Um tesouro para quem gosta de montanhas, praias e história milenar. A Baía de Kotor é uma pedra preciosa a ser lapidada com calma, paradas e muitos suspiros. A culpa é dos cenários deslumbrantes que fizeram a cidade de Kotor entrar na minha lista das mais lindas do mundo. Mas isso não é tudo e, nesse artigo, deixo algumas paradas e opções de transporte para explorar a região com dois Patrimônios Mundiais da UNESCO.
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O cenário que acolhe: motivos da Baía de Kotor ser tão especial
A Baía de Kotor tem um cantinho mais lindo que o outro e dá vontade de parar a todo momento. Por isso, alugar um carro foi escolha certeira e ainda dá para intercalar com passeios de barco e caminhadas. Mas também é possível utilizar transporte público e contratar tours a preços justos, além de muitas possibilidades de roteiros.
Apenas tenha em mente ser impossível fazer toda em um dia, fiquei três e daria para ter ficado uma semana, no mínimo, explorando povoados que surgem ao longo do caminho. Desde vilarejos de 400 moradores até cidades com ótima infraestrutura e mais de 20 mil habitantes. Escolhemos Kotor como base, mas poderia incluir ao menos uma noite em Herceg-Novi para explorar o outro lado da Baía.
História e geografia de um lugar único
Ao se deparar com o nome Bocas de Cattaro em mapas e sinalizações, não se preocupe em estar perdido, a denominação é herança da época em que os venezianos mandavam por ali. Alguns locais continuam chamando apenas de Boka.
Antes de ser veneziana, otomana, austríaca, francesa ou sérvia (domínios ao longo dos séculos), a região foi um rio. E isso explica o seu formato inesperado e sinuoso. Muitos confundem com um fiorde, e de fato lembra um, mas tecnicamente não é. O que existe ali é um acidente geográfico de 87 km², onde o mar avança 28 km para dentro do continente e se acomoda calmamente entre os picos.

Enquanto percorria as curvas das estradas, parava nos vários mirantes ou navegava pela Boka percebia o belo conjunto de enseadas interligadas e protegidas pelas montanhas que mudam de tom ao longo do dia e conforme a estação (estude a posição do sol e das possíveis sombras antes de sair para fotografar). No final do verão, algumas já exibiam cores alaranjadas anunciando o outono, enquanto outras permaneciam cobertas pela vegetação escura e as mais altas sustentavam aquele cinza-terroso imponente. Todas lindamente refletidas nesse canto do Mar Adriático como se fosse um espelho.

A parte externa da enseada se abre para o mar, contornando a Península de Luštica e passando por Herceg-Novi e Tivat. Logo se estreita no Canal Verige, até a paisagem se abrir novamente para formar a parte interna. Ali, entre os maciços de Orjen e Lovćen, alcançam quase 1900 metros de altura, emocionando quem observa na base ou no topo.
Melhores vistas para a baía
A melhor vista para Kotor tive subindo o Monte Lovćen, já a baía na totalidade foi melhor apreciada com mais emoção e amplitude do coaster, embora possa ver bem também do bar tomando um drink e ouvindo música (no verão). A estrada é sinuosa e perigosa, porém o topo é acessível por teleférico.

Toda essa grandiosidade natural convive com muitas camadas de história. Desde os povos eslavos, os mencionados anteriormente, até os sérvios, deixaram suas marcas. Algumas estão nas muralhas resistentes ao tempo, outras nas igrejas de pedra, nos palácios de famílias e até no ritmo das ruas. É como caminhar por um museu de rochas, literalmente abraçado pela natureza.
O que fazer na Baía de Kotor
Caminhando, de carro ou de barco, é possível montar um roteiro flexível e cheio de descobertas. A seguir, os lugares que considero imperdíveis.
Stari Grad de Kotor
Erguida na parte mais escondida da Baía de Kotor para quem vem pelo mar, está uma fortaleza protegendo um bairro de pedra inteiro encravado na montanha. A Cidade Antiga é muito maior do que parece quando enxergamos somente as muralhas. É um labirinto cheio de becos, ruelas estreitas, detalhes em madeira gasta ou pedras polidas, além das praças repletas de cafés e palácios venezianos surgindo no caminho.
Hoje a Cidade Antiga é bastante comercial para visitar com tempo, de dia para vistas deslumbrantes da Baía de Kotor e de noite para sentir o astral descontraído. Sim, tem que ir mais de uma vez e, se tivesse mais tempo, teria contratado um guia para explicar a história em detalhes.

