Uma montanha, coberta por uma floresta ancestral protegida, divide seu território em dois parques nacionais na Suécia e na Noruega. Fulufjellet e Fullufjället já valeriam pelas paisagens em um passeio de um dia, mas a vivência foi muito além das expectativas ao dormir no topo e ser guiada por dois locais com vasto conhecimento e paixão pelo seu trabalho na natureza. Deixo minhas impressões e 6 boas descobertas.
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Floresta ancestral nos Fulufjellet e Fullufjället National Parks
Acesso rápido: Como foi o tour | Como visitar | Fotos da floresta | 6 surpresas
Velhos caminhos de arenito e a vegetação típica contam histórias como descreveu Sebastian, guia do parque, engenheiro florestal e ativista ambiental, ao comparar árvores quase milenares com a pele torcida e a sabedoria de sua avó. A fala emocionou a todos e imediatamente me remeteu a minha vozinha, parceira de aventuras até os seus 80 anos, que faleceu ano passado aos 96. E este foi apenas o começo de um dia longo e agradável explorando os detalhes da floresta ancestral também na companhia de Peter, o guia e indígena Sami (povo original do norte da Escandinávia e Russia) responsável pelo nosso tour.
Peter e Sebastian se contradiziam em algumas questões ambientais, assim como o nosso eclético grupo proveniente de 8 países em diferentes temas, mas os diálogos sempre geravam discussões interessantes e agregavam conhecimento a todos com muito respeito. Este foi o quarto dia do nosso roteiro e a esta altura (depois do acampamento) já éramos como uma família.
Sebastian nos acompanhou somente um dia e deixou sua marca ao compartilhar seus conhecimentos, profundos e sensíveis, além de estimular nosso pensamento crítico sobre preservação. Durante os dias na Escandinávia, vi de perto como o aquecimento global afeta e transforma a rotina de quem mora próximo aos círculos polares. Não são apenas desastres naturais como sofremos eventualmente nos trópicos e foram numerosas as vezes que o desequilíbrio foi apontado e explicado com tristeza pelos dois guias.
As surpresas de Fullufjället National Park (Suécia)
Deixando os problemas de lado, teve muita cor, risadas, sabores e beleza. Por exemplo, amoras, blackberries, cranberries e outras frutinhas são colhidas do chão direto para boca para repor as energias. Elas se misturam com a grande variedade de cogumelos, líquens, musgos e pinheiros de todas as idades.
Acesso rápido: 1. Uma das árvores mais antigas
2. A cachoeira mais alta
3. As trilhas
4. A vida selvagem
5. O centro de visitantes na natureza
6. O lodge rústico
1. Uma das árvores mais antigas do mundo
Um pinheiro cresce no mesmo local há 9550 anos dizem os panfletos. Já Sebastian afirma ser um clone, pois a árvore nem parece tão retorcida como as de 500 anos encontradas pelo caminho. É o normal novos brotos nascerem de seus próprios troncos e este é rodeado pelas folhas de pinheiro ainda verdes e vivas no chão, portanto, o conjunto teria quase 10 mil anos.
Aprendi a valorizar os pinheiros neste dia, antes desdenhava em função dos péssimos exemplos de utilização no Brasil. Isso porque não estavam em seu habitat e causaram um desequilíbrio enorme. Por outro lado, em seus ambientes de origem são uma ferramenta poderosa na neutralização do carbono tão em voga atualmente. E não é só pelas árvores, é justamente pelo composto do solo nas florestas ancestrais e sua vegetação típica, afirmava Sebastian.
2. A cachoeira mais alta da Suécia
Com 93 metros, sendo 70 de queda livre, Njupeskär é a cachoeira mais alta da Suécia. O mirante tem acesso por uma trilha de 1,5 km e ela própria em 4 km de terreno irregular. Quem sobe a montanha terá outras oportunidades de vista.
Para ver Njupeskär iluminada há duas limitações, ou oportunidades, conforme o seu ponto de vista. Acontece durante poucas semanas no mês de agosto e somente nas primeiras horas do dia (o sol nasce por volta das 3h25 do verão nórdico). Mas é preciso checar a previsão do tempo porque é normal o céu nublado. No inverno, esportistas podem escalar a cachoeira congelada entre os meses de dezembro a março. E na primavera, aves como corvo, francelho e gyrfalcon – o maior falcão do mundo – fazem seus ninhos no penhasco. O clima nos últimos dias de verão (com cara de outono) estava agradável. Porém, pode nevar quando deveria ser calor ou ao contrário independente da época.
3. As trilhas na floresta ancestral
São três trajetos oficiais que podem ser explorados além dos limites das passarelas e sem risco de multa, mas sempre com bom senso. Dois ficam na Noruega: Bergädalen-Slottet (5,6 km) e Brynflået (1,4 km de subida); e Rösjöleden (entre 7 e 20 km) na Suécia, todos de dificuldade moderada a pesada.
