Que delícia passar alguns dias na Ilha de Marajó (PA), quer dizer, no Arquipélago do Marajó, além da maior ilha costeira do Brasil, abriga cerca de 3.000 ilhas no encontro entre o rio Amazonas, seus afluentes e o Oceano Atlântico. Um lugar de cenários pitorescos com búfalos e guarás, belezas naturais únicas como os mangues mais altos do mundo e a cultura milenar dos povos originais marajoaras. Tudo isso no Bioma Amazônia com 52% de território protegido. Continue a leitura para saber como visitar esse paraíso.
Acesso rápido:
Sobre a Ilha de Marajó
O maior arquipélago fluviomarinho do mundo é formado por 18 municípios e algumas reservas extrativistas. Enquanto Breves é a cidade mais populosa, em Soure encontramos as praias mais bonitas e melhor infraestrutura para receber viajantes. Famosa pelos queijos, búfalos, mangues e cerâmica marajoara, a Ilha de Marajó é um dos principais destinos turísticos do estado do Pará.
Localizado no estuário do Rio Amazonas, apresenta fauna e flora típicas do bioma Amazônia entre rios e igarapés, mas também algumas áreas de campos alagados e mangues. Os manguezais da costa de Soure, em especial, se destacam por sua altura impressionante, chegando a atingir 30 metros.
O que fazer em Soure
Conhecida como a “Capital do Marajó”, Soure foi o único destino que explorei durante meus 3 dias na Ilha de Marajó. Para um roteiro mais completo, recomendo pelo menos 5 dias. Com sua infraestrutura simples e acolhedora, a cidade me impressionou pelas largas ruas arborizadas e bem planejadas. Então descobri que foi projetada por um dos engenheiros de Brasília e de Belo Horizonte, o urbanista Aarão Reis.
Veja a seguir 5 atividades que recomendo fazer por lá:
1. Aproveitar as praias
As praias de areias brancas e água doce do Rio Paracauari ficam salobras e esverdeadas quando o mar invade durante o período de seca na Amazônia. Já o cenário e a calmaria mudam conforme a maré no mesmo dia. Uma hora é preciso caminhar bastante para tomar um banho em águas calminhas, em outra fica bem pertinho dos quiosques e quando ocorre a transição é perigoso enfrentar a correnteza. Testei ficar parada na água um dia e precisei fazer muita força para não ser arrastada enquanto o volume aumentava muito rápido. Inclusive, um pescador alertou para eu tirar meus pertences da areia logo ou seriam levados, mesmo parecendo ainda estarem longe.
Barra Velha
Localizada a apenas 3 km do centro de Soure, é possível chegar a pé, de bicicleta ou contratando transporte. A praia oferece quiosques, guarda-sóis de palha, cadeiras e mesas na areia. Ao redor, caminhos pelos manguezais enriquecem a experiência. De animais, só vi urubus, muitos voando e caminhando pela areia em busca de comida. Ali vi placas sobre a Trilha Costa Marajoara com dois trechos que deram vontade de fazer:
- Garrote: 5 km (ida e volta).
- Pesqueiro: 8 km (só ida).
Praia do Pesqueiro
A praia apresenta a melhor estrutura em várias malocas de palha com redes para descansar e serviço de entrega de comidas e bebidas pé na areia. Fica 10 km do centro de Soure e apenas um trajeto de 800 metros em canoa motorizada separa da Praia do Céu.
Praia do Céu
Uma praia deserta com possibilidade de ver linda revoada de aves brancas como aconteceu logo ao cruzar o rio de canoa. Após uma boa caminhada encontrei apenas dois restaurantes e atrás deles fica uma encantadora vila de pescadores chamada Comunidade do Céu. Entre casinhas coloridas com banheiros na rua, vi búfalos e aves se refrescando nas pequenas lagoas atrás das construções de madeira. Vim a pé, mas pode ir de moto ou de carro por 13 km.
