Acho que é em momentos como esse que percebemos os choques culturais e, naturalmente, como a mesma coisa pode ter significados totalmente distintos. Passei a virada de 2011 para 2012 com os colegas da empresa que trabalhei no sudeste asiático e conto como foi viver o Ano Novo no Camboja.

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Diferenças culturais no Camboja

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Tínhamos sido agraciados pelo nosso patrão com uma viagem de 2 dias para o litoral, na famosa cidade – pelo menos entre mochileiros mais avançados no Sudeste Asiático – de Sihanoukville. A cidade em si não tem grandes atrativos, mas as praias e ilhas sim. Ficamos a maior parte do dia bebendo cerveja e comendo camarão, lula, etc. Pense que Sihanoukville e Phnom Penh (capital do Camboja) são próximas o suficiente para haver um comportamento Guarujá-São Paulo. Ou seja, estava muito cheio de pessoas.

Uma das primeiras coisas a se notar é que os cambojanos não usam sunga ou biquíni na praia. Tal prática desapareceu desde que o país foi arrasado pelo regime controverso e genocida de Pol Pot na década de 70. Portanto, à exceção das crianças que nadavam completamente nuas, todos nadavam de roupas. Alguns inclusive com calças. Era comum que chamasse a atenção de todos quando alguma eventual turista europeia ou australiana era vista deitada de biquíni na praia.

Outro aspecto interessante seria a filosofia de se “embebedar” dos meus colegas de trabalho. Algumas outras vezes em que tinha levado alguns deles comigo para tomar cerveja após o expediente raramente consegui que bebessem mais que 1 copo comigo. Porém, ali não só estavam bebendo muito mais do que isso, mas na ocasião de uma aposta, eu fui vencido muito facilmente e ainda ganhei uma enorme dor de cabeça para o dia seguinte. Aparentemente há momentos de beber e momentos de não beber, apenas isso. Revi esse comportamento outras vezes ao longo de 2012.

Fogos de artifício na praia durante o Ano Novo no Camboja
Fogos na praia
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Ano Novo no Camboja

Porém, de todas essas impressões a que mais me marcou com certeza foi o momento da virada. Não posso dizer que fiquei triste – minha namorada e meus pais me ligaram alguns momentos antes, afinal há um fuso de 10 horas entre Brasil e Camboja – mas pude sentir de forma muito clara a diferença entre a importância dada a determinados ritos de passagem para cada povo e cada pessoa. No Camboja há o Ano Novo Khmer, que é em abril. Há o Ano Novo Chinês, que é em fevereiro, sendo comemorado pela população embora não seja oficial. E há o Ano Novo Cristão, que é o nosso.

De todos, o que têm menos sentido, afinal quase  a população toda é budista, é o nosso 31 de dezembro. À parte disso, uma vez que os calendários mudam para todos, ocorre uma comemoração, geralmente baseada única e exclusivamente em fogos, bebida e comida. Desde que consigo me lembrar quando criança vejo o Ano Novo e Natal como momentos especiais. Não só porque de repente a casa estava cheia, todos os primos, tios, avós, trazendo presentes e comida, mas principalmente porque parecia que algo mudava. As pessoas ficavam mais reflexivas, a decoração aparecia nas ruas, e todo mundo acabava entrando nesse espírito que, não importa como o ano foi, mas o próximo está aí e te dará a chance de fazer tudo diferente, ou igual.

A virada

Pessoas celebrando sem abraços nem simbolismos
Sem abraços nem simbolismos

Às 0 horas do dia 1º de janeiro de 2012 houve gritaria, fogos foram estourados, bebidas viradas, mas, nenhum abraço, nenhum desejo de boa sorte, nenhuma comoção. Aquele momento, tão simbólico na cultura ocidental, para boa parte dos cambojanos, não representava nada além de uma farrinha. Lembro até que cheguei a abraçar um colega, que não entendendo o que estava acontecendo, pouco deve ter compreendido meus votos de saúde e felicidade. Porém, esse é um aprendizado que temos ao estarmos inseridos em culturas que sejam muito diferentes da nossa.

Ninguém fez nada errado, aquele momento simplesmente não tem o mesmo significado que nós ocidentais compartilhamos. O contrário também é válido, afinal, quantas vezes também não nos comovemos com a causa ou o momento alheio simplesmente porque aquilo não faz sentido para nós. E não precisa ir pra outro país pra descobrir isso. Porém, não me alongando mais, de qualquer forma, a todos um “Feliz Ano Novo”, com todo o sentido pessoal que isso lhe traga! 🙂

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O T de madeira é a mascote que viaja com a Roberta em busca de experiências. Já passou por todos os continentes e mostra por aqui cenários e dicas para inspirar a sua viagem. Saiba por onde andou o T. Se gosta das fotos com Tesão, siga @tesaoporviajar no Instagram.

Autor João Paulo Biscaro

Viajar não é apenas um lazer mas uma forma de ver e entender o mundo fora do sofá e da TV e ver com os próprios olhos o que de fato está acontecendo. Sempre encontramos outras pessoas, fazemos novas amizades, construímos opiniões e desconstruímos preconceitos. Mantém um blog cobrindo sua vida diária no Camboja e as viagens pelo Sudeste Asiático (futuramente pelo mundo) no blog Holiday in Cambodia | Siga no Instagram

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