Passeie pela Cidade Antiga, duplo Patrimônio Mundial da UNESCO (como Natural e histórico-cultural e Obras de defesa venezianas), para descobrir os segredos dessa herança maravilhosa, desde as imponentes torres da Catedral de São Trifão (1166) e os afrescos do século XII na Igreja de São Nicolau (1909) até a arquitetura barroca veneziana da Igreja Franciscana de Santa Clara. Também faça uma parada para ver o Rio Scurda, logo ao lado da muralha principal. A água é transparente a ponto de ver muitos peixes.

Subir até a Fortaleza de Saint John exige preparo físico para cerca de 1400 degraus e sapato que não derrape, mas promete as melhores vistas para esse lado da enseada desde Kotor. Também pode ir até a metade do caminho para alcançar a Igreja de Nossa Senhora da Saúde.





Dobrota
Ainda não entendi se Dobrota é bairro de Kotor ou cidade, de qualquer forma, tem belos cenários como as localidades à beira-mar rodeadas por montanhas. Do alto, onde nos hospedamos, tem a vista panorâmica, na orla uma sequência de píeres, cafés tranquilos e praias urbanas.

Perast encanta

É o menor vilarejo da Baía de Kotor com apenas 400 habitantes, 16 igrejas, muitas datadas do século XII, e 17 palácios venezianos espalhados ao longo de uma única rua que acompanha o mar. Mais um Patrimônio Mundial da UNESCO. O povoado desce abruptamente da estrada principal até uma estreita avenida à beira-mar, onde deve deixar o carro na rodovia ou no estacionamento e seguir a pé. Fica apenas 15 km de Kotor pela estrada ou navegação de 3 horas em barco.
O charme do vilarejo está justamente no ritmo lento, na arquitetura antiga, nas varandas floridas e no barulho da água batendo na pedra. Duas ilhas artificiais em frente abrigam igrejas católicas: Igreja de Nossa Senhora das Pedras e Ilha de São Jorge (era um mosteiro beneditino). A primeira marca o local onde um ícone da Virgem com o Menino foi misteriosamente descoberto em 1452. Diz a lenda que os pescadores foram colocando pedras ao longo dos séculos até formar a ilha.
Quando visitei, era final de tarde de sábado, e vimos alguns casamentos acontecendo por ali. Pessoas arrumadas (algumas terminando de enfeitar o cabelo, pegando flores das árvores), noivos e noivas felizes e mesas decoradas. Realmente, o cenário é feito sob medida para isso.
Herceg-Novi
Já foi a maior cidade da costa de Montenegro, construída na encosta da montanha, é cheia de degraus que evitamos por preferir o mar no dia da visita. Fomos para a zona de Igalo com calçadão cheio de restaurantes, lojas de lembrancinhas e em frente às praias de onde partem os passeios de barco mais curtos para a parte externa da baía.
A região é mais iluminada por não ficar na sombra dos paredões rochosos no final da tarde e isso faz muita diferença nas fotos e impressão do lugar. Anote esse detalhe na ordem do que pretende visitar na Baía de Kotor.

Pode chegar a Herceg-Novi por dois caminhos: dar a volta por toda a Baía de Kotor por 43 km, com vistas lindas a cada curva, ou 31 km pelo ferry, que cruza o estreito perto de Tivat. Recomendo ir por um e voltar pelo outro ou vice-versa.
Península de Luštica
A Península de Luštica é onde a baía encontra o mar aberto. O ponto mais distante fica a 24 km de Kotor, e embora possa ir de carro, optamos por um dos passeios mais famosos de verão na Baía de Kotor: barco até a Blue Cave.
Navegar por ali é como olhar os destinos por outro ângulo e chegar onde a estrada não alcança. Os vilarejos vão ficando pequenos e se encaixando nas encostas, ilhas surgem e vamos curtindo tudo na calmaria do balanço do mar. Entre os atrativos: fortalezas, caverna, prisão, praias e túnel militar lembrando o passado recente e turbulento do território.