Praia Caju-Una
Considerada por mim a mais bonita de Soure, especialmente na maré baixa, graças aos coqueiros de raízes expostas e riachos que cortam os manguezais. Fica ao lado da Praia do Céu, porém, o caminho é mais agradável e curto pela Comunidade do Céu por cerca de 3 km. São 16 km de carro de Soure ou menos de moto porque corta caminho por uma fazenda com cenários deslumbrantes ao pôr do sol. Uma diversidade linda de aves pousando para dormir, como garças, guarás, tuiuiú e outros pássaros nativos.
Praia do Goiabal
Outra praia maravilhosa entre mangues e rios com tom da água variando do verde ao marrom. Essa totalmente deserta por ser propriedade privada, com acesso exclusivo para visitantes da Fazenda São Jerônimo através de bela travessia do Igarapé do Tucumanduba ou por trilha em passarela de madeira entre um denso manguezal. Ali estão as árvores de mangue com as raízes mais altas que já vi, deixando a paisagem surpreendente.
Dicas para tomar banho de rio na Amazônia
Tomar banho nos rios da Amazônia é uma experiência única e inesquecível, mas requer alguns cuidados essenciais para garantir sua segurança. Aqui estão três regras fundamentais:
Evite fazer xixi na água
Sim, é verdade! O temido candiru, um pequeno peixe, pode ser atraído pela urina e causar sérios problemas de saúde ao entrar na uretra. Caso isso ocorra, a remoção é feita apenas por cirurgia.
Caminhe arrastando os pés
Ao entrar no rio, não pise diretamente no chão. Em vez disso, arraste os pés levemente. Isso ajuda a evitar acidentes com arraias e levar uma ferroada dolorida.
Atenção à correnteza e aos mangues
Fique atento à correnteza e somente entre nos pontos indicados pelos guias ou pescadores. Também deve ter cuidado ao caminhar pelos mangues se notar a água subindo, é muito rápido e o caminho por onde veio logo desaparece. Há risco de isolamento, insolação e afogamento.
2. Passeio na Fazenda São Jerônimo
Para acessar uma das praias mais bonitas da Ilha de Marajó – Goiabal, e entender melhor essa história dos búfalos, a visita à Fazenda São Jerônimo é imperdível. O proprietário e o guia tiram as nossas dúvidas e levam para uma imersão sem igual na floresta que pode alterar a ordem conforme a maré. Pode começar com o barco pelo igarapé ou trilha pelo manguezal. Na chegada, oferecem cafezinho passado na hora, enquanto no caminho é a vez da água de coco fresca para beber sem canudo e se refrescar.
São duas opções de passeio, o mais completo inclui nadar com búfalos e escolhi esse para ver como acontece, mas não me senti confortável vendo o animal sendo puxado pelo nariz e obrigado a me carregar. Adoro observar e estar perto deles, porém, deve ser de forma natural. Portanto, apenas observei os outros visitantes montando na trilha e curtindo o banho com eles. Os búfalos são ótimos nadadores.
Essa é uma fazenda extrativista de frutas onde os búfalos são muito bem cuidados e se adaptaram melhor ao trabalho do que o gado. Eles fazem o transporte de carga e de turistas. Mas só virou atrativo após servir de cenário para produções da Globo, como o reality show “No Limite” e a novela “Amor Eterno Amor”. Foi através dessas experiências que seus proprietários descobriram a verdadeira vocação turística do local.
Todo o trajeto é incrível, com oportunidade de ver aves e diferentes espécies de macacos, além de conhecer um pouco das lendas da região, como os “Mangueiros Apaixonados” e “Mulher Cheirosa”. Nesse passeio, desmistifiquei outra ideia negativa que me acompanhava desde Belém. A quantidade de lixo plástico nas praias não é causada só pelos moradores, a maioria vem dos navios cargueiros estrangeiros que despejam resíduos no Atlântico, então a correnteza leva para as ilhas. Rótulos em idiomas como árabe e chinês são evidências claras do impacto global no meio ambiente local.
Para fazer o passeio, a reserva deve ser feita com antecedência pelo WhatsApp 91 99347.2364.
