Cânion do Xingó é umas das raras intervenções feitas pelo homem na natureza que parece* ter sido para melhor. Talvez porque o objetivo inicial era somente produzir energia e não revelar um novo destino turístico no meio do sertão nordestino.

Com a construção da Hidroelétrica do Xingó (finalizada em 1997), um trecho árido e quase desconhecido do Rio São Francisco se transformou em um santuário. Águas verdes e vegetação típica contrastam com rochas alaranjadas esculpidas pelo vento, ou pelo mar, pois há milhões de anos o oceano chegava até ali.

Curiosidades sobre a Hidroelétrica
A Hidroelétrica do Xingó fornece 30% de toda a energia do Nordeste. Antes da construção, o rio São Francisco não era navegável em alguns pontos porque tinha cerca de 20 metros de fundura e muitas ilhas. Hoje tem em média 150 metros de profundidade podendo chegar perto dos 200 metros.

Cânion do Xingó
Cânion do Xingó na divisa dos Estados de Sergipe e Alagoas

Atualmente, Cânion do Xingó é o quinto maior cânion navegável do mundo e atração desejada por turistas nacionais e internacionais. Localizado entre os Estados de Sergipe e Alagoas, é acessado por lanchas ou catamarãs a partir de cidades nas margens do Rio São Francisco.

* Me refiro a desenvolver o turismo local. Certamente desviar curso de rio, mudar a rotina dos animais e alagar a antiga cidade Canindé de São Francisco trouxe perdas lastimáveis.

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O passeio Cânion do Xingó

Em uma manhã de sábado quente e ensolarada, fiz a jornada de catamarã partindo do Dique II (AL) por 18 km até o Porto de Brogodó. Porto flutuante e base para navegar no Paraíso do Talhado (ponto alto do Cânion do Xingó). Na maior parte da ida, Sergipe estava do lado esquerdo, Alagoas do lado direito e o Rio São Francisco no meio.

Catamarã pelo rio São Francisco
Catamarã pelo rio São Francisco

Ao som de forró das antigas, passamos por formações rochosas como a Pedra do Gavião e a Pedra do Japonês; atravessamos o Lago Justino e visualizamos os paredões de rocha que formam o Cânion do Xingó. Neste momento a música muda para dar aquele ar de grandiosidade e mexer com as emoções dos passageiros. Mas o cenário não precisa de áudio para impressionar e nem deveria ser tão alto durante todo o trajeto. No entanto, o povo parecia gostar e achei ótimo não ser música da moda e sim o normalmente ouvido pelos locais.

Pedra do Gavião
Pedra do Gavião
Pedra do Japonês
Pedra do Japonês

Em seguida teve uma parada para ver de longe a primeira das imagens de São Francisco. São algumas posicionadas em harmonia com a paisagem no meio das pedras e cactos. As vezes é preciso olhar mais de uma vez para encontrá-las e acabaram rendendo boas fotos. Devotos ou não, a verdade é que todos os turistas se sentem literalmente abençoados pelo santo.

Imagem de São Francisco na entrada do Cânion do Xingó
Imagem de São Francisco na entrada do Cânion do Xingó

 

 

Atração principal: Paraíso do Talhado 

Finalmente atracamos no pequeno porto flutuante de Brogodó entre os paredões de granito. É estilo um deck com cadeiras, sombra, macarrão de piscina à vontade e duas áreas para banho delimitadas por cercas, sendo uma para crianças. A maior tem as cercas a 10 metros no fundo e a menor a 1 metro. A profundidade total é cerca de 40 metros neste trecho.

Verde transparente embaixo d'água
Verde transparente embaixo d’água

Me joguei na grande e a temperatura da água foi um alívio sem choques para refrescar do calor sufocante daquele dia. Achei perfeita, apesar de alguns considerarem gelada. A surpresa maior foi a cor, o verde denso é cristalino por baixo e fica mais lindo com os raios do sol sobre a pele. Ali não tem música alta, mas tem a gritaria das pessoas se divertindo e dando saltos na hora do mergulho. Exatamente como acontece em qualquer piscina funda cheia de gente. Só a minha embarcação era para 250 pessoas e estava quase lotada.

Porto de Brogodó
Porto de Brogodó
Alguns arriscam saltos mais elaborados
Alguns arriscam saltos mais elaborados
Impossível não querer se jogar na piscina
Impossível não querer se jogar na piscina

Gruta do Talhado

Ao lado partem barcos menores para navegar pelas fendas do cânion até a Gruta do Talhado. Na verdade, é uma grutinha no final da fenda com uma imagem de São Francisco. Só pode ir um barco por vez e a hora mais concorrida é quando o sol ilumina a estreita parte entre os paredões de 50 metros de altura. O giro é opcional e pago à parte, todavia vale a pena para tirar as melhores fotos e a câmera nem precisa ser à prova d’água porque a navegação é muito tranquila.

Barquinho segue pelas fendas do cânion
Barquinho segue pelas fendas do cânion

Durante o curto percurso, observo o formato das rochas e compreendo o nome dado ao lugar. As pedras parecem esculturas talhadas pelo homem. Contudo, são naturais e perto do meio-dia o cenário fica especial com o reflexo da luz criando movimentos nas paredes. A gritaria ficou para trás, ali é contemplação e sensação de paz que vem com o silêncio. No entanto, é preciso cuidar para não bater a cabeça, nem colocar as mãos nas pedras sem olhar antes, tem aranhas e plantas com espinhos.

