Em 2011, publiquei um artigo reflexivo sobre a minha visita a Uluru, no coração da Austrália. O debate sobre escalar ou não o monólito já dividia opiniões e carrego comigo até hoje. 14 anos depois, retomo o tema com uma nova camada de significado: em 26 de outubro de 2025, Uluru-Kata Tjuta celebra 40 anos de volta às mãos de seus verdadeiros donos, o povo Anangu. Um marco na história da Austrália e divisor de águas para o turismo aborígene.
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Por que subir Uluru foi proibido?
Desde 2019, está oficialmente proibido escalar Uluru. A decisão foi tomada pelo conselho de gestão do parque Uluru-Kata Tjuta, formado por representantes do governo e da comunidade Anangu. Um movimento de anos, que culminou no respeito à espiritualidade local.
Minha experiência: entre a vontade de subir e o peso do respeito
Quando estive no parque, confesso que fiquei com vontade de subir, mas desisti ao tomar conhecimento do efeito negativo causado na cultura local, além dos riscos à minha vida. Na época, escrevi um texto contando os aprendizados.
O que representa Uluru para os Anangu?
Uluru não é apenas uma pedra gigantesca de 348 metros de altura e oito quilômetros de circunferência. É um ponto de conexão espiritual com os ancestrais, um lugar de saberes, rituais e transição para a vida adulta.
Tradicionalmente, os jovens aborígenes passavam pelo “Walkabout”, uma jornada de sobrevivência no deserto, e a escalada final de Uluru simbolizava a passagem à vida adulta. Mas ver turistas subindo por diversão, com tênis e cordas, enquanto seus próprios filhos precisavam abrir mão da tradição, gerou um desequilíbrio irreversível.
Turismo aborígene e impacto ambiental
Além do conflito cultural, existia o impacto físico. Uluru sofre com a erosão causada pelas escaladas e com o lixo deixado no topo, inclusive dejetos humanos. Sem estrutura lá em cima, a chuva espalhava bactérias para poças sagradas usadas por animais.
A solução? Fechar a subida e incentivar as trilhas ao redor, como eu já havia feito e achado incrível.
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O que fazer em Uluru: trilhas e experiências respeitosas aos aborígenes
As trilhas como Base Walk e Kuniya Walk revelam segredos contados em símbolos, desenhos e formações naturais. A maioria são auto-guiadas e acessíveis para cadeirantes, algumas levam a pontos sagrados onde não se deve fotografar.
No Uluru-Kata Tjuta existem diversas caminhadas variando em extensão, grau de dificuldade e acessibilidade. Entre as principais:
Mala Walk (2 km) – trilha curta em torno da base de Uluru.
Kuniya Walk & Mutitjulu Waterhole (1 km) – percurso leve até o poço de água sagrado.
Liru Walk (4 km) – trilha moderada ao redor da rocha.
Lungkata Walk (4 km) – percurso similar ao anterior, mas com diferentes cenários.
Base Walk (10 km) – o circuito completo de volta à base de Uluru que eu fiz.

Valley of the Winds Walk (7 km) – trilha entre as 36 pedras de 500 milhões de anos do Kata Tjuta, onde a maior chega a 546 metros de altura. Essa não tem acessibilidade para cadeirantes.
Walpa Gorge Walk (2,6 km) – percurso moderado até uma passagem onde o vento ecoa pelas paredes vermelhas, criando uma experiência sensorial única. Também não indicada para quem tem dificuldade de mobilidade.

40 anos do handback: o que mudou?
Em 1985, o governo australiano devolveu a posse das terras de Uluru-Kata Tjuta aos Anangu. Eles aceitaram gerenciar o parque em parceria com o governo. A partir daí, um novo modelo de turismo nasceu: centrado na escuta, no respeito e na liderança aborígene.
Funcionou? Não exatamente.
O processo continua e é complexo. Muitos aborígenes não sabem ou não querem lidar com as burocracias do turismo e da administração. O parque rende milhões todos os anos, e os Aṉangu se tornaram ricos, mas o dinheiro nem sempre vem acompanhado de propósito.
A cultura do consumo e a nossa forma de lidar com o “ter” são diferentes da deles. Vi alguns tentando se adaptar ao nosso mundo, enquanto ninguém tenta se adaptar ao deles e isso gerou problemas sociais como alcoolismo.
O lado bom é ver esse modelo de turismo aborígene se expandindo por toda a Austrália. Experiências como SEIT Patji Tour, conduzida por anciões locais, levam visitantes além da rocha, mostrando como vivem, como pensam e como sobrevivem há 65 mil anos nesse solo.
Reflexão final: escalar ou escutar?
Volto à pergunta que me fiz em 2011 e te questiono: Diante de um lugar sagrado, prefere escalar ou escutar? Conte nos comentários.

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