Como os búfalos foram parar na Ilha de Marajó?
Búfalo é um dos big five do safari africano, temido por ser vingativo e jamais esquecer um rosto, mas sua origem é asiática, chegando nas Américas no século XIX após se adaptar bem em todos os continentes. Enquanto isso… no Marajó (onde há o maior rebanho do Brasil), são usados como cavalaria pela polícia, para transporte de carga ou pessoas e são mansos a ponto de serem animais domésticos em algumas casas. Viraram símbolo da ilha e são essenciais para a economia local também pela produção de derivados do leite, da carne e do couro.
Esses animais chegam a pesar meia tonelada e foram para lá nadando quando um navio encalhou no Atlântico, assim conta a maioria dos locais. Outros dizem serem trazidos pelos jesuítas, percebendo o quanto trabalhavam melhor na região do que o gado. Então, mais animais vieram do Mediterrâneo, África e Ásia, criando uma nova raça adaptada ao clima e contato pacífico com os humanos.
3. Conhecer a cerâmica Marajoara
Muito antes da chegada dos colonizadores europeus, o povo marajoara habitava as ilhas e deixou uma riqueza artística incomparável. As peças de cerâmica Marajoara encontradas em sítios arqueológicos são conhecidas por sua estética única e simbolismo cultural. O legado continua através dos artesãos, criando réplicas e obras contemporâneas inspiradas na arte milenar. O turista pode visitar os ateliês, fazer aulas, observar os artistas trabalhando e encomendar peças que podem ser enviadas para todo o Brasil.
Veja endereços no mapa.
Dica extra! Se faltou tempo de visitar os ateliês ou quer ver peças originais Marajoara, passe no Museu do Forte Presépio, em Belém do Pará.
4. Visitar o Mercado Municipal de Soure
Para comprar produtos regionais, conversar com locais e degustar das comidas típicas, o Mercado é um excelente ponto de partida, inclusive oportunidade de ver búfalos. Aproveite para caminhar pelas ruas ao redor, cheias de mangueiras.
5. Desfrutar dos sabores do Marajó
Quando viajo para a região da Amazônia, prefiro frutas, peixes e crustáceos, mas a gastronomia marajoara pede carne de búfalo e queijo de búfala. Também os caranguejos dos mangues de Soure, com sabor diferenciado pela mistura de águas doces e salgadas, são mais “patoludos” (com mais de dez centímetros) entre agosto e setembro. Experimentei todos no restaurante do Hotel Marajó, que é aberto ao público.
Pergunte pelas frutas da estação, mesmo não tendo conseguido provar a tradicional pupunha, que floresce entre dezembro e abril, me deliciei com refrescantes sucos de taperebá e cupuaçu. Uma boa dica para os visitantes é agendar com antecedência uma visita à Fazenda Mironga, onde é possível acompanhar todo o processo de produção do queijo de búfala, desde a ordenha até o produto final.
Hotel Marajó e a força das mulheres marajoaras
Me hospedei no Hotel Marajó e fui muito bem acolhida viajando sozinha. O hotel foi inaugurado em 1985 como um hobby dos pais da Simone Pereira, que acabou herdando com apenas 20 anos e se dedicou totalmente para transformá-lo em um dos melhores hotéis de Soure. Durante a minha visita, o hotel estava em expansão, com a construção de uma nova ala para atender à crescente demanda de turistas. Sua localização é central, a apenas 800 metros do porto, facilitando o acesso aos principais pontos turísticos da cidade.
A suíte compacta tem banho quente, cama confortável, ar-condicionado, frigobar, televisão e cabideiro. As áreas comuns são agradáveis em ambiente familiar e com oportunidade de conversar com outros hóspedes, como na piscina cercada por redes e vegetação nativa.
O café da manhã é bem servido com variedade de frutas, sucos, pratos doces e salgados. Disponível no mesmo local do restaurante onde adorei o cuidado comigo viajando sozinha, disseram que eu poderia escolher pratos para duas pessoas e eles guardariam para a próxima refeição. Assim foi, esquentaram e me serviram no jantar com o mesmo bom atendimento do almoço.