Como funciona o tour até a Blue Cave
O passeio de barco que fizemos até a Blue Cave inclui estes atrativos:
Forte Mare
Do mar, vemos as ruínas da cidadela, um forte construído pelos venezianos e destruído por um grande terremoto no século passado.
Bunker de submarino
A parte mais diferente talvez seja o túnel militar escavado na rocha pelo exército iugoslavo. O exterior foi disfarçado com pedras falsas, ficando invisível para satélites ou aviões espiões.

Nosso barco entrou devagar no túnel para mostrar como é, as paredes internas são cheias de velhos grafites e a sensação nos remete aos tempos da Guerra Fria.
Navio naufragado
No meio daquela cor verde espetacular surgem pedaços de ferro e o casco inclinado de um navio naufragado, hoje coberto por vida marinha.

Blue Cave
Chegamos ao ponto alto da excursão, porém, pode não acontecer conforme as condições do mar. Eu mesma só percebi que era a caverna quando chegou bem perto. O barco entra e a cor da água fica de um azul hipnotizante. Em determinados horários, a gruta se ilumina com uma luz perfeita para fotos. Dar um mergulho depende da permissão do capitão. No nosso passeio, podia ficar perto da embarcação, nadei um pouco e ele já gritou, me chamando de volta, alertando sobre o intenso movimento de lanchas, elas surgem do nada e podem nos colocar em risco.

Por ser a atividade mais famosa da costa de Montenegro, é meio muvuca sempre. Portanto, a melhor experiência é visitar fora da temporada altíssima de verão e durante a semana. A temperatura da água estava gelada em setembro, mas suportável, e tínhamos máscaras disponíveis para ver os corais e peixinhos minúsculos.
Ilha Mamula
A construção pequena e circular foi um forte militar transformado em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Após décadas abandonado, foi reformado para ser o atual hotel de luxo: Banyan Tree.

Mosteiro de Žanjica
Em seguida, avistamos um antigo mosteiro ortodoxo que parecia estar desativado. Quando um homem saiu da construção todo vestido de capa marrom para falar com uma família que ancorou o barco ali.

Zanjice Beach
A segunda e mais longa parada foi na praia de pedras com água cristalina e visual lindo para o mar aberto. Muitas opções de restaurantes e caminhadas até a Praia Arza e a fortificação de mesmo nome.
Forte de Arza
Uma cidadela imponente bem na entrada da Baía de Kotor. O Forte de Arza foi construído no século XIX como parte do sistema defensivo de primeira linha durante o domínio austro-húngaro. Ele forma um triângulo estratégico com o Forte Mamula e o Forte Prevlaka, ali perto na Croácia.

Onde e como aproveitar as praias da Baía de Kotor
Aqui é importante ajustar as expectativas para quem está acostumado com praias brasileiras ou caribenhas. A maioria são blocos de cimento colocados na beira da água ou áreas com pedrinhas, com raras exceções tem um pouco de areia colocada como se fosse uma pracinha. Não existem praias de areia “de verdade”. É bonito, mas nem sempre confortável.