Reflexo nas paredes do cânon e a cor da água
Reflexo nas paredes do cânion e a cor da água

Ficamos no Paraíso do Talhado pouco mais de uma hora e logo chamaram para fazer o mesmo caminho de volta. Momento de tirar as fotos restantes ou procurar um lugar na sombra. Afinal, era início da tarde e o sol estava torrando.

Dique II e frente do restaurante Karranca's
Dique II e frente do restaurante Karranca’s

O voo de helicóptero

Preparada para o voo de helicóptero
Preparada para o voo de helicóptero

O local da partida e da chegada, o Dique II, tem ao lado um complexo turístico que oferece aluguel de equipamentos para atividades aquáticas, praia com cadeiras, restaurante e voo de helicóptero. Pode aproveitar a estrutura pela manhã e depois fazer o Cânion do Xingó ou ao contrário como eu fiz. Optei pela Volta de Helicóptero para registrar o Velho Chico do alto. Gostei muito de algumas imagens, porém, o voo foi caro demais pelo curto tempo no ar. Sobrevoou a Hidroelétrica, a cidade de Piranhas e voltou em menos de dez minutos! Pelo menos, fui rápida nos cliques.

Praia no rio São Francisco
Praia no rio São Francisco

Onde dormir

Meu quarto no Xingó Parque Hotel
Meu quarto no Xingó Parque Hotel

O mais prático é se hospedar em Piranhas, de onde partem os barcos e tem mais opções de lazer a noite. Mas estava lotada e a escolha foi na vizinha Canindé de São Francisco (do outro lado do rio) no Xingó Parque Hotel. A estrutura é ótima, o ambiente agradável e a vista é para o Rio São Francisco e a Hidroelétrica. Piscina com bar é destaque para aliviar o calor. Os quartos têm ar-condicionado, televisão e pediram para não abrir a janela por causa dos mosquitos. O café da manhã tropical é variado e cheio de frutas.

Tome Nota Cânion do Xingó

Quando ir: vale a pena o ano todo, mas no inverno o risco de chuva aumenta e a água fica mais gelada. Fui em dezembro com clima perfeito e minha mãe adorou em julho.

Onde fica o Xingó: o Cânion do Xingó fica exatamente na divisa entre os Estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. A hidrelétrica está na divisa dos dois primeiros exatamente em frente ao hotel mencionado acima. 

Como chegar: o aeroporto mais próximo fica a 210 km, em Aracaju (SE), ou 280 km em Maceió (AL). Têm passeios de um dia saindo de Aracaju, contudo, o recomendado é passar uma ou mais noites e fazer outras atividades. Fiz a Rota do Cangaço e aproveitei Piranhas. Quem prefere ir por conta, ônibus partem diariamente da rodoviária de Aracaju ou alugar um carro é uma opção válida para ter mais liberdade e parar nas cidadezinhas. Fui de carro a partir de Aracaju e achei a rodovia SE-206 em bom estado e bem sinalizada até Canindé de São Francisco. Para Piranhas, basta atravessar a ponte seguindo a sinalização.

Como agendar o passeio Cânion do Xingó: pode comprar a excursão no hotel, no restaurante Karranca’s (ao lado do local da partida) ou em agências de turismo. É possível contratar uma lancha e chegar lá mais rápido por um valor maior. Fiz o mais conhecido com duração de 3 horas partindo de Piranhas (AL), cidade histórica nas margens do Rio São Francisco.

O que levar: roupa de banho, trajes leves, chapéu, óculos e protetor solar. Lembre do dinheiro para o passeio de barquinho até a Gruta do Talhado, custou R$5, mas pode ter aumentado.

Serviços no passeio Cânion do Xingó

Espetinho com farofa servido no barco
Espetinho com farofa servido no barco

A estrutura do catamarã: na hora do embarque, o guia chama as pessoas por nome e tudo acontece de forma organizada. A embarcação possui banheiros, serviço de bordo oferecendo bebidas e comidas; e um locutor corta a música de tempos em tempos para explicar curiosidades e mostrar alguns pontos de observação. Os horários de partida começam cedo pela manhã até o início da tarde.

Onde comer: almocei no buffet livre do Karranca’s Restaurante Flutuante e gostei. Tem música ao vivo e a estrutura ao lado do Dique II já mencionada no texto.

Veja mais fotos do Cânion do Xingó

Vista para o Cânion do Xingó de dentro da fenda
Vista para o Cânion do Xingó de dentro da fenda

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Autor Roberta Martins

Comunicadora, idealizadora deste site, fotógrafa e guia de turismo. Há 16 anos relata suas experiências de viagem focando em cultura e aventura. Saiba mais na página da autora. Encontre no Instagram

3 Comments

  1. Roberta, conheci Aracaju há 3 anos e amei mas como ficamos só 4 dias não fomos ao Xingó,que era nosso plano inicial.
    Já vi que temos que voltar pois o lugar é fantástico ! Pousada anotada.

  2. Oswaldo Antonio Hecht Reply

    Gostaria de mais informações : tipos de pacotes,preços como chegar,etc.

    • Boa Tarde Oswaldo, a informação sobre como chegar esta no final do texto (na caixa cinza). Sobre os tipos de pacotes e valores deve se informar direto nas agências de viagens, no texto tem o link para a Top Tur, agência com quem fiz o passeio.

      Não coloco valores e todos os tipos de pacotes porque mudam e fica desatualizado, ainda mais em tempo de inflação. Escrevo apenas o passeio que experimentei.

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