Empreendedorismo feminino
Simone e outras mulheres empreendedoras da ilha criaram a Rede Viva Marajó para divulgar a diversidade turística e fomentar o destino Marajó, participando de feiras de turismo. Juntas, apoiam umas às outras e empoderam a comunidade local, preferindo contratar funcionárias. Atualmente, fazem parte da rede empresas de hospedagem, artesanato, experiências turísticas e gastronômicas, além de transporte e guiamento.
Um movimento contraditório à circulação desenfreada de informações (muitas falsas ou descontextualizadas) desencorajando o turismo devido à exploração sexual na ilha. Conforme Simone, pode acontecer como em qualquer lugar do mundo, mas lá é um problema das regiões mais isoladas no meio da selva e não nas cidades turísticas como Soure e Salvaterra. Onde o boicote ao turismo acaba por prejudicar essas mulheres empreendedoras. Durante minha estada, caminhei a pé sozinha de dia sem receio, não vi pedintes, mendigos ou abusos. Encontrei um povo simples, simpático e hospitaleiro que me deixou muito à vontade.
Quando ir para a Ilha de Marajó
Durante o verão amazônico, entre julho e dezembro, o volume de chuvas diminuí significativamente. Isso faz o rio Amazonas e seus afluentes perderem força, permitindo que a água do Oceano Atlântico os invada, deixando menos barrenta e mais salobra, além de maior facilidade para observar a fauna e flora nos campos. Embora faça calor o ano inteiro, as chuvas refrescam durante o inverno amazônico, entre janeiro e junho. Como agosto ainda é período de transição, com calor um pouco menos intenso, foi a época escolhida por mim e gostei de aproveitar as praias.
Em julho, acontecem festivais de carimbó e cultura da ilha, que também parece uma época interessante.
Como ir de Belém para a Ilha de Marajó?
Um equívoco na hora de planejar essa viagem é imaginar ser possível atravessar a ilha de uma ponta a outra ou circular por ela com transporte público. A minha primeira ideia era chegar a Macapá por ali, então descobri ser inviável devido à selva e aos lugares isolados. Chegar ao nordeste da ilha é o mais fácil, mas ir dali para os outros municípios, precisa voltar a Belém e pegar outra embarcação menos frequente.
O meio de transporte mais rápido e confortável para chegar a Soure é a lancha rápida partindo do Terminal Hidroviário de Belém Luiz Rebelo Neto. Contudo, é preciso planejamento porque as passagens esgotam rápido, não são vendidas pela internet e os horários são limitados. Compre do Expresso Golfinho no guichê da Master Motors, somente 8h às 14h. Recomendo comprar ida e volta e trocar lá, com antecedência, se quiser ficar mais tempo.
A viagem leva cerca de 3h por águas tranquilas (ao menos em agosto, no período de chuvas pode ser mais conturbado). A embarcação é muito confortável, com ar-condicionado e três fileiras de poltronas estofadas. Tem lanchonete a bordo com poucas opções e preços elevados. Prefira comprar na hidroviária de Belém, já em Soure não tem opções, deve ir nos bares das ruas próximas. Prefira sentar na frente se quiser chegar com agilidade, ali guardam as malas e os passageiros se aglomeram na saída para pegar seus pertences.
Ilha de Marajó mapa
Como se locomover em Soure
Mototáxi é o transporte mais comum, alugar uma bicicleta é o mais econômico e ainda tem opção do táxi, que só utilizei na chegada e na partida por estar com mochila no calor do final da manhã. Não há Uber na Ilha de Marajó e o sinal de internet é ruim. Ao contratar transportes, combine previamente o horário e o ponto de encontro para evitar imprevistos.
Se alugar uma bicicleta, pegue aquelas com roda reforçada para andar na areia fofa e evite pedalar, ou caminhar, no escuro, fora da zona urbana. Afinal, não tem iluminação e estamos na floresta amazônica.
Ilha de Marajó fotos
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