Kotor Beach e boa parte da orla de Dobrota seguem esse padrão com escadinhas para entrar no mar e pessoas espremidas, nos dias mais quentes, em zona bem urbana. Embora a água seja maravilhosa, transparente e de um geladinho gostoso para refrescar, não achei tão legal relaxar no cimento com cruzeiros enormes passando na frente. A melhor para mim foi no passeio de barco quando paramos algumas horas em Zanjice Beach. A pior foi em Perast, um muro alto, pessoas ocupando uma prainha minúscula (um metro de cimento) e o mar em frente. Vi de longe e só pensei no calorão que os banhistas deviam estar sentindo.
O meu anfitrião recomendou a Plaža “Pod Murvom” e não fui. Já a amiga Gardênia visitou mais praias e encontrou areia artificial em Morinjska e Plavi Horizonti, ambas um pouco afastadas.
Muito importante é levar sapatilhas aquáticas para não machucar os pés nas pedras. Acertei ao levar um modelo de tênis híbrido, serviu nas trilhas, nos pisos escorregadios das ruas antigas e entrar na água porque é leve e seca rápido.
Onde fica a Baía de Kotor?
Situada no coração dos Balcãs, a Baía de Kotor, ou Bocas de Cattaro, fica no oeste de Montenegro. Um dos países menores e mais novos da Europa, pertencia à antiga Iugoslávia há pouco mais de 30 anos. Use o mapa para encontrar todos os lugares mencionados no texto e fazer as suas próprias rotas.
Como chegar e circular pela Baía de Kotor, Montenegro
Nós viemos da Albânia pelas maravilhosas rodovias costeiras E851 e E65/E80 até Kotor. Também pode vir de Dubrovnik, na Croácia. Veja opções em outras formas de transporte.
De carro:
Para quem aluga um carro, há muitas curvas por todo o país e grande movimento. Mas pode encurtar uns 20 quilômetros se pegar a balsa para atravessar no trecho mais estreito da baía, em Tivat. Fomos e voltamos pelo caminho mais longo e o cenário valeu cada segundo. Sugiro ir por esse caminho e retornar de balsa.
Alugamos um carro compacto na Discovery Cars, site de reserva onde encontramos os melhores preços e não houve contratempo.
De avião:
O aeroporto da região fica em Tivat, podendo chegar também pela capital Podgorica.
De barco:
Existem opções de transporte marítimo, como lanchas rápidas e balsas, partindo de diversos países da Europa. Uma rota de balsa popular é de Bari, na Itália, para Bar, em Montenegro.

De ônibus:
A linha Azul liga Kotor a Herceg-Novi em vários horários por dia e para nas principais localidades. Ou tem um ônibus hop-on hop-off até Perast.
Quando ir
A melhor época para visitar a Baía de Kotor, na minha opinião, é maio, junho e setembro, meses ideais para aproveitar um clima mais quente sem muitos turistas. Mas pode visitar o ano todo, apenas saiba que as montanhas ao redor ficam nevadas e há menos opções de atividades durante o inverno.
Se for na alta temporada de verão (julho e agosto), reserve experiências e hospedagem com antecedência, principalmente na costa.
Dicas finais
Montenegro ainda não faz parte do Espaço Schengen, porém já foi aprovado e a data de entrada deve ser em abril de 2026. Quando as regras de entrada ficarão mais exigentes, como visto ETIAS e seguro viagem obrigatório. Hoje você precisa apenas de passaporte.
Embora ainda não seja um destino super procurado, Kotor sofre com o excesso de visitantes em dias de cruzeiros, algo que impacta nas ruas estreitas, na economia local e na própria preservação do patrimônio. Uma dica que pode mudar a sua experiência é conferir a programação dos navios parando por ali e assim evitar os lugares mais famosos no mesmo momento. O monstro da MSC que passou entre os banhistas curtindo as praias e atracou bem em frente a porta da Cidade Antiga, tirou a visão para as montanhas, estragou as minhas fotos e encheu as ruas de turistas de uma hora para outra.

Internet, idioma e comunicação: o que realmente facilita a viagem
Em Montenegro, a maioria fala sérvio e alguns inglês, mas isso não é problema porque muitos já vêm com o Google Tradutor aberto, apontando o microfone para facilitar a comunicação. Por isso é importante ter dados de internet no celular! Além da tradução, os aplicativos de mapa, câmbio e reservas foram muito úteis. Estava conectada com e-sim Airalo. Mesmo assim, familiarizar-se com o idioma ajudará na compreensão de placas de trânsito, cardápios e eles abrem um sorriso quando percebem o nosso esforço. Já grave o Hvala muito legal de falar e significa obrigada.
Enfim, a Baía de Kotor não é apenas um destino. É uma síntese rara entre geologia dramática e memória humana, talvez isso explique o motivo de permanecer marcante na cabeça de quem visita.

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