas experiências de viagem focando em cultura e aventura. Saiba mais na página da autora. Encontre no Instagram

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