Rösjöleden foi o nosso percurso de 11 km no primeiro dia e 3 km na descida da montanha Fullufjället (1044 metros) na manhã seguinte. O motivo da diferença na quilometragem oficial são os seus 3 caminhos ramificados e nossas imersões fora das trilhas demarcadas. Por causa da neve que cobre o terreno boa parte do ano, o chão menos pisado é fofo e gostoso de caminhar. Quando pegamos um tufo de vegetação e esprememos sai muita água do degelo.
Além disso, pontes, passarelas de madeira, caminhos de terra e rochas de 1500 milhões de anos nos levam por lagos, mirantes e diversos pontos com estrutura para fazer um fika (o verbo sueco para descansar, comer e bater papo com outras pessoas). Ao alcançar o platô, a mata fechada dá lugar as rochas mais aparentes e vegetação rasteira com abundância de líquens e berries.
4. A vida selvagem
Embora tenhamos visto apenas pássaros porque os animais fogem a qualquer barulho dos humanos, alce é um tipo de rei que enfrenta os maiores predadores da região: ursos, lobos, wolverines e linces.
O curioso jay siberiano é o pássaro símbolo do parque que não tem medo de pousar na nossa mão para saber quem está no seu território e se traz comida. Humano verificado, ele continua o seu voo com os vários habitantes da mesma espécie.
5. Naturum, o centro de visitantes integrado a natureza
São 5 centros de informações nos dois parques, mas Naturum é o mais bonito e interessante. Exibe um documentário curta-metragem contando a pior tempestade de todos os tempos (no mundo) ocorrida ali há poucos anos e chama atenção para as questões climáticas que a ocasionaram. Corredores com belas fotografias da vida selvagem local nos levam para uma parede de vidro com sofá pensado estrategicamente para contemplação sem sofrer com o clima, quando hostil. Visto do alto da montanha ele combina com a paisagem e serve de referência nas distâncias.
Logo na entrada os pássaros cantam e voam a procura de comida nas casinhas charmosas das árvores. No chão me deparei com um hotel para insetos, o primeiro de vários encontrados na Suécia.
6. Um lodge rústico no alto de Fulufjället
Rösjöstugorna foi a nossa hospedagem rústica e bem quente, afinal protege turistas de -25 graus e 2 metros de neve durante o inverno. Lembrando que caminhar (nossa escolha), escalar ou usar moto de neve são os únicos meios para chegar ao alto de Fulufjället. Abre de março a dezembro e só agora está sendo descoberta por turistas porque o atual administrador fez um site. Há mais de 20 anos é frequentado por pescadores e caçadores da região. Dispõe de cozinha compartilhada (se levar a comida), banheiro na rua com fossa (sem cheiro ruim), luz solar a noite, caiaques e 32 camas entre quartos privativos e compartilhados. Não existe água encanada, é preciso pegar no lago com balde sempre. Busquei para escovar os dentes e lavar a louça. O banho foi de gato na hora da sauna com água esquentada no fogão a lenha acompanhada dos outros hóspedes.
Tome Nota
Nos arredores dos parques há opções com mais conforto no Booking.com, embora eu recomende, pelo menos, uma noite na montanha. Avalie a melhor localização para você no mapa.
Há vários pontos com infraestrutura para preparar refeições durante o passeio e acampar sem banho quente, mas alguns lodges oferecem sauna e banho de lago a qualquer hora do dia. Os dois parques juntos ocupam uma área de 467 km².
As regras e serviços dos parques podem diferir entre os dois países, o consulte o site oficial da Suécia ou da Noruega na hora de planejar o roteiro por conta própria. Sebastian é funcionário no lado sueco e as visitas guiadas com ele devem ser agendadas no Naturum.
Peter e Helena são proprietários da Renbiten, receptivo com objetivo de mostrar de forma autêntica a cultura Sami e a natureza na região Dalarna. Eles organizaram com maestria nosso tour de 6 dias na fronteira entre a Noruega e Suécia.
Roupas de frio são recomendadas e levei as mesmas peças listadas neste artigo sobre Uyuni. Não esqueça do biquíni para a sauna e camiseta dry fit para quando o sol esquenta. Se for no inverno é preciso roupa especial para – 25 graus.
Saiba mais no texto Suécia: dicas aos viajantes.
Veja mais fotos da floresta ancestral:
Fotos de Roberta Martins e Vishwas.
Esta viagem foi a pré aventura do Adventure Travel World Summit à convite de Visit Sweden e ATTA.
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2 Comments
Ótimo trabalho!
Parabéns, Gostei muito!
Tenha uma otima semana! ??
Obrigada Marcos, boa semana pra você também!